08/Jul/2024
A equipe econômica está confiante de que a reunião financeira do Grupo das 20 maiores economias do mundo (G20), que ocorre dias 25 e 26 de julho no Rio de Janeiro, é a mais propícia para colher avanços concretos nas negociações feitas desde dezembro. Os pontos de destaque são agenda verde e tributação internacional, com ênfase na tributação dos mais ricos. A avaliação de que a próxima reunião financeira será definitiva, e não a de outubro, tem respaldo na análise de que o último encontro desta edição estará poluído pelas discussões em torno da eleição norte-americana. Inclusive, será o último encontro ministerial do grupo em solo doméstico, já que o encontro seguinte está previsto para ocorrer em Washington (EUA). Outubro será um momento muito delicado no palco internacional, então, julho oferece uma oportunidade importante para avanços. Talvez seja o momento em que o clima vai estar melhor desde o início da atual edição. Além disso, neste mês iniciam-se as férias de verão no Hemisfério Norte, com a Europa praticamente paralisada no início de agosto.
Nesse contexto, a expectativa é de que os ânimos estejam menos exaltados e que alguns países enviem ao Brasil vice-ministros de finanças para negociar, o que normalmente torna o debate menos duro. Reino Unido e França são dois países que devem ganhar atenção no encontro do fim do mês, já que passam por "trocas de guarda" de ministérios-chaves e a perspectiva é a de que sejam positivas para o Brasil, que é o anfitrião do evento até dezembro. Na África do Sul, há mudança de governo, mas a expectativa é a de que o comandante da economia local permaneça no posto. O momento será de “areias movediças". A percepção de que haverá avanços na agenda verde se dá por uma congruência de fatores, como o maior apetite mundial por ações relativas ao clima e o destaque do Brasil em questões ligadas ao tema, inclusive com o Plano de Transformação Ecológica tocado pelo Ministério da Fazenda. As finanças sustentáveis ganharam uma preponderância muito grande na trilha financeira, inclusive na reforma de contratos. O aumento de ocorrências de eventos climáticos extremos em todo o globo traz o tom de preocupação geral.
As “águas do G20 vão se cruzar com as águas da COP 30", evento que ocorrerá também no Brasil, em novembro do ano que vem, e a exigência de que haja uma sincronização das pautas por todo o governo. Será o momento para o Brasil mostrar o caminho da agenda climática internacional. O segundo eixo estruturante da reunião é a taxação internacional, com foco especial na tributação dos mais ricos. O objetivo do Brasil é levar o tema o mais perto possível de uma conclusão, ainda que tenda a não ser finalizado na atual edição. Inicialmente, Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos ficaram contra o assunto, na primeira reunião financeira do G20, em dezembro do ano passado. Mas, as discussões ganharam corpo com outros membros do grupo, como França e África do Sul, se tornado "sócios" da pauta. A reunião de julho dará ao ministro Fernando Haddad o mandato político que precisa para continuar as negociações até outubro, com a ambição de chegar o mais longe possível. Os apoios declarados à pauta até aqui mostram que tanto o grupo das sete nações mais ricas do mundo (G7) quanto os Brics estão interessados em discutir a agenda.
Conseguir angariar esses dois blocos foi visto como uma "boa jogada" do Brasil. As discussões devem continuar na próxima edição do G20, que terá a África do Sul como anfitriã. O objetivo é que a taxação não seja lembrada como um assunto que “morreu na praia”, mas como um legado, como um tema que continua sendo debatido, e a percepção é de que o País está perto de atingir esse objetivo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve ter pelo menos duas reuniões bilaterais com contrapartes dos Estados Unidos e da Indonésia durante o encontro financeiro do grupo das 20 maiores economias do mundo (G20). Uma conversa com Sri Mulyani já era esperada para outras ocasiões, mas as agendas não convergiram. Haddad já esteve em outros momentos com norte-americana Janet Yellen, cujo marido, George Akerlof, recebeu em 2001 o Prêmio Nobel de Economia e foi um dos signatários do manifesto em apoio à candidatura de Fernando Haddad à presidência em 2018. Yellen é vista como "a" referência do sistema internacional e a boa relação travada com a secretária do Tesouro norte-americano tem deixado o gabinete de Haddad "feliz".
Sri Mulyani, por sua vez, é tida como uma figura muito respeitada em todo o mundo e o encontro previsto na reunião de ministros das finanças em São Paulo, em abril, foi cancelado porque Haddad estava com Covid. Avaliada como uma das personalidades veteranas do sistema financeiro global, Sri é ministra do país desde 2016 (ela já tinha ocupado o cargo de 2005 a 2010) e é vista como uma pessoa "com quem o ministro tem que se encontrar". Ao largo da figura pessoal, o Brasil também busca uma aproximação com a Indonésia, que estaria numa posição geopolítica semelhante ao Brasil: estão se aproximando dos Brics, se candidataram para fazer parte da OCDE, são produtores de minérios importantes e buscam exportá-los em dimensão industrial, o que também é um objetivo doméstico. Além disso, é território de uma grande floresta tropical. Apesar de estar muito distante de Brasil, é um país com o qual há semelhanças econômicas que fortalecem um alinhamento maior geopolítico. Dentro do Ministério da Fazenda, há quem aposte numa parceria muito interessante para os dois lados nos próximos anos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.