ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

08/Nov/2024

Impacto da vitória de Donald Trump no Agro brasileiro

A eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos eleva a possibilidade de o mundo caminhar para uma “espiral protecionista” e de intensificação do modelo de relações bilaterais. Sua vitória pode gerar desafios ao posicionamento do agronegócio brasileiro no mundo. No primeiro mandato do republicano, a guerra comercial travada contra a China acabou favorecendo as exportações de produtos agropecuários do Brasil ao país asiático, já que os importadores chineses tiveram que recorrer à oferta brasileira. Porém, o espaço para que esse efeito se repita agora é limitado. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o Brasil já está exportando 37% de seus produtos para a China. Se houver algum aumento das exportações agrícolas à China, vai ser marginal, porque outros países também vão se beneficiar. Assim, o efeito sobre a exportação agrícola brasileira não vai ser muito grande.

Durante o primeiro governo de Donald Trump, de 2017 a 2021, as exportações brasileiras do agronegócio passaram a crescer 20% ao ano, cobrindo o vácuo deixado pela redução das exportações norte-americanas, bloqueadas pela resposta da China às tarifas aos produtos chineses. O Insper Agro Global ressaltou que o Brasil exporta hoje mais produtos à China do que os Estados Unidos, com receitas de exportação ao país asiático de US$ 63 bilhões ao ano, contra US$ 35 bilhões ao ano em produtos norte-americanos à China. O Brasil substituo os Estados Unidos em soja, milho, carnes e outros produtos. Se Donald Trump cumprir com sua promessa de voltar a aumentar tarifas sobre produtos chineses, isso vai gerar ao Brasil mercados adicionais aos que já tem na China, mas também haverá perdas. O País pode perder mercados em outros lugares, porque o comércio internacional é feito de vasos comunicantes. Se os Estados Unidos não venderem para a China, vão continuar vendendo para outros mercados.

A maior ameaça representada por Donald Trump é de uma “espiral de protecionismo de tarifas e de uma política industrial protecionista”. Isso é uma volta para um passado mercantilista e mais voltado para as relações bilaterais do que multilaterais. E a espiral protecionista é ruim para todo mundo. O retorno de Trump reforça a uma reorganização geopolítica não só multipolar, mas do “friendshoring”: que prioriza relações bilaterais baseadas em compartilhamento de valores e visões de mundo, no lugar do pragmatismo comercial. Há um aumento dos questionamentos por parte dos norte-americanos sobre as relações que outros países mantêm com a China. O friendshoring vai pegar fortemente, e traz para o Brasil o desafio de conversar com os dois lados. O agronegócio brasileiro hoje é composto por muitas empresas norte-americanas e europeias nos ramos de agroindústria, insumos e trading, ao passo em que a China é o principal cliente do País. É preciso manter uma equidistância prudente.

Ainda no campo geopolítico, a promessa de Trump de parar de apoiar a Ucrânia na guerra conta a Rússia pode ter impactos limitados ao Brasil. Se houver paz, vai normalizar as exportações do agronegócio da Rússia, e o Brasil é o grande importador de petróleo, gás natural, diesel e trigo da Rússia. Então, esse comércio deve ficar mais fácil. Porém, o republicano pode não cortar apoio à Ucrânia imediatamente. O novo mandato de Trump também terá efeitos macroeconômicos que podem impactar negativamente o Brasil. Se o Trump cumprir com o que prometeu de aumentar tarifas de importação, isso vai ser um problema para todo o mundo, porque vai aumentar a inflação nos Estados Unidos, vai aumentar a taxa de juros nos Estados Unidos por causa do déficit público, e isso vai ter repercussão sobre a política econômica no Brasil.

O dólar vai subir, as taxas de juros no Brasil vão ter que subir, vai ter impacto na inflação. Outro aspecto de uma administração Trump que deve afetar o agronegócio brasileiro é sua posição negacionista sobre as mudanças climáticas e de priorização dos combustíveis fósseis em detrimento do apoio à transição energética, que vinham abrindo espaço para a agenda de biocombustíveis e soluções baseadas na natureza que o Brasil poderia aproveitar. Essa agenda agora se enfraquece. Os Estados Unidos pararão de priorizar políticas relacionadas à mudança do clima em escala global. Trump também deverá se ausentar da COP30, que será sediada no ano que vem no Brasil. A questão comercial, de meio ambiente e de energia são, do ponto de vista econômico, os efeitos mais negativos para o Brasil. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.