03/Oct/2024
Se o Brasil quiser recuperar o selo de bom pagador junto à Moody's, tem um prazo de 12 a 18 meses para fazer a lição de casa, o que inclui melhorias do lado fiscal, em especial a adoção de mais medidas que ajudem a conter o aumento das despesas obrigatórias, e a manutenção de um crescimento resiliente à frente. A afirmação é da vice-presidente da Moody's para risco soberano, Samar Maziad. A Moody's anunciou a melhora da nota de crédito do Brasil, de Ba2 para Ba1, e colocou o País a um passo de retomar o grau de investimento, perdido em 2015. O movimento ocorre cinco mês após a agência ter alterado a perspectiva do rating do País, de estável para positiva, o que foi mantido. A decisão da Moody's também vem após representantes da agência terem se reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em Nova York, nos Estados Unidos, na semana passada.
O que pesou na decisão da Moody's foram "melhorias materiais" no perfil de crédito do Brasil, em especial, um crescimento muito mais forte desde a pandemia. Quando a classificação era Ba2, o cenário econômico e a perspectiva eram muito diferentes para o Brasil. Ao longo do tempo, houve uma melhora na dinâmica de crescimento, que se sustentou por quatro anos. A expectativa da Moody's é de que o Brasil continue apresentando uma melhor dinâmica de crescimento. Com base nas suas projeções, o País deve crescer 2,5% neste ano, taxa que deve desacelerar no próximo. À frente, contudo, a expectativa é de que o Brasil siga crescendo em média 2,5% ao ano. Outro ponto que contou a favor do Brasil para um melhor rating foi "histórico de reformas importantes", da Previdência à Tributária. Isso, por sua vez, também contribui com um maior crescimento do País. Há um grau de previsibilidade política que apoia a atualização da classificação.
No mercado, a decisão da Moody's foi vista por alguns agentes como uma "leitura otimista" da Moody's diante do momento da melhora do rating, com o Brasil tendo de elevar os juros diante de incertezas fiscais. A Moody's tem um cenário base e não espera que o governo cumpra as metas fiscais. A Moody's ainda vê riscos fiscais em relação à adoção do novo arcabouço, mas reconhece que os resultados estão evoluindo. A expectativa é de que a dívida pública brasileira como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) aumente, mas se estabilize em torno de 82% no médio prazo. Há importantes fatores atenuantes para o fardo da dívida do Brasil, como a moeda local, um profundo mercado interno local, e o governo tem importantes amortecedores fiscais. A agência monitora medidas de gasto do governo, mas que, em geral, os riscos estão sob controle e a Moody's não olha somente para um elemento, neste caso o fiscal, mas de forma holística para a nota de crédito do País. Além disso, quando comparado ao Brasil com outros pares, é possível notar uma evolução.
É importante colocar os riscos fiscais do Brasil no contexto dos elementos gerais que fazem parte do seu perfil de crédito. É importante colocar os desafios e os pontos fortes juntos. Apesar disso, foi reiterada a importância de o governo entregar as metas fiscais prometidas e adotar mais medidas definitivas que enderecem o aumento dos gastos obrigatórios para que não precise ficar fazendo ajustes a cada ano. É isso que é realmente necessário para garantir que as metas fiscais sejam cumpridas de forma sustentável e garantir aos mercados que esse é o caminho para o fiscal, o futuro para a trajetória da dívida. Os juros maiores devem elevar o déficit geral do Brasil no próximo ano, e resulta do ambiente de incertezas fiscais no País. Mais credibilidade no fiscal ajuda a reduzir o prêmio de risco e o custo da dívida do governo. É uma combinação de fatores que vai melhorar a resiliência econômica e a credibilidade política. Esses são elementos-chave para mudar a taxa de investimento no País.
O Banco Central do Brasil acredita, a exemplo o que fez a norte-americana Moody's, que as duas principais agências internacionais de classificação de riscos, Fitch e Standard And Poor's (S&P) deverão, pela ordem, melhorar a nota do Brasil, mas parar no degrau inferior ao do grau de investimento. O PIB está crescendo acima do esperado, a arrecadação é crescente, a taxa de desemprego e expectativas estão caindo, há aumento de exportações, além de taxa de câmbio, contas externas e reservas internacionais tranquilas. Por outro lado, existe uma volatilidade no campo fiscal que as agências de classificação de riscos não gostam de ver. E essa volatilidade que desagrada às agências tem relação com o crescimento da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) e a eterna discussão sobre os gastos que vão ficar dentro ou fora do arcabouço fiscal. A Fitch deve ser a próxima a elevar a nota do Brasil, porque já esteve conversando com o governo.
De todo modo, a Fitch e a S&P vão parar no nível abaixo do grau de investimento. Só devem rever depois as suas avaliações quando for resolvida a questão da dívida. O Banco Central tem sinalizado que não será leniente com a inflação. Está promovendo uma transição no comando da instituição suave, além de ter surpreendido pelo lado mais duro da ata do Copom. Há problemas a serem resolvidos, como é o caso das bets (plataformas de apostas online), que estão provocando uma sangria na renda das pessoas e pressões do Congresso por mais gastos. Se tudo isso fosse bem administrado, o Brasil teria chances de ter o investment grade de volta bem rápido. O Brasil será muito beneficiado pela possibilidade de a China voltar a acelerar o crescimento de sua economia e com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) cortando sua taxa de juro. São notícias boas para a balança comercial brasileira e para o bom comportamento do câmbio. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.