13/Nov/2024
As instituições governamentais que operam as redes meteorológicas e hidrometeorológicas do País expuseram preocupação com a contínua redução de recursos e capacidades dedicadas a essas atividades em momento de intensificação das mudanças climáticas. Em carta aberta, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Ana) a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) disseram que, enquanto o Brasil é afetado por eventos hidroclimáticos extremos mais intensos e mais frequentes, a alocação insuficiente de recursos para manutenção, qualificação e ampliação das redes de monitoramento representa um risco ainda maior e um grave descompasso entre a relevância política demonstrada pelo de governo às questões de mudança climática e seus impactos.
O pedido de atenção para a estrutura e orçamento para essa área ocorre em momento de intensificação das discussões sobre corte de gastos no Poder Executivo e no afunilamento de prazo para definição da lei orçamentária de 2025, que precisa ser votada até o fim do próximo mês. O esvaziamento da capacidade nacional de monitorar adequadamente o clima e a água vai contra os compromissos internacionais assumidos pelo País no que se refere à adaptação à mudança do clima e ao desenvolvimento sustentável, e aumenta a vulnerabilidade das cidades, da agricultura e dos sistemas produtivos, diz carta divulgada nesta terça-feira (12/11). No documento, os órgãos afirmam que há muitos anos os serviços de monitoramento do clima e dos recursos hídricos sofrem com a redução de orçamento, contingenciamento e falta de pessoal, o que compromete a produção de dados e a formação de séries históricas.
De acordo com o texto, o Inmet, vinculado ao Ministério da Agricultura, e a Ana administram cerca de 6 mil estações hidrometeorológicas em todo o País, várias com mais de 100 anos de funcionamento e que correm o risco de serem desativadas já no próximo ano, pela falta de recursos para custeio das redes. A carta diz que o número de estações é insuficiente e que, nos últimos cinco anos, o orçamento disponível para a operação das redes de observação tem sido reduzido. Não apenas não cobre as perdas pela inflação, mas também o reduz em valor absoluto, o que limita mais drasticamente a produção de dados e o investimento necessário para a manutenção e modernização de equipamentos e sistemas, denuncia o texto. Perder os registros de eventos de secas e cheias, por exemplo, impede o entendimento dos fenômenos extremos em curto, médio e longo prazo e compromete o desenvolvimento econômico e a segurança hídrica, alimentar, energética e das pessoas, acrescenta a carta.
O texto ressalta que, para a agricultura e pecuária, as redes meteorológicas e hidrometeorológicas fornecem as informações que permitem o adequado planejamento dos cultivos, dão os elementos para os modelos numéricos de previsão do tempo, incluindo geadas e níveis de precipitação que afetam as culturas, bem como o monitoramento dos períodos de seca e seus efeitos econômicos para fins de financiamento de safras, seguros agrícolas, entre outros. A carta destaca ainda o impacto do trabalho para a indústria, as pessoas e propriedades, a saúde pública, a geração de energia elétrica, a logística e o saneamento básico. Somente a partir do monitoramento das variáveis medidas por essas redes ao longo do tempo é possível avaliar a mudança do clima em curso, o que é fundamental para o estabelecimento de iniciativas de adaptação e mitigação, bem como no auxílio a gestores públicos e privados em tomadas de decisões em um mundo em transformação, completa a carta. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.