05/Nov/2024
Um dos pontos cruciais que afastam, especialmente os jovens, das profissões consideradas em estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) como indesejadas pelos trabalhadores é o baixo emprego de tecnologia. Um exemplo está no ofício de costureira. Apesar de usar máquinas, a tecnologia embarcada nos equipamentos é baixa em geral quando comparada a outras ocupações. A função de costureira aparece duas vezes no ranking das profissões indesejadas, tanto na categoria de profissionais que trabalham com máquinas de confecção em série como em máquinas de acabamento (overlock). Nos últimos cinco anos, o saldo de postos de trabalho para costureiras nessas duas funções foi negativo em 18,3 mil, número próximo ao dos motoristas de ônibus urbano (-20,2 mil), apesar dos ganhos salariais superiores a 30% no período.
No Grupo Betilha, confecção de roupa feminina, que fabrica itens de vestuário de marca própria para Renner, C&A, Grupo Soma e Marisa, uma estratégia foi investir mais de R$ 1 milhão em máquinas de costura importadas da China, com telas touch screen. O objetivo é ter máquinas modernas também para atrair os trabalhadores mais jovens. Mas, a empresa não tem tido êxito. Há mais de seis meses a empresa está com 40 vagas de costureira à espera de candidatas. Nas suas contas, a falta de mão de obra corresponde a cerca de 70 máquinas de costura paradas, que poderiam ampliar entre 20% e 30% a produção. Pela primeira vez, em 42 anos de operação, a confecção não vai conseguir admitir as 40 costureiras que pretendia para a produção de fim de ano. Normalmente, esses trabalhadores temporários acabam se tornando fixos, como ocorreu na virada de 2023 para 2024. A confecção tem hoje 250 funcionários, a maioria mulheres acima de 40 anos.
Para atrair mão de obra, o empresário tem oferecido piso salarial para 44 horas semanais de R$ 2.050,00 acima da concorrência, além de R$ 300,00 em benefícios. Por ora, a saída tem sido contratar estrangeiros. Os brasileiros são raros. Parte das profissões que constam na lista de ocupações indesejadas pelos trabalhadores remete a uma demanda de serviços por parte das empresas ao período pré-pandemia. É como se tivesse surgido uma nova economia depois da pandemia e, em muitas dessas profissões, houve queda da empregabilidade por conta de avanços de tecnologia, principalmente. Outras profissões que aparecem nesse ranking, como telefonista, escrevente, técnico de secretariado, por exemplo, além da remuneração baixa, já estavam condenadas à extinção por obsolescência antes mesmo da crise sanitária. Um ditado conhecido no meio da panificação diz que padaria só fecha quando o dono morre.
É exatamente o fato de a padaria permanecer aberta todos os dias da semana, sem domingos ou feriados, que a profissão de padeiro tem se tornado preterida por boa parte dos trabalhadores, sobretudo os jovens. Segundo o estudo da CNC, nos últimos cinco anos, as profissões de padeiro e confeiteiro acumularam saldo negativo de 10,5 mil vagas, mesmo com aumento do salário inicial na faixa de 35%. Segundo o Sindicato dos Padeiros de São Paulo, boa parte das padarias do centro de São Paulo é 24 horas e os trabalhadores mais jovens não querem se submeter a isso. Segundo a Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip), o jovem reclama do trabalho aos domingos e a concorrência é a construção civil, que tem atraído esses profissionais. Em maio do ano passado, por exemplo, havia 140 mil vagas em aberto, sendo 49 mil para funções de padeiro, nas 87 mil padarias espalhadas pelo País. Esse cenário tem tido poucas alterações. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.