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28/Oct/2024

Entrevista com Luciana Ribeiro - gestora eB Capital

As garantias para atrair capital privado na transição para uma economia de baixo carbono precisam aumentar. Isso implica elevar a efetividade do uso de recursos dos bancos multilaterais e de desenvolvimento, revisar padrões do sistema financeiro e ter os setores público e político comprometidos com um cenário de estabilidade. Esta é a avaliação de Luciana Ribeiro, sócia-fundadora da gestora eB Capital e líder da força-tarefa do B20.

O que chamou sua atenção ao longo desse trabalho na força-tarefa específica do B-20?

Luciana Ribeiro: Percebi que existe uma percepção global sobre a necessidade de mobilização de capital privado para a temática de transição climática. Quando a gente fala de transição climática do ponto de vista global, estima-se que serão necessários algo em torno de US$ 150 trilhões (R$ 846 trilhões) ao longo das próximas três décadas para viabilizar essa transição. E 80% desse capital será privado. O discurso hoje tem sido de financiamento climático e o financiamento parte do pressuposto de não retorno financeiro. Começamos a ver uma mudança de discurso, de financiamento para investimento. Porque há diferentes setores nesse ambiente de transição climática que são excelentes oportunidades de negócio e passíveis de retornos financeiros muito interessantes. Então, você vê hoje os grandes gestores de recursos olhando para as temáticas climáticas com interesse. Mas também vemos que, em relação a algumas situações, seja de países em desenvolvimento, seja algumas novas tecnologias, onde existem riscos que são adicionais aos riscos tradicionais do projeto, o setor público vai ter de atuar de forma a reduzir os riscos.

Como vê a América Latina e o Brasil em termos de capacidade de atração desses recursos?

Luciana Ribeiro: Poucas regiões têm tanto a agregar quanto a América Latina. A gente tem a questão da Amazônia, e a floresta é um elemento central. Mas não quero me reduzir à questão da Amazônia. O Brasil teve 90% da sua produção elétrica vinda de (fontes) renováveis, é o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo. Quando falamos de minérios críticos, por exemplo, não só o Brasil é muito forte, mas o Chile tem uma relevância muito grande, a Argentina também. Os países da América do Sul poderiam ser provedores de produtos com energia limpa. Nós estamos ainda numa fase muito inicial do hidrogênio, mas, quando a gente olha países que podem ter hidrogênio a custo baixo, independentemente de subsídios, o Brasil certamente é um deles. Mas, por conta das divisões políticas, por conta talvez até de uma ausência de posicionamento do Brasil em mesas de negociação, em mesas em que o capital privado esteja presente, nos parece que o Brasil fica um pouco isolado e a América Latina fica um pouco isolada da discussão.

Uma das prioridades do governo na discussão com os ministros de finanças durante os encontros do G-20 é com relação à taxação dos muito ricos. Isso fez parte das discussões da força-tarefa?

Luciana Ribeiro: Não fez parte. Houve um consenso, na nossa força-tarefa, de que, a partir do clima, nós podemos ter uma nova evolução dos países. Existe, hoje, países que se basearam muito nas energias poluentes e nós estamos vivendo um momento muito crítico. O tema do clima virou uma grande guerra comercial.

Fonte: Broadcast Agro.