14/Jan/2025
Como ocorreu em anos anteriores, os números da economia no primeiro semestre devem ser mais positivos do que os da parte final de 2025 por causa do desempenho da agropecuária. A expectativa é de que a safra de grãos seja melhor do que a de 2024, que foi afetada pela estiagem. No entanto, os juros mais altos, que encarecem o investimento para as companhias e o consumo para as famílias, e a previsão de uma expansão fiscal menor devem prejudicar a indústria e o setor de serviços, pelo lado da oferta, e o consumo das famílias e os investimentos pela ótica da demanda. O C6 Bank espera uma desaceleração da economia por conta do impacto da alta de juros na formação bruta de capital fixo (investimento). A previsão de crescimento de 2% é explicada por que as exportações vão continuar indo bem e com a perspectiva de uma boa safra. O mau humor dos investidores piorou depois que o governo apresentou o pacote de contenção de gastos. As medidas foram anunciadas para melhorar a credibilidade das contas públicas e garantir a sobrevivência do arcabouço fiscal, mas foram consideradas aquém do necessário.
A desconfiança subiu de patamar porque a equipe econômica apresentou, junto, um projeto de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Embora o governo tenha proposto a taxação de quem recebe mais de R$ 50 mil mensais para compensar a proposta, há uma grande preocupação com uma possível perda de arrecadação num momento em que o País precisa de um ajuste fiscal. Segundo a Tendências Consultoria, há um problema de confiança. O mercado entendeu que o peso do lado político se sobressaiu. Dado esse peso político, há receio de o governo chegar a 2026 e fazer de tudo para garantir a reeleição. Há uma questão fiscal por trás, mas tem um problema de confiança no governo. Os investidores se preocupam com o tamanho da dívida do Brasil, considerada alta para uma economia emergente. Os analistas não enxergam tão cedo um estancamento do endividamento brasileiro. Portanto, sem uma clareza do rumo das contas públicas, os investidores retiram recursos do País, levando a uma desvalorização do Real em relação ao dólar.
A perda de força da política monetária pode ser explicada porque a dívida brasileira já é elevada. Ao subir a Selic, o custo da dívida aumenta, o que torna o problema fiscal ainda mais desafiador. Essa dinâmica piora a percepção de risco dos investidores, provocando desvalorização adicional do câmbio. Em 2024, o dólar subiu 27,3% e encerrou cotado a R$ 6,18. Para 2025, a previsão é de que o câmbio siga próximo desse patamar. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro já cresce acima da sua capacidade há sete trimestres consecutivos. Esse descompasso é chamado por economistas de hiato do produto, uma diferença entre o crescimento registrado (PIB corrente) e quanto é o seu potencial, considerando a infraestrutura instalada (PIB potencial). No terceiro trimestre de 2024, esse hiato do produto ficou positivo em 4%, resultado mais elevado em quase três décadas, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Esse é o maior hiato positivo dos últimos 30 anos. A última vez que essa diferença esteve mais positiva foi no primeiro trimestre de 1995, em 5,5%.
Quanto mais positivo o hiato, maior a pressão sobre os preços, em razão da demanda estar acima da oferta. Essa situação foi apontada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central como um dos motivos para o aumento maior da taxa básica de juro, a Selic, como forma de tentar retomar o controle sobre a inflação. O Banco Central não está errado na interpretação de que há um excesso de demanda. Depois de passar mais de oito anos operando com ociosidade, a atividade econômica tem estado acima da sua capacidade máxima desde o primeiro trimestre de 2023 e, a cada trimestre, o PIB brasileiro tem renovado patamares recordes, sustentado por um patamar de consumo também em níveis históricos. Isso mostra uma economia muito aquecida. Isso é bom porque tem mais emprego, mas tem mais inflação. Então, se o governo não segurar o gasto, a inflação vai acontecer. A única solução para não ficar enfrentando esse dilema é fazer um ajuste fiscal crível. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.