04/Apr/2025
No day after do anúncio do tarifaço por Donald Trump, muitas dúvidas ainda pairam entre representantes do setor produtivo e autoridades. A análise preponderante atualmente é a de que todos os produtos e serviços importados do Brasil pelos Estados Unidos passarão a ser taxados no mínimo em 10%. Essa alíquota se somará a tarifas já existentes ou informadas mais recentemente para bens específicos. Apesar desse entendimento mais generalizado no momento, nenhum técnico ou autoridade garante que é essa a fórmula a ser adotada pelos norte-americanos. Certeza mesmo só haverá na quarta-feira da semana que vem (09/04), quando os Estados Unidos devem detalhar a metodologia usada para tarifas recíprocas. Há a expectativa de que seja publicado um anexo com 60 países que serão mais penalizados. As medidas anunciadas na quarta-feira (02/04), no entanto, passam a valer no sábado (05/04). Só o que está claro é que o Brasil ficou no degrau mais baixo.
Se confirmada essa métrica, as carnes brasileiras vendidas para os Estados Unidos, por exemplo, passarão a entrar no país com uma taxa total de 36,4% (26,4% já cobradas anteriormente + 10% de sobretaxa). No açúcar, a tarifa pode chegar a 160% em alguns casos. Neste entendimento, sobre o etanol brasileiro deve incidir tarifa de 12,5%, somando a atual alíquota de importação de 2,5% à sobretaxa geral de 10%. No caso do aço e alumínio, há uma exceção explicitada e a taxa sobre esses itens será mantida nos 25% atuais. Outra dúvida que resta é se a sobretaxa para países específicos que valerá a partir do dia 9 de abril se somará aos 10% implementados a partir do dia 5 de abril. Ou seja, se o Brasil será afetado por uma alíquota mínima de 10% ou 20%. Neste caso, o entendimento é distinto no governo brasileiro. Alguns interlocutores que acompanharam as negociações acreditam que as tarifas não são cumulativas e que a sobretaxa ao Brasil será apenas 10%. Outros preferem aguardar o detalhamento de 9 de abril.
Uma coisa é certa: o Palácio do Planalto conseguiu o que queria neste primeiro momento, que era deixar o Brasil "esquecido", saindo assim do foco principal de Donald Trump. Taxado com o mínimo de 10%, o País integra a lista de outras nações da América Latina. Até o dia 9 de abril, o Brasil acompanhará de muito perto as reações pelo mundo para medir a temperatura que se instalou sobre o globo. O País acredita que ainda haja espaço para negociações e usará todas as ferramentas possíveis para tentar minimizar o impacto para a economia local. Oficialmente, como foi colocado em nota conjunta dos Ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, todas as possibilidades seguem sobre a mesa, incluindo o acionamento (ainda que simbólico) à Organização Mundial do Comércio (OMC). Na semana que vem, integrantes do governo do Brasil e dos Estados Unidos devem se reunir para tratar sobre os anúncios de ontem e reforçar o caminho da negociação.
De forma generalizada, estar no grupo menos taxado foi um alívio para o Brasil. De diplomatas a membros da equipe econômica, passando por outros ministérios, as expectativas eram mais pessimistas. Mesmo assim, traz preocupação sobre os impactos para a economia doméstica. Outro ponto que foi visto como um bálsamo foi o fato de as tarifas anunciadas se restringirem sobre países, e não também sobre produtos. Ainda que esse procedimento estivesse muito claro para o Itamaraty, havia muitas dúvidas entre autoridades e setor produtivo. Em especial, sobre etanol e madeira. Aliás, uma ênfase especial foi dada pelos negociadores brasileiros nas tratativas em relação ao combustível, alegando que se as nossas taxas são maiores para o produto norte-americano (extraído do milho) de 18% contra 2,5%, a “mão norte-americana” é substancialmente mais pesada em tarifas sobre açúcar. O argumento teria funcionado não apenas para o produto em si, como ajudou a tirar o Brasil da lista dos 15 países mais no foco de Donald Trump. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.