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21/Feb/2025

Agro sob pressão e perspectivas no cenário global

A safra brasileira de 2025 se apresenta como um dos maiores desafios para os produtores rurais. O cenário atual do agronegócio está marcado por uma série de adversidades que impactam diretamente os custos de produção, as estratégias de cultivo e as perspectivas de lucro. Neste artigo, analisamos os principais fatores que contribuem para as dificuldades da safra, além de um olhar atento para as implicações do cenário internacional e as mudanças que começam a acontecer no mercado global.

- Desafios Locais: A Carga Tributária e o Crescimento das Dificuldades Financeiras

Um dos principais gargalos enfrentados pelo setor dentro e fora da porteira é o custo Brasil, com alta carga tributária, que continua a inflar os custos de produção. A carga tributária acaba por elevar o custo operacional das empresas do setor agropecuário, além de reduzir a competitividade do Brasil frente a outros grandes produtores no cenário internacional. O fluxo crescente de Recuperações Judiciais (RJ) também é um reflexo da grave crise financeira enfrentada no agronegócio. A combinação de dificuldades de financiamento, altas taxas de juros e a escassez de crédito alimenta o cenário de desafios. O crédito caro, incertezas sobre o plano safra, somado à quebra de safra de anos anteriores e desde ano em algumas regiões, é um fator que agrava as perdas financeiras. O aumento do custo de insumos, como fertilizantes e diesel, que são essenciais para a produção agrícola, vem afetando diretamente a rentabilidade das lavouras. Os preços elevados, em boa parte causados pela instabilidade econômica global, tornam a produção mais cara e reduzem as margens de lucro dos produtores. Esse cenário é ainda mais desafiador diante de um dólar em patamares elevados, o que encarece ainda mais a importação de produtos e insumos essenciais.

- Impactos Climáticos: A Variabilidade que Afeta a Produtividade e Produção

Além das dificuldades econômicas, a safra 2025 também enfrenta desafios climáticos significativos. A falta de chuvas ou o excesso delas tem sido uma constante em várias regiões produtoras. A colheita brasileira está atrasada especialmente pelo clima chuvoso no Centro-Oeste e isso materializa uma preocupação adicional: o atraso do plantio de milho segunda safra, a possibilidade de o Centro-Sul semear fora da janela ideal ou diminuir área de produção além, obviamente, do atrapalho na logística de escoamento da produção. A infraestrutura de transporte, ainda carente de melhorias significativas, eleva os custos de logística, que já são altos e impede uma fluidez necessária para que o Brasil se mantenha competitivo no mercado global. E em um ano de desencaixe logístico pelas chuvas e trabalhos morosos nos campos, tanto para colheita quanto para plantio, a safra inicia em compasso desafinado gerando apertos em algumas regiões e portos. Ainda no contexto climático, as chuvas que começam a retornar à Argentina e devem contribuir, caso continuem, para uma safra satisfatória, embora longe de ser cheia ou recorde, contabilizando perdas até o momento entre 4 e 5 milhões de toneladas. Esta safra somada com a brasileira, paraguaia e uruguaia, influencia na dinâmica de oferta na América do Sul. Não será uma safra recorde, porém será uma safra grande o suficiente para equalizar o quadro de oferta até a materialização da safra no hemisfério norte.

- O Cenário Internacional: Tensões Comerciais e Mudanças de Estratégia no Mercado Global

