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24/Apr/2025

Os riscos das tarifas dos EUA para economia global

O Fundo Monetário Internacional (FMI), no relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO), alerta para os impactos do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a economia global. Neste momento, os riscos para a perspectiva estão inclinados para baixo, tanto no curto quanto no médio prazo, diante de incertezas prolongadas no comércio global. Embora muitos dos aumentos tarifários programados estejam suspensos por enquanto, a combinação de medidas e contramedidas elevou as taxas tarifárias norte-americanas e globais a níveis recordes. Contudo, o contexto para os aumentos das tarifas é "muito diferente". A economia global é caracterizada por um elevado grau de integração econômica e financeira, com cadeias de suprimentos e fluxos financeiros cruzando o mundo. Um potencial desmantelamento pode constituir uma importante fonte de turbulência econômica.

Diante da crescente incerteza sobre o acesso aos mercados, a reação inicial de muitas empresas será pausar, reduzir o investimento e cortar compras. Da mesma forma, as instituições financeiras vão reavaliar sua oferta de crédito às empresas, até que possam avaliar a exposição destas ao novo ambiente. A combinação do aumento da incerteza e o consequente aperto das condições financeiras representam um "choque negativo" na demanda global e pesarão sobre a atividade como tem se refletido nos preços do petróleo. No médio prazo, o dólar pode se desvalorizar, e mercados cambiais podem apresentar forte volatilidade. Isso pode ser difícil de administrar, especialmente para economias de mercados emergentes. Nesse contexto, a política monetária deve permanecer à frente da curva diante de múltiplos desafios como, por exemplo, expectativas de inflação menos ancoradas.

Em todos os casos, a credibilidade do quadro de política monetária e da sua pedra angular, a independência do banco central, permanecerá fundamental. No Relatório de Estabilidade Financeira Global (GFSR), o FMI alerta que os riscos para a estabilidade financeira global aumentaram significativamente por conta da turbulência gerada pelas tarifas recíprocas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Os anúncios de tarifas pelos Estados Unidos e as contramedidas de outros países desencadearam um surto de incerteza política a partir de fevereiro. A magnitude surpreendente das tarifas anunciadas em 2 de abril levou à uma reviravolta nas expectativas para um menor crescimento da economia. O temor bateu rapidamente nos mercados financeiros, com as bolsas de valores altamente voláteis, oscilação dos rendimentos dos títulos soberanos, desvalorização das moedas emergentes e aumento dos spreads de bonds corporativos.

Os riscos para a estabilidade financeira global aumentaram significativamente, impulsionados por condições financeiras globais mais restritivas e pela maior incerteza econômica. O FMI chama atenção para três vulnerabilidades importantes em meio à uma perspectiva econômica global mais sombria: a concentração dos mercados de capitais e avaliações ainda elevadas de alguns ativos apesar da turbulência; pressão em instituições financeiras, em especial, as não bancárias, e, por fim, o contínuo crescimento dos níveis de dívida soberana. A dívida soberana representa agora 93% do Produto Interno Bruto (PIB) global, acima dos 78% de há uma década, e os custos de financiamento têm aumentado em termos reais e nominais.

Os Estados Unidos representam quase 55% do mercado global de ações contra 30% há duas décadas. Novas correções nos preços dos ativos sugerem a necessidade de atenção redobrada, dado o cenário econômico altamente incerto. O papel dos bancos no cenário é crucial uma vez que estão no cerne do mercado financeiro. No entanto, o aumento da exposição a instituições não bancárias (NBFIs) deve ser monitorado de perto. No aspecto macro, a consolidação fiscal é determinante para reduzir os riscos de um cenário mais adverso. Outro aspecto crítico é garantir que o mercado permaneça líquido e funcionando bem. Assim, o FMI está mais cético com o comportamento dos preços nas economias diante dos possíveis impactos da disputa tarifária gerada pelas novas alíquotas recíprocas dos Estados Unidos.

O maior efeito virá nas economias avançadas, enquanto em mercados emergentes, são esperados reflexos distintos. A inflação global deve alcançar 4,3% neste ano e 3,6% em 2026. O FMI elevou a sua expectativa de inflação para as economias avançadas em 0,4% para este ano. No caso dos Estados Unidos, a projeção foi elevada em 1% e no do Reino Unido em 0,7%. O Reino Unido e os Estados Unidos destacam-se tanto pela direção como pela magnitude das suas revisões. No caso das economias de mercados emergentes e em desenvolvimento, os ajustes foram mistos. Na China, a expectativa é de que os preços fiquem contidos, enquanto Europa emergente e em desenvolvimento, Rússia e Ucrânia tiveram revisões para cima.

Na América Latina e no Caribe, os ajustes para cima para Bolívia, Brasil e Venezuela foram compensados por revisões para baixo para Argentina e outros países. A projeção para 2025 foi reduzida em 0,3%. O FMI espera que a inflação convirja para a meta antes nas economias avançadas, atingindo 2,2% em 2026, enquanto em mercados emergentes e em desenvolvimento, o indicador cairá para 4,6% neste período. Na sua visão, a perspectiva dos preços melhorou, mas ainda não retornou totalmente aos padrões pré-pandêmicos e está sujeita a alta incerteza pelo tarifaço de Trump. As expectativas de inflação podem se tornar menos ancoradas com um novo choque inflacionário tão próximo do anterior. O risco de o mundo enfrentar um cenário recessivo neste ano por conta da guerra comercial desencadeada pelas tarifas dos Estados Unidos passou de 17% para 30%

Embora não esteja projetando uma recessão global, o risco de que ela ocorra este ano aumentou substancialmente. O FMI anunciou cortes generalizados em suas projeções econômicas por causa das tarifas. A economia mundial crescerá 2,8% neste ano, projeção 0,5% menor que a anterior, divulgada em janeiro. Para o próximo ano, a expectativa passou para uma alta de 3,0%, ante estimativa de avanço de 3,3% anteriormente. Uma escalada das tensões comerciais deprimiria ainda mais o crescimento e as condições financeiras também poderiam se tornar mais restritivas, à medida que os mercados reagem negativamente à recessão. O risco de recessão econômica nos Estados Unidos passou de 25% para 40%. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.