10/Oct/2024
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro trouxe poucas surpresas, confirmando as já esperadas pressões nos alimentos e na energia elétrica, além da desaceleração na margem de alguns itens ligados à inflação de serviços, antecipadas pelo IPCA-15 do mês. Apesar da leitura relativamente benigna, porém, a alta de 0,44% no índice em setembro fez o acumulado da inflação em 12 meses atingir 4,42%, já bastante próxima do teto da meta deste ano, de 4,5%, o que reforçou a preocupação de economistas com um eventual novo descumprimento do alvo, que seria o terceiro nos seis anos de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central.
Mais do que a necessidade do Banco Central escrever a carta ao Conselho Monetário Nacional (CMN) explicando o estouro teto, a preocupação é com a inércia que a inflação deste ano deixará para 2025, em um momento em que a autoridade monetária já está pressionada, com expectativas continuamente desancoradas mesmo em um contexto de retomada da alta na Selic. A Porto Asset lembra, por exemplo, que a atual regra de reajuste de salário-mínimo leva em consideração o nível da inflação no ano anterior e que, por isso, um IPCA acima de 4,5% em 2024 configuraria um vetor de sustentação da inflação para o ano que vem, dificultando ainda mais o trabalho do Banco Central, que tem uma tarefa difícil de lidar com uma economia que está com hiato do produto positivo, inflação possivelmente acima da banda superior, e com as expectativas de desinflação desancoradas.
Todos os fatores que sugerem a necessidade de retirar qualquer estímulo monetário para a economia estão presentes. Em relação ao IPCA de setembro, houve acomodação na inflação dos serviços e dos serviços subjacentes na margem, mas o cenário é atribuído quase que totalmente a vetores pontuais, como as deflações em Seguro de veículo (-2,42%) e Cinema, teatro e concertos (-8,75%). O Barclays elevou sua estimativa para o IPCA de 2024 (4,1% para 4,3%) e de 2025 (3,7% para 3,9%). A mudança na bandeira (de verde para vermelha) continuará pesando nas contas de energia elétrica devido aos níveis mais baixos dos reservatórios.
Além disso, os preços dos alimentos continuarão a subir, incorporando aumentos maiores nos preços da carne bovina causadas por eventos climáticos. O possível descumprimento do teto da meta de inflação no ano dependerá do nível da bandeira tarifária em dezembro, da materialização ou não de um corte no preço da gasolina pela Petrobras e da possível intensificação de eventos climáticos adversos até dezembro. Na avaliação da G5 Partners, o IPCA demonstrou que a alimentação no domicílio será uma "dor de cabeça" para o comportamento da inflação até o fim do ano. Após quedas em julho e agosto, a abertura subiu 0,56% em setembro e, agora, acumula alta de 6,27% nos últimos 12 meses.
A G5 projeta IPCA de 4,6% ao final do ano, e o viés para o número ainda é de alta. Chama a atenção a contínua pressão observada no preço da carne bovina nos índices de preços no atacado, o que tende a se reverter em inflação ao consumidor também mais alta. A seca reduz a qualidade das pastagens, reduzindo o peso do gado e, consequentemente, a oferta de carne, que tem um peso relevante no IPCA como um todo. A XP Investimentos destacou que o IPCA de setembro veio relativamente bem-comportado, mas não a ponto de impedir um estouro do teto da meta neste ano. A XP estima inflação de 4,6% em 2024."Os fundamentos econômicos seguem na direção de que não deve haver uma convergência da inflação rumo à meta nos próximos trimestres. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.