24/Apr/2025
Potências emergentes como Brasil, África do Sul e Índia devem redefinir seu posicionamento estratégico e buscar autonomia frente ao acirramento da disputa entre Estados Unidos e China. É isso que sugerem especialistas do setor público e privado ouvidos em pesquisa da Fundação Körber. O estudo, publicado no dia 17 de abril, mostra que há uma percepção mais positiva sobre a influência da China, mas que o não alinhamento prevalece no Brasil e na África do Sul (81% e 82%, respectivamente). A neutralidade também cresceu (de 38% para 52%) na Índia, que tem os Estados Unidos como maior parceiro comercial e a China como adversária na Ásia. A iniciativa foi coordenada no Brasil pelo Brics Policy Center, centro de estudo da PUC-Rio, e busca promover o diálogo da Alemanha com as potências emergentes com base na cooperação. Uma das conclusões é que, mesmo entre os alemães, a histórica parceria com os norte-americanos é vista com ceticismo. A opção pelo não alinhamento saltou de 19% para 29% em um ano. Na Alemanha, o termo “redução de riscos” foi incorporado ao vocabulário dos especialistas.
Primeiro, com foco em reduzir a dependência do petróleo e do gás da Rússia. Depois, com relação à China. Agora, também aos Estados Unidos, à medida que o presidente Donald Trump sobe o tom contra Europa e se aproxima de Vladimir Putin (Rússia). Assim, a Alemanha é forçada a repensar sua relação com os Estados Unidos e buscar equilíbrio no fortalecimento de parcerias, especialmente com potências médias emergentes. Enquanto a opção pelo “não alinhamento” ganha força, as potências médias terão de atualizar essa ideia (que surgiu após a 2ª Guerra) e definir exatamente o que isso significa em um mundo em que os países têm parcerias diversas, complexas e sobrepostas. No momento em que os Estados Unidos recuam da sua posição de liderança sob o isolacionismo de Trump, as potências médias veem uma oportunidade. A ideia de uma ordem multipolar é considerada positiva para Índia, Brasil e África do Sul.
Segundo a análise do Programa de Política Externa Americana da Carnegie Endowment for International Peace, esses países poderiam se beneficiar das tarifas de Trump sobre produtos da China, com o redirecionamento dos mercados, e até explorar essa competição. Mas, o momento exige cautela. Essas possíveis vantagens vêm acompanhadas de grandes riscos para as potências emergentes. Como exemplo de riscos pode-se citar a redução da assistência dos Estados Unidos e a disposição de Trump de usar medidas coercitivas no comércio para pressionar outros países, especialmente os menos poderosos, para atingir seus objetivos. Uma crise econômica global, para não falar de uma guerra, atingiria muitas dessas potências médias com força. A análise também destaca que a natureza imprevisível de Donald Trump abala as instituições que proporcionam um ambiente internacional estável, necessário para o crescimento econômico e segurança dos países emergentes.
A situação atual de instituições internacionais também constitui outro desafio para as potências emergentes. Com a ONU paralisada, sem um processo de reforma significativo à vista, a questão é como a cooperação entre as potências médias pode ser efetivamente organizada para garantir a reforma em direção a um sistema multilateral responsivo que funcione para todos. O ceticismo com relação à capacidade de adaptação das instituições internacionais, que também incluem o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC), foi uma das convergências da pesquisa: 60% dos entrevistados nos quatro países expressaram pessimismo sobre a possibilidade de reformas nos próximos cinco anos. Assim, organizações regionais como a União Europeia e o Mercosul e o acordo comercial entre os blocos, surgem como alternativas estratégicas para as potências médias como contrapeso ao domínio e à concorrência entre as superpotências.
No caso do Brasil, a pesquisa identificou que há fadiga nas relações com Estados Unidos e Europa. O País poderia intensificar e diversificar parcerias, incluindo no Brics, que preside este ano, com foco na integração econômica do bloco, que foi expandido. Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, são membros plenos Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Indonésia e Irã. A busca por alternativas ao dólar, apesar das ameaças de tarifas de Trump contra o Brics, é impulsionada pela percepção de que o domínio da moeda norte-americana é desfavorável para os países emergentes. Essa visão foi compartilhada por 76% dos brasileiros, 72% dos sul-africanos e 56% dos indianos. Mas, há divergências sobre como os países analisados veem o Brics. Os pesquisadores da África do Sul, por exemplo, dão peso maior para o papel do bloco na promoção da cooperação econômica (56%) que Brasil e Índia (39%). Por outro lado, a Índia estava mais inclinada em ver o Brics como uma alternativa para equilibrar a influência dos países ocidentais: 33% dos indianos disseram que essa era a maior expectativa para o bloco, ante 23% dos sul-africanos e 20% dos brasileiros.
As potências médias divergem ainda sobre o foco da política externa. Embora o comércio internacional tenha despontado nos países pesquisados, apenas os especialistas brasileiros citaram o meio ambiente entre as três prioridades. A reforma das instituições internacionais completa a tríade. Os indianos, por sua vez, destacaram como prioridades o comércio internacional (32%), a economia (30%) e a segurança (30%), enquanto os sul-africanos focaram na economia (33%), no comércio internacional (32%) e na integração regional (27%). Para a Alemanha, a guerra na Ucrânia é prioridade indiscutível (42%), seguida pela integração europeia (28%) e pela relação com os Estados Unidos (24%). A pesquisa ouviu ao todo 906 especialistas do setor público e privado dos quatro países (298 brasileiros; 208 indianos; 183 sul-africanos; 217 alemães). Isso inclui pesquisadores, autoridades e atores de diferentes áreas, como política externa, economia e comércio internacional, defesa, segurança e educação, entre outros. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.