O mercado global também apresenta incertezas. Nos Estados Unidos e Canadá, por exemplo, a proximidade da janela de plantio traz consigo uma importante decisão para os produtores: optar por mais áreas de soja ou milho? Com a política MAGA de Donald Trump em taxar importações para equalizar as transações comerciais com vários países, a guerra comercial com a China entra novamente nos holofotes. A guerra que se arrasta há anos e que foi "congelada" no governo Biden, foi retomada e influenciará as decisões estratégicas no campo em 2025. Dúvidas sobre como China responderá às taxações podem incentivar os produtores a ampliarem a área de milho, cuja demanda poderia ser direcionada a produção de etanol e ração animal. A mudança de foco para o milho pode ser uma estratégia para os produtores norte-americanos se protegerem das flutuações do mercado da soja, especialmente em um contexto de incerteza política e comercial. Leia-se guerra comercial. Os olhos do mercado estarão acompanhando o próximo Agricultural Outlook Forum, que acontecerá nos dias 27 e 28 de fevereiro, para sentir a tendência dos produtores rurais e identificar se o governo, através do USDA - Departamento de Agricultura dos Estados Unidos -, anunciará algum pacote de ajuda às áreas não semeadas. Na outra mão, produtores canadenses podem seguir na estratégia contrária, aumentando a produção da oleaginosa. No caso da redução da área destinada à soja nos Estados Unidos, o Brasil pode se destacar na competitividade que será compartilhada este ano com Argentina.

- Efeitos da Guerra Comercial: Impactos no Agro - EUA e Brasil

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China tem implicações diretas para os mercados agrícolas tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Para os americanos, as tarifas sobre a soja podem diminuir a competitividade de suas exportações, favorecendo o Brasil e Argentina no fornecimento de grãos ao mercado chinês. Para o Brasil, o impacto é duplo. Por um lado, a disputa comercial abriria espaço para o aumento das exportações brasileiras, especialmente para soja, milho e proteínas animais, uma vez que o País ocuparia parte do espaço deixado pelos americanos no mercado chinês. Aqui não podemos esquecer que vamos disputar esta oportunidade via prêmios na soja e derivados e milho com Argentina e na proteína animal bovina com a Austrália. Por outro, o Brasil também enfrenta desafios decorrentes de uma possível redução na demanda global e de taxações dos Estados Unido sobre nossas commodities agrícolas e metais. No foco direto está a proteína bovina e etanol.

- O Caminho Adiante para o Agronegócio Brasileiro

A safra de 2025 está longe de ser fácil. Os desafios são imensos, o que exige o sobrenatural players de mercado. Famílias produtoras rurais, industriais, tradings, canais de distribuição, cooperativas e empresas prestadoras de serviços devem mais que em qualquer safra anterior monitorar de lupa as oportunidades. Elas podem aparecer em intervalos pequenos e rápidos. Mais do que nunca um planejamento cuidadoso e uma gestão de risco eficiente devem fazer parte de protocolo inegociável das empresas. Tanto quando investir em insumos de ponta, tecnologia e excelência nos manejos e das equipes dentro dos campos, as empresas precisam ser cautelosas com a comercialização, afinal decisões estratégicas movidas sem fundamentos podem ser catastróficas e comprometer o desempenho alcançado dentro do campo. De nada adianta grandes produtividades e prêmios de reconhecimento se a comercialização lavar os resultados alcançados. Aqui gosto de ressaltar que dinheiro não aceita desaforo nunca.

Ao mesmo tempo que as dificuldades estão presentes, as oportunidades devem ser construídas em um movimento de busca de um mercado global mais aberto para os produtos brasileiros. Pelo peso que o agronegócio brasileiro representa para a sustentabilidade econômica do Brasil, e pelos exemplos de resiliência em momentos de crise, é imperativo intensificar a estratégia de ampliar parcerias internacionais. O estreitamento da parceria com China, inevitável e justificável pelo fator segurança alimentar, não deve interromper a busca consistente para novas parcerias e estreitamento de parcerias já existentes. É preciso buscar em uma ação conjunta governamental e associativa novos mercados para as commodities brasileiras. Em março comentaremos sobre como as taxações de Donald Trump estão impactando o comércio global e quais os principais efeitos observados no agro brasileiro. Até lá, muito foco para aproveitar as oportunidades e bons negócios. Fonte: Andrea Cordeiro. Broadcast Agro.