08/Apr/2025
O Ministério da Agricultura analisa uma proposta para a criação do “Programa Sempre Verde”, mecanismo para concessão de desconto de 1% nos juros do crédito rural em linhas de custeio subsidiadas do Plano Safra 2025/2026 a produtores que cultivam plantas de cobertura para rotação de culturas, sobretudo com soja, milho e algodão. O objetivo é incentivar financeiramente o produtor que adotar uma 3ª safra (composta por espécies como braquiária, crotalária, milheto e aveia) para suceder as culturas principais de grãos e fibras e com isso manter o solo com cobertura vegetal o ano inteiro, o que ajudará a reduzir a pegada de carbono da atividade. Há potencial para alcançar 16 milhões de hectares no Cerrado de imediato. A proposta foi apresentada ao Ministério da Agricultura pela Câmara Temática de Modernização do Crédito (ModerCred) no fim de março, mas não prevê estimativa de custos para a União com a equalização maior dos juros dessas operações.
Ao mesmo tempo em que captura carbono e restaura a saúde do solo, a 3ª safra não comercial fortalece a resiliência das lavouras brasileiras, melhora a eficiência produtiva e posiciona o Brasil como referência em agricultura regenerativa de larga escala. Pela proposta, o produtor deverá apresentar notas fiscais aos bancos para comprovar a compra das sementes de plantas de cobertura compatível com a área declarada no projeto de custeio, o receituário agronômico ou o laudo técnico com as indicações de plantio e manejo e, de forma opcional, o georreferenciamento da área e registro fotográfico ou via satélite. A intenção é que a medida seja complementar ao custeio sustentável, que já concede rebate a produtores que têm certificação de boas práticas ou o Cadastro Ambiental Rural (CAR) analisado.
Mesmo sem estimar os custos, a ModerCred defende que o incentivo vai gerar retorno econômico, com aumento de produtividade das lavouras, e melhorar o perfil de risco das operações de financiamento aos agentes financeiros e seguradoras. A ideia inclui a realização de um programa-piloto na primeira temporada. A medida é inspirada em experiências na Europa e nos Estados Unidos, onde há subsídios ou pagamentos diretos aos produtores que mantêm o solo protegido com as plantas de cobertura. Desde 2023, Carlos Augustin, assessor especial do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, tenta emplacar proposta semelhante no Plano Safra. O potencial de introdução de uma terceira safra com plantas de cobertura é maior nas áreas de agricultura tropical, onde já são praticados dois cultivos anuais, com a soja no verão (1ª safra) sucedida do milho 2ª safra. Estimativas da Serasa Experian indicam que 16 milhões de hectares já adotam esse sistema, ou 36,8% da área de soja do País.
Caso as plantas de cobertura sejam adotadas em toda essa área, seria possível elevar o sequestro de carbono para cerca de 0,4 tonelada por hectare ao ano. Ao utilizar dados quantificados pelo Centro de Pesquisa em Carbono na Agricultura Tropical (CCarbon), da USP, o cálculo da ModerCred é de que a técnica poderá retirar de 23 milhões a 24 milhões de toneladas de CO2 por ano da atmosfera. Esse montante é expressivo e contribuiria para uma redução de cerca de 20% das emissões da agricultura, conforme dados estimativos publicados pelo Observatório do Clima em 2023. Além disso, o grupo indica benefícios adicionais, como controle de nematóides e pragas do solo, descompactação do solo, proteção contra erosão, conservação da umidade, fixação biológica de nitrogênio e aumento da produtividade e da resiliência das lavouras. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.