02/Apr/2025
Segundo a Serasa Experian, os pedidos de recuperação judicial no agronegócio brasileiro mais que dobraram em 2024, atingindo 1.272 solicitações, contra 534 no ano anterior. O número inclui produtores rurais pessoa física (566), pessoa jurídica (409) e empresas relacionadas ao setor (297). A alta da taxa de juros, aliada ao aumento dos custos de produção com insumos agrícolas, que ficaram mais caros devido à inflação e à desvalorização cambial, foram alguns dos desafios principais e, para além disso, teve o agravante das adversidades climáticas. O quarto trimestre do ano registrou 320 pedidos, alta de 26% sobre o terceiro trimestre, quando foram contabilizadas 254 solicitações. A série histórica mostra que o segundo trimestre de 2024 concentrou o maior volume de pedidos no ano, com 429 solicitações. O aumento registrado nos últimos três meses do ano comprova a estimativa de represamento que aconteceu no terceiro trimestre, quando a quantidade de pedidos caiu.
Os produtores rurais pessoa física somaram 566 pedidos, um aumento de 345% frente aos 127 registrados em 2023. A distribuição trimestral mostra escalada constante: 106 pedidos no primeiro trimestre, 214 no segundo, 106 no terceiro e 140 no quarto. Em 2023, esses números eram significativamente menores: 17, 34, 29 e 47 pedidos, respectivamente. Mato Grosso liderou com 173 pedidos, seguido por Goiás (122), Minas Gerais (57), Mato Grosso do Sul e Paraná (ambos com 45), São Paulo (40), Santa Catarina (20), Rio Grande do Sul (15), Rondônia (13) e Tocantins (11). Do total, 224 foram feitos por pessoas sem propriedades rurais, provavelmente arrendatários ou grupos familiares. Os grandes proprietários responderam por 132 solicitações, os pequenos por 113 e os médios por 97. Entre os produtores rurais pessoa jurídica, as solicitações somaram 409, aumento de 152% sobre as 162 de 2023.
A evolução trimestral também mostra aceleração: 86 pedidos no primeiro trimestre, 121 no segundo, 92 no terceiro e 110 no quarto trimestre de 2024. O ano de 2023 havia registrado 30, 34, 38 e 60 pedidos nos quatro trimestres, respectivamente. O cultivo de soja concentrou mais da metade dos pedidos (222), seguido por criação de bovinos (75), cultivo de cereais (49), cultivo de café (16) e cultivo de algodão (10). Mato Grosso novamente liderou o ranking com 92 pedidos, seguido por Goiás (62), Minas Gerais (53), Mato Grosso do Sul (47), Paraná e São Paulo (ambos com 30), Rio Grande do Sul (29), Santa Catarina (27), Tocantins e Bahia (ambos com 13). As empresas relacionadas ao agronegócio registraram 297 pedidos, 21% acima das 245 solicitações de 2023. A distribuição trimestral mostra que o segundo trimestre foi o mais crítico, com 94 requerimentos, seguido pelo primeiro trimestre (79), terceiro (77) e quarto (70). Em 2023, os números trimestrais foram 55, 55, 56 e 79, respectivamente.
Entre os segmentos mais afetados, as agroindústrias de transformação primária lideraram com 73 pedidos, seguidas por serviços de apoio à agropecuária (64), indústrias de processamento de agroderivados (58), comércio atacadista de produtos agropecuários primários (33) e revendedores de insumos agropecuários (32). São Paulo e Paraná foram os Estados com mais pedidos neste segmento, seguidos por Goiás, Rio Grande do Sul e Santa Catarina empatados em terceiro lugar. O estudo da Serasa destaca que seu modelo específico para o agronegócio, o Agro Score, consegue antecipar riscos de inadimplência. A análise mostrou que produtores que entraram com pedido de recuperação já apresentavam score médio abaixo de 400 pontos até 36 meses antes da solicitação, enquanto a população geral mantém média estável em torno de 600.
Ainda assim, apesar da alta, é preciso ponderar o número absoluto de solicitações, que é pequeno se considerar um universo com cerca de 1,4 milhão de produtores que tomaram crédito rural durante os últimos dois anos no País. Usar análises mais criteriosas para conceder linhas de crédito protege o mercado da realização de financiamentos com perfis economicamente instáveis, diminuindo riscos e fomentando a regulamentação da saúde financeira no setor. O levantamento da Serasa Experian foi construído a partir de estatísticas de processos registrados mensalmente em sua base de dados, provenientes dos tribunais de justiça de todos os Estados. A análise contempla proprietários e produtores rurais de todos os portes, além de empresas com CNAE principal vinculado à cadeia do agronegócio. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.