13/Feb/2025
O aumento dos pedidos de Recuperação Judicial (RJ) no agronegócio em 2024 acendeu um alerta no mercado de crédito, tornando a concessão de financiamentos mais seletiva e elevando o custo dos recursos para produtores. O impacto deve persistir ao longo de 2025, mesmo com a expectativa de uma safra mais capitalizada e menores custos. O produtor que antes renegociava diretamente com credores passou a recorrer à RJ, suspendendo pagamentos e causando uma aversão ao risco generalizada no setor. A mudança no comportamento financeiro dos produtores se refletiu na análise de crédito. Instituições financeiras passaram a exigir garantias mais robustas e limitar financiamentos a produtores com alto nível de arrendamento.
Antes, um produtor que operava com 70% de terra própria e 30% arrendada tinha acesso mais amplo ao crédito. Agora, se a terra não é própria, a análise se torna mais restritiva. A medida tem por objetivo reduzir a exposição ao risco, dado que a RJ tem se concentrado em propriedades de maior porte e com alta alavancagem. A parcela da carteira agro exposta à recuperação judicial é equivalente a 0,4% do total de crédito concedido ao setor. O porcentual é considerado baixo, mas serviu de gatilho para revisões nas condições de financiamento. O mercado aprendeu que a RJ tem um impacto mais amplo do que se imaginava. Quando um produtor entra nesse processo, ele não afeta apenas bancos, mas toda a cadeia: fornecedores, cerealistas e tradings.
A tendência de novas RJs ainda preocupa, especialmente diante da alta dos juros desde novembro. A expectativa é que a Selic se mantenha entre 14,5% e 15% ao longo do ano, o que encarece a renegociação de dívidas e dificulta a reestruturação financeira de produtores mais endividados. O juro alto cria um ciclo de pressão. O produtor que já estava com dificuldade de reorganizar seus passivos agora encontra condições ainda mais desafiadoras. Em contrapartida, há sinais de que o ritmo de RJs pode desacelerar. O fator-chave para isso é a previsão de uma safra mais equilibrada financeiramente, com custos de produção reduzidos em relação ao ciclo anterior.
Muitos perceberam que a RJ não trouxe as vantagens esperadas. Além da dificuldade de acesso ao crédito, a credibilidade de quem entrou nesse processo ficou comprometida. A seleção de financiadores também se tornou um elemento importante na nova dinâmica do setor. O recuo de algumas instituições financeiras que haviam ampliado a atuação no agro em anos anteriores abre espaço para bancos com histórico mais sólido no setor. Algumas instituições funcionam como sanfona: entram no mercado quando tudo está bem e saem quando surgem dificuldades. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.