01/Apr/2025
A deflação de -0,7% na China em fevereiro, acumulada em doze meses, acionou uma luz amarela sobre a tendência de os preços no país continuarem muito fracos neste ano, em uma conjuntura marcada por vários obstáculos para a retomada do consumo doméstico, como a crise do setor imobiliário e as tarifas às suas exportações para os Estados Unidos. Para levar a inflação a uma marca mais alta em 2025 do que o 0,2% registrada em 2024 e 2023, economistas acreditam que o governo Xi Jinping precisará adotar mais medidas fiscais nos próximos meses para reforçar a demanda agregada. A China pode continuar a registrar deflação em março e abril porque ocorreu uma redução do ritmo do nível de atividade no primeiro trimestre de 2025 ante os três meses anteriores.
No último trimestre de 2024, o governo chinês adotou diversas medidas para acelerar o PIB a fim de atingir a meta de expansão ao redor de 5% no ano passado, além de ter ocorrido um grande aumento das exportações, em boa medida devido à antecipação de encomendas de empresas para evitar tarifas a importados adotadas pela administração Donald Trump. Segundo o Union Bancaire Privée (UBP), a inflação poderá voltar a subir na China no segundo semestre com efeitos positivos de medidas fiscais para o consumo, especialmente o swap de dívida de governos locais com juros bem altos e que vencem em 2025 e 2026 por títulos (federais) de longo prazo, o que dá mais espaço para governos locais realizarem despesas, entre elas pagar salários de servidores e fazer investimentos.
A reestruturação do setor imobiliário na China gera dificuldades para o aumento dos gastos de famílias no país, dado que cerca de 60% das suas poupanças estão aplicadas em imóveis. Segundo a Pictet Wealth Management, as despesas de capital das empresas do setor caíram 10% em 2024 e devem retrair de 2% a 3% em 2025. Contudo, devido a diversas ações adotadas pelo governo Xi Jinping para reanimar este segmento produtivo desde 2023, como a redução dos juros para financiamentos, devem “estabilizar” os preços de imóveis e as vendas de novas residências neste ano. O CPI na China deve subir 0,7% e o PIB do país crescerá 4,8% em 2025, com tarifas de 20% das suas exportações aos Estados Unidos.
Caso sejam necessárias mais medidas do governo para estimular a economia a partir de meados do ano, provavelmente aumentarão os investimentos oficiais no setor manufatureiro, sobretudo para a renovação de equipamentos, e em infraestrutura, como a rede elétrica nacional. Há também grandes avanços de investimentos em inteligência artificial na China, como data centers e computação em nuvem. Diversas empresas anunciaram recentemente aumento muito significativo de despesas de capital nestas áreas. A estratégia da administração Xi Jinping de dedicar investimentos públicos para subsidiar a atividade de empresas nacionais, muitas delas indústrias que enfrentam problemas adicionais com as tarifas impostas pelos Estados Unidos, pode continuar a pressionar para baixo o índice de preços ao produtor no país, que está em deflação há dois anos.
Para o Eurasia Group, como o governo deve manter a ajuda às companhias exportadoras, pois é prioritária a sobrevivência delas para gerar empregos e renda na economia doméstica, a redução dos preços ao produtor poderá continuar e levar a média do CPI neste ano para 0% ou até deflação. A situação das empresas exportadoras não é simples. Muitas destas companhias estão bem preocupadas que os Estados Unidos levem o México e países asiáticos a adotar tarifas a importados da China, o que as levaria a se desacoplar de cadeias internacionais de valor. Segundo o Macquarie Group, o governo da China deve calibrar o montante de gastos públicos para incentivar a demanda e evitar uma queda persistente da inflação de acordo com a magnitude das tarifas adotadas pelos Estados Unidos.
O pacote fiscal para estimular a atividade, como proporção do PIB, subiu de 6% em 2024 para 8% em 2025. As autoridades farão tudo o que for necessário do lado das despesas para compensar o impacto de tarifas à economia para que a meta de crescimento próxima a 5,0% seja atingida neste ano. O CPI deverá subir 0,5% em 2025. Segundo a Moody 's Analytics, para incentivar o consumo interno a ponto de afastar a China da inflação muito baixa ou até negativa, o governo chinês precisa adotar medidas estruturais para equilibrar seu modelo econômico, que é muito dependente das exportações. “É essencial fortalecer o setor imobiliário com funding necessário a empresas incorporadoras para concluir obras iniciadas e para garantir que os empreendimentos sejam entregues aos compradores de casas e apartamentos.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a China reiterou seu compromisso com a abertura econômica e o incentivo ao investimento estrangeiro, destacando que o país continua sendo um mercado fértil para empresas internacionais. A relação entre empresas estrangeiras e o mercado chinês tem sido mutuamente benéfica ao longo dos anos. As empresas estrangeiras e a China contribuíram para o sucesso uma da outra no passado e vencerão juntas no futuro. O governo segue comprometido com a reforma profunda e uma abertura de alto nível, além de oferecer um ambiente de negócios estável e previsível. A China, como o segundo maior mercado consumidor do mundo, tem acelerado o desenvolvimento de "novas forças produtivas de qualidade" e segue empenhada em aprimorar seu ambiente de negócios para atrair mais investimentos internacionais. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.