21/Aug/2024
Não é segredo para ninguém do setor rural brasileiro: uma seca tremenda vem afetando duramente a atividade produtiva do campo no Sudeste, no Leste e no Centro-Oeste do País, sem poupar o Matopiba e o Sul. Além da seca, as temperaturas têm sido muito altas, de modo que a elevada evapotranspiração das plantas as deixa ainda mais enfraquecidas. Estas condições se mostram muito claramente nos canaviais ressequidos e que em várias regiões estão morrendo, coisa raríssima. As canas que foram colhidas a partir de setembro do ano passado não se desenvolveram, estão muito pequenas e sem resistência à estiagem tão severa. Provavelmente boa parte desses canaviais nem poderá ser colhida, com evidentes prejuízos aos produtores.
E pior ainda: a brotação das soqueiras está muito fraca, de modo que essa seca terá indiscutíveis reflexos negativos na safra do ano que vem. Menor produção de cana quer dizer menos açúcar e menos etanol. Ruim para produtores e consumidores. Mas não é só na cana. As culturas permanentes estão sofrendo também, como se pode ver nos laranjais, nos cafezais e em todo tipo de frutíferas, com as mesmas consequências: menor produtividade. As nascentes de água perderam volume, de modo que a irrigação, essencial em hortifrutigranjeiros, vem sendo muito balanceada. Pastagens estão secas, afetando o desenvolvimento de animais, sobretudo bovinos.
Em suma, um longo período de escassez de chuvas vem provocando perdas importantes no campo. Incêndios surgem em todos os rincões e, impulsionados por fortes ventos, queimam áreas enormes, com danos ao meio ambiente, uma vez que florestas, cerrados e várzeas ardem duramente, sacrificando reflorestamentos e matas nativas, além de promover a morte da fauna silvestre. Máquinas agrícolas em operação pegam fogo espontaneamente, com o atrito entre suas partes metálicas que geram micro faíscas inocentes em tempos normais, mas que chegam ao solo onde plantas ressequidas funcionam como um combustível natural, sem combate possível.
Tudo muito triste, principalmente com a constatação de que a secura infinita produz poeira quase constante nas zonas rurais e cidades do interior, o que também leva ao aumento de doenças pulmonares e alergias de toda ordem e isso leva à lembrança da necessidade de dois temas fundamentais para a estabilidade da atividade produtiva no campo: o seguro rural e a irrigação. Governos municipais, estaduais e o federal devem se juntar ao setor privado para incentivar esses instrumentos modernos de desenvolvimento integrado. Para quem não se preocupa com esse drama todo, resta um consolo: por onde quer que se ande nesse Brasil sofrido, se encontram ipês amarelos floridos.
No meio da secura infinita, entre milhares de hectares queimados, com bruma seca indesejável, com toda a natureza de luto, o ipê amarelo, nossa árvore nacional, busca a última gota de água do exaurido lençol freático e a transforma nessa exuberante beleza que é um cálice de ouro de pura emoção. Beleza que de alguma forma acalma os corações rurais, porque eles sabem que, por maior que seja a dor da seca, ela vai passar e, no ano que vem, os milhões de ipês amarelos que engalanam o País inteiro, voltarão a florescer, com o mesmo esplendor. Ou seja, mesmo sem querer, quem tem o privilégio de trombar com um exemplar florido na plenitude vai intuir que o sofrimento vai passar, é circunstancial, mas a beleza se renova na eternidade. Fonte: Roberto Rodrigues. Broadcast Agro.