14/Jan/2025
Uma série de incêndios florestais de grandes proporções atinge desde a semana passada a região de Los Angeles, no sul da Califórnia, nos Estados Unidos. Há mortos e mais de 130 mil pessoas foram evacuadas de suas casas. O fogo, impulsionado por rajadas de vento comparáveis à intensidade de um furacão, se espalhou rapidamente por vários bairros. Especialistas apontam que combinações de fatores que impulsionaram as queimadas, seca prolongada e ventos quentes, antes eram raros e agora se tornarão cada vez mais comuns. Isso eleva o risco de eventos climáticos extremos, que serão mais frequentes e intensos. Agências de meteorologia confirmaram que em 2024 a Terra teve o ano mais quente da história. Para piorar, a previsão é que o fenômeno La Niña, que ajuda a resfriar a temperatura do planeta, será mais fraco neste ano. Chamado de incêndio Palisades, a maior das queimadas na Califórnia começou perto do bairro de Pacific Palisades, nas montanhas de Santa Mônica, ocupadas por mansões luxuosas de celebridades, na costa oeste dos Estados Unidos, devastando 5 mil edificações.
A tempestade de vento, que deve durar dias e com rajadas que podem chegar a 160 Km/h, castiga áreas que não recebem volume significativo de chuva há meses. Embora a região tenha enfrentado outros incêndios devastadores no passado, como em 2017 e 2018, especialistas afirmam que esses fenômenos têm se tornado mais perigosos e frequentes. Para meteorologistas, uma conjunção de três fatores principais tem favorecido a propagação dos incêndios na Califórnia: ventos de Santa Ana, muito intensos e quentes; vegetação seca altamente inflamável do bioma Chaparral e seca prolongada no sul da Califórnia. Secos e quentes, os ventos de Santa Ana são mais comuns nos meses mais frios. Ocorrem quando o ar de uma região de alta pressão, sobre a área seca e desértica do sudoeste dos EUA, flui em direção à região de baixa pressão na costa da Califórnia, de leste a oeste através das montanhas. Eles retiram umidade da vegetação, propiciando a ignição (início do fogo) de incêndios e fazem com que se espalhem mais rápido.
A Califórnia tem clima mediterrâneo, com verão seco e chuvas concentradas no inverno. Mas o volume é pouco: em Los Angeles, a precipitação média anual fica em torno de 350 mm (a média de precipitação anual na cidade de São Paulo é de cerca de 1,4 mil mm). Além disso, a região enfrenta seca prolongada desde outubro. Os incêndios atingem a Califórnia no auge do inverno local. Normalmente, o risco na região é maior no verão, em julho e setembro, mesma época em que o fogo aumenta na maior parte do Brasil. A área em chamas na Califórnia é de Chaparral, bioma de vegetação arbustiva e esclerófila (com folhas duras, adaptadas ao clima seco), altamente inflamável no verão seco e suscetível a incêndios periódicos. Apesar de o fogo não ser estranho ao bioma, a ocorrência natural de grandes incêndios florestais costumava ter intervalos de 30 a 150 anos ou mais. Para especialistas, isso está mudando: incêndios mais recorrentes e ameaçando a existência do Chaparral e sua biodiversidade.
O Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ) define estes incêndios na Califórnia como um evento composto, que combinou estiagem persistente com ventos quentes e secos, espalhando fogo de modo muito rápido e intenso pela vegetação estressada pela falta d’água. Com a ocorrência mais frequente, intensa e duradoura de eventos extremos devido às mudanças climáticas, eventos que antes aconteciam de forma isolada tendem a acontecer simultaneamente. O que se observa ao redor de todo o planeta, inclusive no Brasil e na Califórnia, é que esses eventos extremos agora começam a acontecer ao mesmo tempo, e isso faz com que seus impactos sejam muito maiores. No Brasil, a sobreposição entre seca prolongada e ondas de calor, somadas às fontes de ignição (algumas vezes de origem criminosa) levaram a uma temporada de fogo recorde em 2024.
Na Amazônia, a fumaça das queimadas encobriu cidades, como Santarém, no Pará, e prejudicaram o transporte pelos rios secos. Regiões como o Pantanal, o Cerrado e o interior de São Paulo também viram as chamas se alastrarem, o que expôs falhas da gestão Luiz Inácio Lula da Silva na prevenção ao fogo. Esse problema pode virar dor de cabeça extra para o governo federal neste ano, em que o Brasil recebe a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP30), em Belém. O risco de queimadas às vésperas do evento pode prejudicar a imagem que o Brasil quer projetar de líder das negociações climáticas. Ainda que não seja possível dizer que os incêndios na Califórnia apontam para mais fogo no Brasil e em outras partes do mundo em 2025, eles evidenciam riscos. O que se pode dizer é que ano após ano, novos recordes de temperatura média global têm sido observados, associados a ocorrências cada vez maiores de eventos extremos como secas e ondas de calor, os principais precursores de grandes épocas de fogo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.