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12/Sep/2024

Desmatamento ameaçando os biomas brasileiros

De acordo com alerta do climatologista Carlos Nobre, referência internacional em estudos sobre aquecimento global, o Pantanal deve acabar até 2070 e a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, terá metade da sua área devastada até essa década se o desmatamento continuar no ritmo atual. Desde 2023, o ritmo de perda de cobertura vegetal tem caído na Amazônia e em outros biomas, após um período de alta, mas o rápido espalhamento do fogo tem exposto as dificuldades do poder público de conter a destruição. Na floresta, por exemplo, os focos de queimadas estão territorialmente mais espalhados do que em anos anteriores. Na semana passada, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou em audiência no Senado que o Pantanal chegaria a um ponto irreversível até o ano de 2100 diante do nível de destruição registrado nos últimos anos. Segundo os pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno em relação ao Pantanal, o diagnóstico é de que o Pantanal será perdido até o fim do século.

Após uma explosão de queimadas em 2020, que deixou um rastro de animais mortos e a vegetação destruída, o Pantanal registrou em junho recorde de focos de incêndio. No primeiro semestre, a Floresta Amazônica também teve o número mais alto de focos de fogo e tem visto rios atingirem os níveis mais baixos da história, com riscos para o transporte fluvial, a pesca e o abastecimento. Para Carlo Nobre, a ministra foi até otimista. Ele acredita que o Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas. A Amazônia, o Cerrado, a Caatinga: todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070. O Pantanal já se reduziu 30% nos últimos 30 anos; está secando. E agora o fogo destrói sua vegetação. Se continuar com emissões altas e só conseguir zerá-las em 2050, o que já é um enorme desafio, o mundo chegará a 2100 com 2,5ºC acima da média. Se isso acontecer, o Pantanal não terá mais lago. Como não há recorrência de raios, a origem do fogo é criminosa. Entre 95% e 97% são causados pelo homem.

Para dar conta disso, a resposta do poder público precisa melhorar: mais brigadistas, mais investigação policial, de forma a desmobilizar o crime organizado, e tecnologia para detectar os focos. O sistema detecta o fogo, mas mesmo que a polícia saia correndo, não conseguirá prender o criminoso, ele já não estará mais lá. Os próprios produtores agrícolas contrários às queimadas terão de se envolver, usar mais drones, tecnologia. A polícia precisa ter mais eficácia em atacar o crime organizado. E o número de brigadistas precisa aumentar. É uma guerra e é preciso começar a combatê-la. Outro reflexo do desequilíbrio ambiental é o avanço da Caatinga por 200 mil quilômetros quadrados do Cerrado. Há uma região no norte da Bahia que já é tão seca que poderá ter, em futuro próximo, clima semidesértico, com precipitações abaixo de 400 milímetros por ano. Para o cientista, que já foi diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a escalada da seca e das queimadas no Brasil neste ano mostra que a crise climática explode em velocidade muito mais rápida do que os pesquisadores vinham prevendo.

No começo de 2022, a ciência previu, muito bem, um El Niño (fenômeno climático ligado ao aumento das temperaturas no Oceano Pacífico, que provoca excesso de chuva e seca em algumas regiões) forte e a temperatura anual poderia ficar 1,3ºC acima da média. De fato, teve um El Niño forte, o terceiro mais forte dos registros, mas o aumento da temperatura chegou a 1,5ºC. No pior cenário, chegaria no aumento de 1,5ºC em 2028. E outra: o El Niño praticamente desapareceu em maio, mas os oceanos continuam quentes, induzindo a seca na Amazônia. Os cientistas tentam explicar por que aumentou mais do que o previsto. As consequências do aquecimento global e do desmatamento são graves não apenas para o ambiente, mas também para os humanos. O calor extremo é responsável por muitas mortes no mundo, muito mais do que as chuvas. Praticamente todo o País está enfrentando ondas de calor. Idosos e crianças menores de cinco anos são muito vulneráveis. São dezenas de milhões de pessoas em risco. Por isso, é preciso que haja uma política de adaptação.

Todas as medidas de adaptação precisam ser muito aceleradas em todo o mundo e no Brasil mais ainda. Há um desafio enorme pela frente. A agricultura brasileira não é preparada para essa seca. O climatologista alerta também para o fato de que estudo recente do Cemaden mostrar que há pelo menos 2 milhões de brasileiros vivendo em áreas de altíssimo risco de deslizamentos e inundações. Eles não podem continuar vivendo nas encostas, precisam ser retirados. Isso demanda um grande investimento de recursos públicos. Com foco em preservar a saúde humana, pode-se citar o exemplo de Barcelona, na Espanha, que desde 2023, quando há ondas de calor, o governo leva a população mais vulnerável para lugares com ar-condicionado, piscina, alimentos e atendimento médico. Essa poluição das queimadas é muito ruim para a saúde, por causa dos particulados em suspensão no ar. Uma adaptação possível é usar máscaras, como na época da Covid-19. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.