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14/Nov/2024

Entrevista com Rafael Lucchesi – diretoria da CNI

Ser pragmático antes de tudo. Pensar nos seus interesses para que as janelas de oportunidade não sejam desperdiçadas mesmo com mudanças no comércio global que o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve impor. Essa é a receita que o Brasil precisa abraçar, segundo Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (Sesi). Segue a entrevista.

Na sua fala, o sr. pareceu otimista. A eleição do presidente Trump pode ser positiva, no sentido de abrir janelas de oportunidades para o Brasil?

Rafael Lucchesi: A eleição de Donald Trump pode trazer mudanças significativas na agenda global, já que ele anunciou uma desaceleração no compromisso da principal economia do mundo com a transição verde. Como integrante da sociedade global, vejo isso como um ponto negativo. No entanto, isso também poderá abrir oportunidades para o Brasil, especialmente devido ao aumento do protecionismo e ao desacoplamento entre Estados Unidos e China. Tarifas de 10% serão aplicadas ao mundo, enquanto para a China serão de 60%. Esses movimentos já estavam ocorrendo em setores como o automotivo e o aço, mas seu impacto será reforçado, trazendo maiores oportunidades para o Brasil desenvolver uma política industrial ativa que avance na transição verde. Por meio dessas oportunidades, o Brasil poderá se inserir em cadeias globais de valor antes abastecidas por produtos chineses, da mesma forma que México e outros países. Além disso, o aumento dos custos da matriz energética europeia abre outras possibilidades que o Brasil deve observar com atenção. Assim, o País precisa estabelecer uma integração pragmática com os interesses da China, mantendo o foco nos interesses nacionais, especialmente diante da postura americana de “American First” (Americanos Primeiro, em tradução literal). Com isso, o Brasil deve seguir uma agenda pragmática que amplie o desenvolvimento econômico sustentável. O Brasil tem de pensar no Brasil primeiro.

Mas, quando o tema recai sobre a questão ambiental, o Brasil tem bons argumentos para colocar sobre a mesa de negociação internacional?

Rafael Lucchesi: O Brasil pode se destacar em temas como transição energética, transformação ecológica e descarbonização produtiva, atraindo investimentos e aproveitando uma matriz energética limpa e uma estrutura industrial sofisticada. O Brasil tem o potencial de se tornar uma potência na agenda de energia verde, com um papel semelhante ao que a Arábia Saudita desempenhou na era dos combustíveis fósseis, mas não apenas como exportador de commodities. Podemos desenvolver uma agenda mais sofisticada de atração de investimentos estrangeiros, seguindo o exemplo da China e expandindo nossa plataforma de manufatura.

As políticas públicas recém-criadas são suficientes para fomentar todos esses caminhos que o sr. Aponta?

Rafael Lucchesi: A política atual é importante, está bem-feita, mas a gente pode ser mais ambicioso. Ela está no início, é normal que aconteça assim. Para viabilizar essa agenda, o Brasil precisa de uma política industrial ativa, semelhante à que impulsionou o desenvolvimento do setor agrícola com o Plano Safra, criado em 2003. Iniciativas como a criação das LCAs, letras de crédito agrícola, e agora, no caso da indústria, temos as LCDs (Letras de Crédito do Desenvolvimento), mostram o caminho para esse desenvolvimento e reforçam a escolha bem-sucedida do Brasil pelo setor agropecuário.

Fonte: Broadcast Agro.