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19/Feb/2025

Brasil deve ter impacto limitado de tarifas dos EUA

Segundo o Itaú BBA, as novas tarifas comerciais prometidas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, devem ter impacto limitado sobre as exportações brasileiras. A estratégia de Trump tem se mostrado dual: usar tarifas como barreira comercial e como instrumento de negociação. Recentemente, ele ameaçou impor tarifas de 25% sobre México e Canadá para obter concessões no controle de fronteiras, e sobre a Colômbia para questões migratórias. O Brasil, no entanto, não está entre os principais alvos. Os Estados Unidos têm déficits grandes com a China, que diminuiu porque se deslocou muito para o Vietnã, outros países da Ásia, Europa e México. Esses são os principais suspeitos. O perfil das exportações brasileiras também contribui para reduzir riscos. As vendas são concentradas em commodities agrícolas e produtos básicos que, se tarifados, poderiam pressionar a inflação norte-americana, um tema sensível para Donald Trump, que teve na alta de preços durante o governo de Joe Biden um dos principais argumentos de campanha.

Um risco indireto, porém, vem da possibilidade de um acordo comercial entre Estados Unidos e China. Donald Trump prometeu elevar em 60% as tarifas sobre produtos chineses, mas isso é uma estratégia de negociação. A expectativa é que a tarifa média sobre a China suba de 20% para cerca de 35%, com alguns setores chegando a 80%. Donald Trump vai defender uma série de interesses, inclusive do produtor rural norte-americano, que quer ter mais mercados para exportar. Isso poderia afetar o espaço conquistado pelo Brasil no mercado chinês, especialmente na soja, onde o País fornece 70% das importações chinesas. Quanto ao México e Canadá, embora representem um mercado potencial para produtos, como milho e carne suína, o Brasil teria dificuldades para ocupar espaço. A penetração do Brasil nesses dois países é relativamente baixa, em vários casos ela é nula. Nesse caso dos vizinhos dos Estados Unidos, as tarifas devem funcionar mais como ferramenta de negociação do que barreira comercial de fato.

Os benefícios que o Brasil pode obter em uma nova guerra comercial deflagrada pelas tarifas de Donald Trump devem ser menores do que no primeiro mandato do republicano. De 2018 a 2020, a primeira guerra comercial de Donald Trump beneficiou o Brasil pela troca de produtos agrícolas norte-americanos, principalmente a soja, no mercado chinês. Agora, o Brasil já tem uma fatia de mercado elevada nas exportações de soja à China, de modo que o espaço para crescimento diminuiu. Além disso, desta vez, o Brasil também pode ser alvo de tarifas mais amplas de Trump, que ameaça aplicar o princípio de reciprocidade contra os países que cobram tarifas altas nas importações de produtos norte-americanos. Haverá negociação, mas o mais provável, hoje, é os Estados Unidos subirem as tarifas, considerando que o Brasil não deve baixar o imposto cobrado na entrada de produtos norte-americanos, em especial o etanol. O benefício, se tiver, será menor.

A impressão é que as políticas de Donald Trump migraram do "America First" para o "America Only", ou seja, apenas os Estados Unidos, o que fragiliza a narrativa de investimentos fora do país, seja em economias próximas, movimento conhecido como nearshoring, ou em países aliados (friendshoring) das nações desenvolvidas do Ocidente. A Fitch Ratings alertou que a recente mudança na política comercial dos Estados Unidos, com a implementação de tarifas recíprocas, pode aumentar os riscos econômicos para países com grande exposição às exportações norte-americanas, principalmente devido à possibilidade de novas tarifas e à incerteza sobre os resultados das negociações comerciais. A política orienta as autoridades dos Estados Unidos a proporem soluções ao presidente, com base em suas conclusões, visando relações recíprocas com cada parceiro comercial. A política prevê que os Estados Unidos comparem as tarifas aplicadas por seus parceiros comerciais com aquelas que o país cobra sobre as exportações desses mesmos parceiros.

Além disso, o governo dos Estados Unidos levará em consideração uma série de outros fatores, como impostos sobre valor agregado (IVA), barreiras não tarifárias, taxas de câmbio e repressão salarial. A inclusão de fatores como o IVA pode fazer com que os Estados Unidos considerem aumentos tarifários mais significativos do que o inicialmente esperado. As tarifas de 25% inicialmente planejadas para importações do México e do Canadá já indicam esse risco. Mercados emergentes, como a Índia, onde os exportadores dos Estados Unidos enfrentam altas tarifas de importação, podem ser particularmente impactados, caso os Estados Unidos adotem uma postura mais recíproca. A nova política pode complicar acordos comerciais em andamento, como o Acordo EUA-México-Canadá, que será revisado em 2026. Um aumento significativo nas tarifas pode impactar negativamente o crescimento global. Apesar da incerteza, o governo dos Estados Unidos demonstrou disposição para negociar individualmente com seus parceiros comerciais, embora ainda haja muitas dúvidas quanto à magnitude das possíveis elevações tarifárias. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.