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10/Apr/2025

China tem arsenal anti-tarifas para atingir os EUA

Desde a primeira guerra comercial do presidente norte-americano, Donald Trump, com a China, o governo chinês construiu um arsenal de ferramentas para atingir os Estados Unidos onde dói. Agora, está se preparando para implementar essas ferramentas em sua totalidade. A China anunciou que aumentaria as tarifas sobre todas as importações americanas para 84%, em resposta às novas tarifas norte-americanas de 104% sobre importações chinesas, que entraram em vigor nesta quarta-feira (09/04). Mas as opções da China não param por aí. Embora Trump tenha se concentrado nas tarifas como sua arma comercial preferida, a estratégia da China vai muito além da imposição de seus próprios impostos, confiando na atração do mercado chinês para empresas norte-americanas. Um fio condutor em seus cálculos é como infligir dificuldades às empresas que apostam em seus laços com a segunda maior economia do mundo.

Ferramentas que a China já utilizou e provavelmente expandirá incluem controles de exportação de materiais essenciais que empresas norte-americanas utilizam para fabricar chips e produtos relacionados à defesa, investigações regulatórias destinadas a intimidar e penalizar empresas norte-americanas e listas negras destinadas a impedir que estas vendam para a China. Além disso, as autoridades estão preparando novas maneiras de pressionar empresas norte-americanas a abrir mão de suas ‘joias da coroa’, a propriedade intelectual, ou perder o acesso ao mercado chinês. Essa caixa de ferramentas ressalta a capacidade do líder Xi Jinping de se envolver em uma guerra econômica prolongada com os Estados Unidos e destaca os riscos cada vez maiores para empresas norte-americanas que operam ou investem na China, ou simplesmente negociam com o país. A China sistematicamente montou um novo arsenal de ferramentas com o objetivo de minimizar seus custos e maximizar o sofrimento para os Estados Unidos.

A China está preparada de uma forma que lhes dá uma vantagem assimétrica na guerra comercial. As últimas tarifas de Donald Trump sobre a China entraram em vigor logo após a meia-noite desta quarta-feira (09/04). A tarifa de 104% sobre todas as importações chinesas que Trump impôs em seu segundo mandato se somará às tarifas anteriores já em vigor, elevando a alíquota média total da tarifa para a China para quase 125%. O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou, após a oficialização da nova taxa, que o governo chinês tomaria medidas enérgicas para defender os interesses do país, mas deixou a porta aberta para negociações sob condições de "igualdade, respeito e reciprocidade". O Ministério do Comércio da China observou que os Estados Unidos há muito tempo desfrutam de um superávit comercial com a China em serviços, totalizando US$ 26,6 bilhões em 2023. Existem algumas opções às quais a China estará menos propensa a recorrer, por enquanto, já que os custos para a própria China podem ser altos.

Isso inclui a desvalorização acentuada do yuan ou a venda agressiva de seus títulos do Tesouro norte-americano. Ambas as medidas podem desestabilizar o próprio mercado financeiro da China e prejudicar seu objetivo estratégico de fortalecer as relações comerciais com outros países. Nas últimas semanas, por exemplo, autoridades chinesas entraram em contato com alguns países do Sudeste Asiático, incluindo Camboja, Laos e Tailândia, para tentar impulsionar o comércio com eles, além de promover o uso do yuan chinês na liquidação de transações. A combinação das últimas contramedidas da China ilustra seu foco crescente em atingir empresas norte-americanas, especialmente aquelas envolvidas em tecnologia de ponta. Em sua intensificação da troca de farpas com o governo norte-americano, a China continua a depender da atração do mercado chinês para empresas, apesar do recente crescimento lento da China, enquanto também busca vencer a corrida pela tecnologia.

Embora o novo investimento estrangeiro direto na China tenha despencado nos últimos dois anos, diversas pesquisas recentes mostraram que muitas multinacionais, desde montadoras a farmacêuticas e fabricantes de chips, estão optando por manter o relacionamento com o país. Ainda assim, as empresas estão se encontrando cada vez mais vulneráveis aos riscos impostos pela China. Um novo relatório encomendado pela Fundação da Câmara de Comércio dos Estados Unidos constatou que a maioria das cerca de 200 empresas norte-americanas pesquisadas nos últimos dois anos identifica a China como sua principal fonte de risco geopolítico. Uma ferramenta que o governo chinês tem usado cada vez mais para promover seus objetivos geopolíticos são suas regras antimonopólio. Por exemplo, alguns acordos de fusão que poderiam ter beneficiado empresas norte-americanas, como a proposta de aquisição da israelense Tower Semiconductor pela Intel, não foram concretizados após as autoridades chinesas terem hesitado em aprová-los.

Em resposta às recentes medidas tarifárias de Trump, a China iniciou na semana passada uma investigação antitruste sobre as operações chinesas da DuPont, que dependia da China continental e de Hong Kong para 19% de sua receita no ano passado, sem dar muitas explicações. O regulador antitruste da China também está analisando um acordo que transferiria o controle de dois portos no Panamá da CK Hutchison, controlada pela família do bilionário de Hong Kong Li Ka-shing, para um grupo de investidores liderado pela BlackRock. Embora nenhuma das empresas ou ativos envolvidos esteja na China continental, a investigação ameaça atrasar o acordo, que se tornou um ponto crítico entre os Estados Unidos e a China. Outra poderosa arma comercial desenvolvida pela China é a chamada lista de entidades não confiáveis, equivalente a uma lista mantida pelos Estados Unidos que restringe empresas e indivíduos estrangeiros considerados prejudiciais à segurança nacional de fazer negócios com empresas norte-americanas.

A China criou a lista negra em 2019, após os Estados Unidos incluírem a gigante chinesa de telecomunicações Huawei Technologies em sua lista. Empresas identificadas pela China como entidades não confiáveis são proibidas de investir no país ou de negociar com empresas chinesas e enfrentam, entre outras restrições, a proibição de entrada de seus principais funcionários. No outono de 2024 e no início de 2025, as autoridades chinesas intensificaram o uso de sua lista de entidades, tanto em frequência quanto em escopo. Mais recentemente, em resposta ao ataque tarifário de Trump, a China ampliou sua lista negra de empresas norte-americanas, de negócios relacionados à defesa para empresas como a PVH, controladora norte-americana da Calvin Klein e Tommy Hilfiger, e a empresa de biotecnologia norte-americana Illumina. A PVH provocou a ira do governo chinês após anunciar que estava removendo o algodão de Xinjiang de sua produção para cumprir a lei norte-americana, enquanto autoridades chinesas acreditam que a Illumina fez lobby para excluir seus concorrentes chineses de partes do mercado norte-americano.

Até o início desta semana, a China colocou 38 entidades norte-americanas na lista negra e provavelmente terá mais empresas como alvo em sua competição mais ampla com os Estados Unidos. Em outra retaliação, a China afirmou ter imposto limites ao comércio para mais de uma dúzia de empresas norte-americanas. A China afirmou ter adicionado 12 entidades norte-americanas a uma lista de controle de exportação, que proíbe a exportação da China de itens que possam ter aplicações militares. Entre elas, estão a Teledyne Brown Engineering e a Insitu, esta última de propriedade da Boeing. Também afirmou ter adicionado seis empresas norte-americanas a uma "lista de entidades não confiáveis", que as proíbe de realizar comércio e investimentos na China. Entre elas estão a Shield AI e a Sierra Nevada. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.