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22/Jan/2025

Impactos do novo governo dos EUA no Agronegócio

O discurso de posse e as primeiras medidas anunciadas pelo presidente norte-americano Donald Trump aumentaram as incertezas sobre potenciais efeitos do segundo mandato dele sobre o agronegócio brasileiro. Para especialistas, haverá mudanças, principalmente no comércio global com o aumento tarifário pretendido, mas que o impacto disso ainda é uma “incógnita”. Segundo o Insper Agro Global, as mudanças na aplicação de tarifas pelos Estados Unidos ainda não foram definidas, mas irão ocorrer em breve. Três modelos têm sido avaliados pela equipe de Trump e cada um pode ter efeitos diferentes no cenário mundial e para o Brasil, especificamente. As hipóteses são aumentar rapidamente as tarifas sobre países específicos, como México, Canadá e China, a exemplo do que já ocorreu em 2017 em relação aos chineses, na primeira passagem de Donald Trump pela Casa Branca, o que gerou uma retaliação da China contra produtos do agronegócio norte-americano e abriu espaço para o Brasil ampliar as exportações para a China, em especial de soja.

A segunda alternativa é se basear em reciprocidade, com medidas aplicadas sobre países ou produtos específicos, em desacordo com as regras do comércio mundial, para as quais Donald Trump ‘dá de ombros’. Por último, a estratégia pode ser investir em negociações bilaterais com determinados parceiros ao invés de aumentar as tarifas de forma generalizada. Uma guerra comercial vai gerar ações e reações de todos os países e pode ter uma nova espiral protecionista. Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington (EUA) e atual presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), é cauteloso. Ele não vê grandes impactos para o agronegócio brasileiro neste momento. Como o País importa mais do que exporta para os Estados Unidos, não deve ser afetado pelo pacote tarifário de Trump para reduzir o déficit comercial norte-americano. Mas, não se sabe qual será o entendimento sobre a China.

Donald Trump viajará a Pequim nos primeiros dias de governo. É preciso ver se vai haver alguma combinação na área agrícola. A rigor, o Brasil na área agrícola não deveria ser afetado. Como tem grande exportação para a China, dependendo das medidas, pode ser que haja efeito indireto sobre o Brasil. A percepção é de que o agro brasileiro será pouco afetado. O Insper lembrou um movimento “parecido” feito pelos Estados Unidos em 1930, com a Smoot-Hawley Tariff Act, lei que dobrou as tarifas e desencadeou episódios que vão desde a recessão econômica até a Segunda Guerra Mundial. Se os Estados Unidos dobrarem a tarifa, será ruim para o mundo inteiro. Os Estados Unidos são o maior mercado de produtos do mundo. Pode haver ganhos de curto prazo a depender de como for feito, mas há receio sobre os efeitos colaterais que isso pode causar. E traz a preocupação de que não haja mais regras. O Brasil deve ser impactado de forma secundária, com reflexos do que for aplicado contra a China, por exemplo.

Não há dúvidas de que algum dos modelos será aplicado. Trump colocou a questão das tarifas no centro da agenda e tem poder no Congresso e no seu governo para fazer essa mudança que rompe com regras internacionais de comércio. Vai voltar a ‘lei das selvas’ em que cada país torce para não ser atingido. Para a Vallya Participações, será preciso observar os detalhes dos desdobramentos de cada medida nas próximas semanas. Em relação ao agro brasileiro, é preciso ver a possibilidade de a China e os Estados Unidos chegarem a algum acordo bilateral que tenha objetivo de aumentar o comércio agrícola entre eles. É uma preocupação de fundo que precisa estar presente. Momentos como esse reforçam a necessidade de ampliar a presença física do Brasil na China e de fortalecer as ferramentas de interlocução com os chineses, principais clientes do agronegócio brasileiro. Mas, não há ameaças diretas de Donald Trump ao Brasil. O Brasil tem uma relação saudável com os Estados Unidos.

O Brasil é comprador de produtos de maior valor agregado dos Estados Unidos, é destino de investimentos de empresas norte-americanas. Não tem motivo para Brasil ser alvo, mas indiretamente pode acabar tendo impactos por conta da China. O anúncio da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, que completa dez anos em 2025, também aumentará a pressão sobre o Brasil e a sua capacidade de organizar uma COP que gere, efetivamente, resultados práticos. Trump torna o ambiente ainda mais difícil, mas o Brasil precisa definir com clareza qual será sua “rota” no tema ambiental. O embaixador Rubens Barbosa afirmou que a postura do presidente norte-americano aumenta a pressão sobre o Brasil em termos de política externa, como a coordenação da reunião da cúpula dos Brics (grupo formado por Rússia, Índia, China e África do Sul) e a organização da COP30, em Belém (PA), no fim deste ano. O Brasil tem que ter atitude pragmática, não ideológica na defesa de seus interesses, sem alinhamento automático com ninguém.

A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris terá efeito sobre as negociações da COP30. Para o Insper, a postura de Donald Trump enfraquece as iniciativas globais de adaptação às mudanças climáticas e de redução de emissão de gases do efeito estufa a nível de governo, mas as empresas privadas vão manter a agenda nesse segmento. A expectativa é de que o Brasil consiga trazer as agendas positivas, da agricultura sustentável e da produção de bioenergia na COP, e não ficar só ‘pedrada’ na questão do desmatamento ilegal, que é o ‘teto de vidro’ do País. Ainda, há os possíveis impactos das ações de Trump sobre o agro norte-americano, que apoiou o presidente na eleição, mas está alerta com o “pacote tarifário” e possíveis portas fechadas aos seus produtos. O maior mercado do agro brasileiro é a China, que até pode ser beneficiado, mas Donald Trump é uma incógnita. O agro norte-americano, que votou nele, pode ser prejudicado neste conflito com a China e na questão do trabalhador imigrante. O agro norte-americano também está em compasso de espera. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.