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21/Jan/2025

Planejamento da agropecuária brasileira para 2025

O ano de 2024 foi marcado por eventos extraordinários que afetaram o setor agropecuário, como secas severas, aumentos expressivos nos preços dos fertilizantes e combustíveis e uma política econômica que balançou algumas das dinâmicas do mercado. Esses fatores mexeram com os custos de produção, a produtividade e a mecânica dos mercados interno e externo. Os eventos climáticos extremos em 2024, com secas severas e queimadas, além da destruição propriamente dita, da lavoura e das pastagens, acaba por pressionar a oferta de alimentos e bens. Esse impacto foi notável, em dois produtos: café e laranja. Ambos impactados, além de outros fatores, pela seca severa ao longo de 2024. A produção de cana-de-açúcar, principal cultura econômica de São Paulo, também sofreu. A cotação dos produtos oriundos da cana subiu. As pastagens também sofreram. Os incêndios não só prejudicaram a disponibilidade de alimento para o gado como a sua retomada (rebrota). Além dos produtos citados (café, laranja, açúcar e carne) a cotação do feijão também subiu. E esses aumentos são repassados para o consumidor final.

A inflação sobe. As alterações na legislação tributária implementadas em 2024 trouxeram desafios e oportunidades, afetando diferentes segmentos do setor agropecuário. Os itens agropecuários da cesta básica desonerada beneficiaram, especialmente, os produtores de leite e de carnes, enquanto setores dependentes de insumos importados enfrentaram maiores custos devido ao aumento da carga tributária em fertilizantes e defensivos. Essas mudanças repercutiram nas regiões produtoras, acentuadamente em polos como o Centro-Oeste e o Sul do Brasil. Com a taxa de juros encerrando 2024 em 12,75% ao ano, o crédito rural ficou difícil. Além disso, a alta nos preços dos fertilizantes em 2024 deverá se refletir nos custos de produção em 2025. A taxa de câmbio, projetada para acima de R$ 6,00/US$ em 2025, continuará sendo positiva para as exportações agropecuárias. Essa alta é uma oportunidade de ampliação de receitas em moeda local, potencializando a competitividade no mercado internacional. No entanto, os produtores de menor porte, enfrentam desafios adicionais, pois o aumento nos custos diminuirá a rentabilidade.

A produção de grãos, considerando algodão, amendoim, arroz, aveia, canola, centeio, cevada, feijão, gergelim, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, trigo e triticale, está estimada em 322,25 milhões de toneladas para a safra 2024/25 (Conab). Um aumento de 8,16% na produção, com apenas 1,80% no aumento da área. Ou seja, a expectativa é de recuperação da produtividade, após uma safra 2023/24 impactada pelo clima. Para milho e soja, as duas principais culturas no Brasil (fora as pastagens), a produção deverá crescer 3,33% e 12,60%, respectivamente. Destaque para a retomada da produtividade dessas culturas, ainda mais para o milho, cuja estimativa de redução na área cultivada é de 0,42%. Dessa forma, as expectativas de preços futuros podem variar, principalmente devido à demanda mundial por grãos. A oferta interna, como apontado, deverá crescer, o que pode ser um fator limitante para grandes movimentações nos preços. Porém, cabe o olhar global. Milho, por exemplo, visto a possível quebra de safra estadunidense, e menor estoque global, além de uma demanda aquecida (visto que o grão é disputado para alimentação humana, arraçoamento animal e produção de etanol e outros destinos).

O algodão, por sua vez, poderá ter uma retomada do consumo global, que deve girar na casa dos 3%, porém com uma oferta em maior volume, algo próximo de 6%. Essa condição, e a competição com o preço do petróleo (principal concorrente da fibra), deve dar um ar mais morno para as negociações. Para a soja, o cenário é distinto nos principais produtores globais. A Argentina está com problemas em função da seca nas principais regiões produtoras. Nos Estados Unidos a colheita foi recorde na última safra, enquanto o Brasil sofreu com a seca no período produtivo. Outro fator para ficar de olho é a mudança de concentração da mistura de biodiesel para o B15 (15% de biodiesel no combustível fóssil). O preço do boi gordo em 2025 deverá ser melhor que em 2024. O momento é de transição para a fase de alta do ciclo pecuário de preços. No mercado futuro as apostas de janeiro a julho estão entre R$ 325,00 por arroba e R$ 330,00 por arroba. Neste começo de ano, os frigoríficos devem ter dificuldade para a aquisição de boiadas, pela melhor condição das pastagens.

O dólar acima de R$ 6,00 deve fazer com que a indústria se esforce para comprar boiadas, o que deve manter o mercado firme. A demanda interna normalmente é menor no início do ano, devido ao peso dos impostos no bolso do consumidor e por causa das férias escolares. A cotação da arroba mais alta, movimento que deve perdurar ao longo de todo ano, trará uma carne mais cara. A expectativa é de que a exportação cresça 0,70% em relação a 2024, ou seja, novo recorde. Uma produção menor, devido à menor oferta de fêmeas, já sentida pela indústria frigorífica, aliada a uma exportação em bom volume devem conferir firmeza ao mercado. Com relação à reposição, após dois anos de forte participação de fêmeas nos abates, a oferta de bovinos para reposição deve cair e encontrar pontos de alta ao longo do ano. O ano mal começou e já recebe um bombardeio de fatores interessantes. O ano típico na agropecuária é sempre um ano atípico. Não há moleza. Fonte: Alcides Torres. Broadcast Agro.