24/Sep/2024
Segundo estudo da Markestrat, os Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas do Agronegócio (Fiagro) que investem em direitos creditórios do setor são os que têm maior potencial de crescimento no cenário atual. O patrimônio líquido desses fundos, que era de R$ 3,9 bilhões no fim de 2023, deverá saltar para mais de R$ 6 bilhões até o fim deste ano. A expansão reflete um movimento de qualificação da estratégia que indústrias e revendas de insumos adotam para financiar seus clientes. Essas empresas têm reduzido a oferta de operações direta de barter (troca de insumos por produção futura de grãos) e antecipação de recebíveis e usado os Fiagros como veículo intermediário para financiar seu canal de clientes. Os fundos são uma opção mais segura e com menos exposição ao risco. Antes de a distribuidora de insumos AgroGalaxy pedir recuperação judicial, na semana passada, a consultoria estimava que essa categoria de Fiagro chegaria ao início de 2025 com patrimônio líquido de R$ 7 bilhões.
Mas, como os problemas da varejista afetaram o mercado de Fiagros e geraram insegurança no ambiente dos negócios, a Markestrat passou a não mais considerar uma grande expansão daqui até o fim do ano. A AgroGalaxy tem papéis de dívida vinculados a quatro fundos, e o patrimônio de seu fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) triplicou até julho, chegando a R$ 1 bilhão. O potencial de crescimento no médio e longo prazos é gigantesco. A necessidade de funding do setor agropecuário não vai parar, e esses veículos têm sido usados como instrumento de benefício tributário. Isso porque, além da margem que revendas e indústrias ganham na venda dos seus produtos, a operação financeira também gera lucros. Ao destacar o financiamento via fundo, há um ganho tributário significativo. Grande parte das empresas vão se atentar para isso e usar os fundos como estratégia tributária, além do benefício de funding. Em dezembro passado, os Fiagros-FIDCs representavam apenas 12% do montante total alocado nos fundos do agronegócio.
Somados, os fundos imobiliários, de participações e de direitos creditórios do agro tinham patrimônio líquido somado de R$ 32 bilhões. Mas, eles devem atrair boa parte do interesse de pessoas “comuns” por novos investimentos (antes, a modalidade era aberta apenas investidores “qualificados”) e crescer cerca de 30% nos próximos anos. Atualmente, os aportes ainda são bancados por investidores profissionais, family offices e bancos. A projeção de crescimento dessa modalidade baseia-se, também, na consolidação dos fundos pioneiros e na migração de direitos creditórios para os veículos especializados que já investem no agronegócio, mas em outros fundos, de aproximadamente R$ 12 bilhões. Esses fundos são promissores porque vai haver uma migração natural do dinheiro que já está no agro, via FIDCs não exclusivos, para os Fiagros. Em dezembro de 2023, data-base do estudo, existiam 34 Fiagros-FIDCs e 16 mil investidores. O número já cresceu.
No primeiro trimestre deste ano, havia 41 fundos e R$ 900 milhões a mais de patrimônio líquido, que chegou a R$ 4,9 bilhões. No estudo, a Markestrat mapeou “ameaças” a esse mercado, como a forte concorrência de outras opções de investimentos, a dominância do setor bancário na oferta de crédito rural, os riscos envolvidos e os custos operacionais, que seguem altos. Há também um receio com a regulamentação definitiva que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) promete para os Fiagros. O outro lado da moeda é a oportunidade que os investidores têm de diversificar seus portfólios com apostas nos Fiagros e a flexibilização de garantias nas operações de fundos. Outra característica que indica um “campo aberto” para a expansão dos Fiagros-FIDCs é a concentração de capital nessa modalidade. Cerca de um terço do patrimônio líquido corresponde à carteira de apenas cinco fundos. Existe uma oportunidade de expansão do veículo não somente por causa da atração de investidores e credores, mas também devido à entrada de novos fundos.
Em março de 2024, a agfintech TerraMagna tinha o maior Fiagro-FIDC, o Insumos Milenio, com patrimônio líquido de R$ 633 milhões. A rentabilidade acumulada no primeiro trimestre deste ano foi de 5,4%. O fundo leva crédito para empresas distribuidoras de insumos e para a agroindústria. Na lista dos cinco maiores fundos aparece também o AgroGalaxy Fornecedores, com patrimônio líquido de R$ 497 milhões e rentabilidade acumulada de 5,16% em março deste ano. Na sequência estão o Indigo Fiagro, com patrimônio de R$ 361 milhões e rentabilidade acumulada de 5,51% (a maior entre os fundos listados), e o RCL3X, do Banco Daycoval, com patrimônio líquido de R$ 352 milhões e rentabilidade acumulada de 2,16%. Completa a lista dos cinco maiores o BTG Pactual Crédito Agrícola, cujo patrimônio alcançou R$ 304 milhões, mas a rentabilidade acumulada ficou zerada. Os fundos estão entregando acima de CDI. No Fiagro-FIDC da TerraMagna, a inadimplência foi de apenas 1,85% no primeiro semestre, um número bem menor que a média.
Outro destaque é o rendimento das cotas subordinadas, que atingiu 45,7% de janeiro a julho de 2024, muito acima da média no mercado de investimento. A TerraMagna afirmou que o cenário para os Fiagros é neutro. Embora o aumento da procura por alocações em crédito e a isenção para pessoas físicas sejam bons elementos dos fundos, a conjuntura do mercado, tanto a dos últimos dois anos quanto a da próxima safra, deve manter os incrementos de alocação ainda marginais, na espera de um sinal mais claro de recuperação. A agteceh também estruturou o fundo da AgroGalaxy. A Indigo na América Latina afirmou que a taxa de juros tem influência direta sobre o apetite dos investidores por produtos de renda fixa. As recentes mudanças regulatórias reforçam a atratividade dos fundos. No entanto, a exposição ao risco e o controle de inadimplência são desafios importantes. O agronegócio apresenta ciclos de liquidez e características setoriais que exigem uma gestão de risco criteriosa. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.