24/Oct/2024
No primeiro dia de cúpula, os membros do Brics fecharam em Kazan, na Rússia, a lista de países convidados para a próxima expansão do bloco. Nicarágua e Venezuela chegaram a ser cogitadas, mas foram vetadas pelo Brasil. Nicolás Maduro, chegou na terça-feira (22/10), de surpresa ao encontro e se reunirá com Vladimir Putin, em uma tentativa de reverter a situação, que diplomatas brasileiros acreditam ser quase impossível. Os dois regimes, de Maduro e de Daniel Ortega, vêm intensificando a repressão a opositores e se consolidando cada vez mais no grupo das ditaduras mais cruentas da América Latina, o que vem afastando o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar da proximidade ideológica e estratégica.
O Brics, que originalmente era composto por Brasil, Rússia, Índia e China, incorporou a África do Sul, em 2011. A nova estratégia de expansão é liderada pela China e Rússia. A China tenta transformar o bloco em uma aliança ‘antiocidental’, no contexto de sua disputa com os Estados Unidos. A Rússia, por sua vez, busca reverter sua imagem de pária internacional e escapar do cerco norte-americano e europeu, após a invasão da Ucrânia, em 2022. No ano passado, o Brics aprovou a entrada de quatro novos membros: Irã, Etiópia, Egito e Emirados Árabes. Argentina e Arábia Saudita também foram convidadas. A Argentina recusou e a Arábia Saudita ainda não decidiu.
A expansão, que parece inevitável, dilui naturalmente o poder de Brasil e Índia, membros-fundadores. E a inclusão de autocracias e ditaduras deixa o Brasil ainda mais isolados, como uma das poucas democracias do bloco. A inclusão de novos membros indica que o Brics é cada vez mais comandado pelas duas maiores potências do bloco: Rússia e China, que apostam na expansão. As decisões até agora, porém, incluindo a ampliação, foram tomadas por consenso. No entanto, quanto mais países, mais difícil se torna a unanimidade. Declarações de membros do governo brasileiro mostram um incômodo do Brasil com a expansão sem freio do Brics.
Mesmo com a inquietação do Brasil, a ideia de uma nova expansão parece atropelar a cautela. Na cúpula de Kazan, Cuba e Bolívia foram convidadas a aderir ao Brics. Fecham a lista de possíveis membros Indonésia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Nigéria, Uganda, Turquia e Belarus. Em contrapartida, diplomatas brasileiros conseguiram incluir nas negociações uma menção à reforma do Conselho de Segurança da ONU, velha bandeira do Itamaraty e da diplomacia indiana. A lista de novos membros foi fechada pelos negociadores, diplomatas e ministros de Estado, e será levada para aval dos líderes. A Rússia sondou sobre a possibilidade de adesão de 33 países.
A delegação brasileira barrou as pretensões da Nicarágua e da Venezuela, seguindo instruções diretas do presidente Lula. Outros países também foram vetados, como o Paquistão, rival histórico da Índia. Ortega vem se afastando de Lula desde que o brasileiro tentou interceder pela libertação de religiosos católicos presos pelo regime. O embaixador brasileiro foi expulso de Manágua em agosto. Com relação ao chavismo, até agora Maduro não apresentou as atas da votação que provariam a lisura de sua reeleição, em julho. Recentemente, aliados do ditador venezuelano chegaram a dizer que o presidente brasileiro seria um agente da CIA. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.