24/Apr/2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está sinalizando que culpará o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) por qualquer fraqueza econômica resultante de sua guerra comercial, caso o banco central não corte as taxas de juros em breve. No processo, ele também pode estar buscando deslegitimar a instituição historicamente independente, de forma a minar sua eficácia. Em uma publicação nas redes sociais na segunda-feira (21/04), Donald Trump repetiu a exigência da semana passada de que o Fed reduzisse as taxas de juros agora. "Praticamente não há inflação", disse ele, criticando o presidente do Fed, Jerome Powell, como "Sr. Tarde Demais" e "um grande perdedor". Ele também acusou o banco central de reduzir as taxas de juros no outono passado para influenciar as eleições de 2024.
Sua publicação desenvolveu uma das crenças de longa data de Trump sobre o Fed: que ele deveria ser mais responsivo aos desejos do presidente. Sua declaração e as de outros assessores alegam que a instituição já se politizou. Segundo o relato de Trump, Powell trabalhou para ajudar Biden durante seu mandato e agora não está disposto a fornecer o mesmo apoio à sua própria agenda de segundo mandato. Destaca-se que Trump nomeou Powell para o cargo em 2018. Não foi dada importância ao fato de que Powell trabalhou em estreita colaboração com o governo Trump em 2020 para fornecer apoio sem precedentes quando a pandemia atingiu o país, ou de o Fed estar preparado para impor uma recessão a Biden em 2023, aumentando drasticamente as taxas de juros para reduzir a inflação.
Powell e seus colegas disseram que o banco central não leva em conta considerações políticas ao definir suas políticas. Powell passou grande parte de seus sete anos como presidente tentando reforçar o DNA apolítico da instituição após os ataques políticos sofridos após a crise financeira global de 2008. O ataque presidencial se concentrou em um episódio em particular. Em setembro, após manter as taxas de juros em torno de 5,3%, a maior alta em duas décadas, por mais de um ano, o Fed cortou as taxas em o,5% em meio a preocupações de que o mercado de trabalho estivesse enfraquecendo enquanto a inflação caía. Após a vitória de Donald Trump nas eleições no início de novembro, o Fed passou a cortar as taxas mais duas vezes, em 0,25% em cada uma delas.
Muitos economistas de Wall Street veem a decisão do Fed de cortar as taxas naquela ocasião e mantê-las estáveis por enquanto como a resposta lógica aos desenvolvimentos econômicos reais e esperados, não a questões políticas. Para alguns analistas, os ataques do presidente Donald Trump ao Fed representam simplesmente uma tentativa de usar o banco central como ‘bode expiatório’ pela iminente fraqueza econômica. Segundo a Renaissance Macro Research, ao argumentar que a economia não precisava de juros mais baixos no ano passado, mas exige juros ainda mais baixos agora, Trump e seus assessores não adotaram um argumento intelectualmente consistente para uma política monetária mais flexível.
O Fed não cortou juros no ano passado para ajudar Biden. Cortou para ajudar o mercado de trabalho, que estava desacelerando como resultado das altas taxas de juros. A previsão é de que a economia provavelmente entraria em recessão neste trimestre devido aos anúncios comerciais imprevisíveis de Trump, sobre os quais o Fed não pode fazer muito. Bancos centrais em outros lugares, incluindo na Europa, têm mais liberdade para cortar juros porque seus governos não arriscaram uma inflação mais alta ao aumentar tarifas e podem se concentrar em amortecer o impacto no crescimento. Não está claro se Trump irá além de repreender Powell para tentar demiti-lo. Powell provavelmente contestaria tal ação na justiça. A confiança dos investidores nos Estados Unidos também pode ser abalada.
A queda das ações e do dólar na segunda-feira (21/04) e a alta dos rendimentos dos títulos podem ser um prenúncio. Essa perspectiva levou alguns republicanos a alertarem Trump contra a ameaça de destituir o líder do Fed. O presidente já criou uma tremenda incerteza em relação à política comercial internacional, forçando todas as empresas norte-americanas a descobrirem quais são suas políticas. Sugerir que Powell poderia ser destituído por meio de uma ação presidencial cria uma incerteza totalmente nova. Mesmo que Trump não destitua Powell, seus esforços para desacreditá-lo podem causar danos duradouros a uma instituição que há muito busca permanecer apolítica e tecnocrática. Segundo a Universidade da Pensilvânia, isso é um verdadeiro desastre para o Fed. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.