29/Oct/2024
Na Amazônia profunda, existe um santuário de árvores gigantes que tem intrigado cientistas. Fica no norte do Pará, na Floresta Estadual do Paru, aonde só se chega de barco, após oito dias de viagem pelo Rio Jari. Pela importância desse ecossistema na mitigação da crise climática, o local acaba de ser transformado em unidade de preservação, o Parque Estadual das Árvores Gigantes. Entre seus 560 mil hectares, encontra-se o maior exemplar já identificado no Brasil e um dos dez maiores do mundo: um angelim-vermelho (Dinizia excelsa) de 88,5 m de altura, quase 10 m de circunferência e 400 anos de vida. O status de parque passa a considerar o santuário uma área de proteção integral, onde só são permitidas pesquisas científicas, atividades de educação ambiental e turismo ecológico.
A categoria “floresta estadual”, em vigor até o mês passado, permitia o uso sustentável da região. A iniciativa é liderada pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), do governo do Pará, e conta com as parcerias do Instituto Federal do Amapá (IFAP), Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e financiamento do Andes Amazon Fund (AAF). A copa dessas árvores gigantes tem um ecossistema próprio, uma biota ainda pouco conhecida. O solo onde elas crescem também é especial, algo que faz com que elas alcancem esses tamanhos. A FAS está incentivando pesquisas para entender melhor isso. Se, por exemplo, descobrir que há uma concentração específica de nutrientes no solo que favorece o crescimento dessas árvores, esse conhecimento poderia ser aplicado na agricultura ou no reflorestamento, o que seria um grande avanço.
As proximidades do parque são ocupadas por povos tradicionais há mais de 150 anos. Essas comunidades se sustentam com pesca, agricultura de subsistência e produção de farinha. Além do angelim, há outras 14 espécies gigantes na região. Há relatos de moradores sobre a existência de árvores ainda maiores. A área é extensa e ainda não foram mapeadas todas as árvores gigantes por falta de recursos. A tecnologia de satélite poderia ajudar no mapeamento, mas o custo é alto. A ideia é buscar parcerias para, futuramente, mapear a reserva e mostrar que o Brasil tem as maiores árvores da América Latina. Os envolvidos no projeto estudam a possibilidade de desenvolver áreas fora do parque para o turismo de natureza de baixo impacto.
A proposta é oferecer trilhas e experiências que permitam aos visitantes conhecerem, por exemplo, os angelins gigantes. É algo semelhante ao que ocorre na Chapada dos Veadeiros, que tem uma longa trajetória nesse tipo de turismo. Uma vez criado o parque, o próximo passo será a implementação efetiva da unidade de conservação. O Ideflor-Bio explica que uma equipe está elaborando o plano de manejo e estruturando o conselho gestor. O grupo também inicia discussões sobre a infraestrutura necessária para receber os turistas. É uma área isolada, distante e de difícil acesso. Será preciso implantar um heliponto, permitindo que as pessoas cheguem de helicóptero e, posteriormente, evoluir para um campo de pouso para pequenas aeronaves, além de uma infraestrutura básica de recepção.
O projeto conta com o apoio financeiro do Andes Amazon Fund (AAF), que atua no financiamento de planos federais e estaduais de proteção de patrimônio natural. O AAF destaca que o Parque Estadual das Árvores Gigantes é importante pelo seu valor de biodiversidade. É também uma área crítica nestes tempos de chuvas extremas, secas e eventos climáticos. O parque abre caminho para a próxima COP30, que será em Belém (PA). Por meio de parceria com o governo do Pará, Ideflor-Bio e FAS, a AAF forneceu fundos para avançar nos planos de proteção da área. O papel do AAF é o de financiador e, até certo ponto, de aconselhamento, com base na experiência nos processos relacionados com áreas protegidas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.