13/Nov/2024
Agricultores dos Estados Unidos estão cautelosos, aguardando o presidente eleito Donald Trump assumir o cargo em janeiro para ver quais políticas sobre comércio, tarifas, financiamento e energia serão implementadas durante seu mandato. Enquanto aguardam, especialistas e analistas expressam preocupação com assuntos como possíveis guerras comerciais e seguro agrícola. A China é o maior comprador de produtos agrícolas dos Estados Unidos, o que torna as propostas de Donald Trump de instituir novas tarifas sobre produtos chineses a maior incógnita. Os produtores de grãos têm más lembranças da última guerra comercial. Se uma guerra comercial semelhante ocorrer, com a China redirecionando suas compras de commodities agrícolas para outros grandes fornecedores como o Brasil, o mercado teme danos econômicos significativos.
A primeira disputa comercial entre os Estados Unidos e a China, em 2018, resultou em perdas de mais de US$ 27 bilhões para as exportações agrícolas dos Estados Unidos, segundo um relatório divulgado em outubro pela Associação Nacional dos Produtores de Milho e pela Associação Americana da Soja. No entanto, uma segunda guerra comercial pode não ser prolongada. A China está em uma situação financeira muito mais frágil do que na primeira vez, então pode estar mais disposta a negociar. Ainda não se sabe quando Trump poderá iniciar a implementação de novas tarifas. Segundo a StoneX, as tarifas devem ser utilizadas nos primeiros 100 dias de seu segundo mandato, provavelmente mais cedo do que tarde. Internamente, o que preocupa muitos agricultores e traders é como a nova administração, juntamente com um Congresso republicano previsto, lidará com a lei agrícola norte-americana, conhecida como Farm Bill.
A Farm Bill é uma legislação abrangente com mais de 100 anos, geralmente revisada e aprovada pelo Congresso a cada cinco ou seis anos. Ela inclui uma série de programas que beneficiam agricultores, como termos para seguro agrícola. No entanto, nenhuma nova Farm Bill foi aprovada desde 2018, com o Congresso em um impasse. A legislação expirou em 30 de setembro deste ano, após uma extensão de um ano assinada pelo presidente Joe Biden no ano passado, sem que um novo projeto de lei fosse implementado. Como resultado, os agricultores estão com termos desatualizados para seguro agrícola, enquanto os preços de grãos se mantêm no menor nível em vários anos. Apesar das preocupações relacionadas a possíveis novas tarifas, também há expectativa de que uma nova administração Trump possa ser mais benéfica para a crescente indústria de biocombustíveis.
No ano passado, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos divulgou novas regras para reduzir em 7 bilhões de toneladas as emissões de dióxido de carbono de novos carros até 2032. Para atingir essa meta, o governo Biden impulsionou regras favoráveis a veículos elétricos, com menos atenção aos biocombustíveis como solução. O setor agrícola espera que a oposição declarada de Donald Trump aos veículos elétricos leve a mudanças nas regulamentações que direcionem mais investimentos para o crescimento do uso de biocombustíveis, como o etanol de milho e o biodiesel, comumente feito com óleos vegetais como o óleo de soja. No entanto, há questões em aberto que complicam uma simples transição dos veículos elétricos para os biocombustíveis. Uma delas é o papel do magnata da Tesla e SpaceX, Elon Musk, em um futuro governo Trump. A expectativa é de que a presença de Musk possa limitar a disposição do governo de se afastar dos veículos elétricos.
Também não se sabe se as importações norte-americanas de óleo usado de cozinha da China serão afetadas por tarifas. Isso pode exigir que a produção de óleo de soja e outros óleos vegetais nos Estados Unidos aumente significativamente. Fabricantes de biocombustíveis atualmente recorrem à importação de óleo vegetal e gordura animal para sustentar a produção. Em um relatório de junho, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou que a capacidade de produção de diesel renovável em 2025 será mais que o dobro de 2022, para quase 23 bilhões de litros por ano. No entanto, a taxa de crescimento da produção dependerá muito das políticas federais e estaduais, da disponibilidade de matéria-prima e do crescimento sustentado das exportações de farelo de soja dos Estados Unidos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.