08/Apr/2025
O tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode representar ameaça à indústria e oportunidade ao agronegócio brasileiro. O Brasil é um forte candidato para receber essas exportações (que não terão mais os Estados Unidos como destino, devido à taxação excessiva, dependendo da origem), porque tem um mercado consumidor relevante. Há o risco de uma enxurrada de produtos baratos sendo trazidos para o País, que pode ameaçar setores industriais, como já aconteceu quando a China passou a vender fortemente pneus, painéis solares e aço no Brasil a preços muito inferiores aos da produção local. Por outro lado, commodities agrícolas têm potencial para fazer o caminho inverso. Com a possível resposta da China, em retaliação, de restringir a importação de produtos agrícolas norte-americanos, o Brasil pode ocupar mais espaços nas vendas para o mercado asiático. A pauta brasileira concorre com o produto norte-americano, como em soja e proteína animal.
Inclusive, o Brasil pode abrir exportações para o Japão, que pode passar a comprar o produto brasileiro até como forma de proteção para o fornecimento americano. O Brasil tem buscado construir relações mais sólidas com a União Europeia, com a China e, mais recentemente, com o Japão. O País poderá obter vantagens e desvantagens. Ainda assim, o País tende a colher mais benefícios do que prejuízos. Em primeiro lugar, o Brasil manterá acesso à maior economia do mundo com tarifas, em média, menores do que as aplicadas a outros países, especialmente quando comparadas às impostas à China. Exportadores brasileiros com foco na China, que vão desde o minério de ferro até o frango, passando pela soja, tendem a se beneficiar de um aumento no fluxo de comércio com a Ásia. Desde o início do governo Trump, a China vem intensificando sua aproximação com a América Latina, especialmente com o Brasil.
Como as redes de comércio e os seus efeitos são bastante complexos, mesmo notícias negativas, como uma possível invasão de produtos chineses no Brasil, pode trazer um benefício de curto prazo. Depois da questão fiscal, o tema que mais assola o País e prejudica a popularidade do governo é a inflação, que obriga a juros mais altos. Pode ser conveniente ao Brasil permitir a importação de produtos baratos. O Bradesco acredita que a resposta inicial do País vai ser ‘quieta’ no começo. Num segundo momento, a expectativa é a de que essa superoferta global acabe se ajustando. As empresas não vão ficar olhando uma queda global da demanda, e então vão cortar a produção. Deve ocorrer um equilíbrio para uma demanda global menor, com um choque de oferta clássico. No setor de vestuário, que deve ser um dos mais afetados no mundo, e que tem forte produção em Bangladesh e Vietnã, é relativamente simples fazer uma mudança para os Estados Unidos ou baixar o volume de fabricação.
Já em outros, o reequilíbrio de oferta é mais complicado, como na siderurgia, que exige ciclos de investimentos de vários anos. Quanto ao risco da chegada de produtos de menor custo vindos da Ásia, o Brasil pode ter formas de se defender. Isso pode afetar a competitividade dos produtores nacionais. Porém, o Brasil dispõe de mecanismos para mitigar esses impactos, como a aplicação de medidas antidumping e o uso seletivo e criterioso de tarifas, capazes de proteger os setores mais vulneráveis da economia nacional. O cálculo de benefício líquido para o Brasil tem de ser feito setor a setor e vai exigir muita estatística e observação empírica a respeito do desenvolvimento desses mercados. Essa é uma análise bem econômica, porque precisa comparar os fluxos comerciais por produto, com os países concorrentes. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.