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22/Jan/2025

Brasil: riscos e oportunidades na relação com EUA

Confira o que cinco especialistas dizem sobre a economia brasileira durante o segundo governo de Donald Trump nos Estados Unidos:

- LIA VALLS PEREIRA: professora da UERJ e pesquisadora associada do FGV/Ibre

As incertezas no cenário político e econômico mundial dominam o início de 2025 com o governo Trump 2.0. A posição da diplomacia brasileira é a de não alinhamento, e a agenda de acordos visa beneficiar os interesses nacionais. No final de 2024, foram assinados 37 acordos entre a China e o Brasil, sendo 11 memorandos de entendimento. Diversificar mercados e a pauta de exportações continua sendo uma boa opção de proteção para o Brasil, além de prosseguir com a agenda de acordos de comércio e investimentos. Trump é, até o momento, um fator de geração de incertezas e imprevisibilidade no cenário mundial. A imprevisibilidade eleva os custos de transação no comércio. Manter sempre os canais abertos com os Estados Unidos numa visão pragmática e negociadora faz parte do cenário de minimização de custos.

- LUCAS FERRAZ: coordenador do Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV EESP

O novo mandato do presidente Donald Trump tem potencial para impactar significativamente a economia global. Caso venha a implementar tarifas de importação da ordem de 60% sobre as exportações chinesas e de cerca de 20% sobre as exportações do restante do mundo, a geografia do comércio internacional poderá sofrer novo e importante abalo. Em que pese a complexidade do cenário externo, o Brasil poderia tentar tirar proveito de movimentos de nearshoring (políticas para incentivar empresas a mudarem suas cadeias de fornecedores e logísticas para países próximos) e friendshoring (busca de parcerias estratégicas com países mais amigáveis nas relações diplomáticas), que tenderão a se intensificar. Para tanto, se faz necessária a busca contínua por reformas que levem à melhoria do ambiente de negócios e ao aumento da nossa inserção internacional.

- WELBER BARRAL: consultor e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil de 2007 a 2011

O retorno de Donald Trump marca uma nova fase de incertezas para a economia global. Com um foco renovado em políticas protecionistas, como tarifas sobre aço e alumínio, e a ênfase em proteger indústrias americanas, espera-se que a política comercial dos Estados Unidos siga uma linha mais agressiva. Ainda assim, o impacto para o Brasil, em comparação a outras nações mais dependentes do mercado norte-americano, tende a ser moderado. Um dos principais desafios virá da possibilidade de uma guerra comercial entre Estados Unidos e China. Diante disso, o Brasil deve se preparar para agir com flexibilidade e pragmatismo, fortalecendo suas relações bilaterais, investindo em competitividade e consolidando seu papel como um fornecedor confiável de alimentos, energia e minerais estratégicos. Em um contexto de incerteza, a missão do Brasil será transformar a volatilidade em oportunidades.

- ALESSANDRA RIBEIRO: diretora de macroeconomia e análise setorial da Tendências Consultoria

Os efeitos da agenda sinalizada pelo governo Trump para a economia norte-americana já têm sido, em parte, incorporados nos preços dos ativos financeiros nos Estados Unidos e no restante do globo. A reação tem sido: dólar mais apreciado e juros mais altos. No curto prazo, essa política deve impulsionar a demanda, o que, em conjunto com o aumento de tarifas de importação e a alteração na oferta de mão de obra, deve resultar em inflação mais pressionada. Em suma, os efeitos da agenda de Trump evidenciam que o contexto internacional deve ser mais adverso para a economia brasileira, o que eleva a necessidade de execução de política econômica doméstica responsável, em especial com continuidade de endereçamento da dinâmica dos gastos obrigatórios, dado o risco de o País ser duramente penalizado em ambiente externo mais hostil e seletivo.

- JOSÉ AUGUSTO DE CASTRO: presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)

O comércio exterior do Brasil com os Estados Unidos mostrou equilíbrio na balança comercial nos últimos dois anos. Outro ponto que merece atenção é o fato de que, no comércio bilateral, são destaques as operações intercompanhias, realizadas entre matrizes e filiais sediadas nos dois países, com vantagens competitivas. A ameaça divulgada de possível elevação de tarifas seria um contrassenso. As apregoadas barreiras às operações com países membros dos Brics, para atingir a China, também não devem prosperar. Por outro lado, a adoção de quaisquer barreiras unilaterais pode afetar o comércio mundial, podendo provocar retração econômica, desemprego, menor comércio exterior, entre outros fatores. Entendo que as ameaças divulgadas até agora não têm força para causar problemas e impactos no cenário mundial.

- O BRADESCO avalia que o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, traz dois riscos comerciais para o Brasil. Se os Estados Unidos aplicarem uma tarifa de 10% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil, o impacto na balança comercial é estimado em US$ 2 bilhões, o que contribuiria a uma depreciação cambial de cerca de 4%. Caso as tarifas subam para 25%, o efeito negativo chega a um valor estimado de US$ 5,5 bilhões sobre as exportações. Além disso, o segundo risco seria um novo acordo comercial entre Estados Unidos e China. Nesse caso, a China passaria a comprar mais produtos norte-americanos, com foco em commodities agrícolas. As exportações de soja, um dos produtos mais embarcados pelo Brasil para a China, provavelmente seriam as mais comprometidas, com potencial perda de aproximadamente US$ 3,5 bilhões.

O Brasil exporta cerca de US$ 40 bilhões para os Estados Unidos, numa pauta diversificada que tem como destaque aço, petróleo, aeronaves, papel e celulose e carnes. Hoje, a maioria das exportações brasileiras para os Estados Unidos não sofre nenhum tipo de taxação, exceção ao petróleo, que tem tarifa de 5% a 6%. Os impactos de barreiras levantadas por Trump contra o Brasil seriam espalhados no tempo. Na análise sobre as primeiras declarações do novo presidente, o Bradesco pondera, no entanto, que o tom em relação à política comercial sugere que tarifas serão usadas como ferramenta de pressão, não necessariamente como medida imediata, ao menos por ora. Fonte: Broadcast Agro.