24/Apr/2025
Segundo o Rabobank, a decisão dos Estados Unidos de aplicar tarifas de 10% sobre diversos produtos agrícolas importados tem provocado realocações no comércio internacional e criado janelas de oportunidade para setores do agronegócio brasileiro, como celulose e café. Em outros mercados, como açúcar, etanol e suco de laranja, os efeitos são mais marginais, mas exigem atenção sobre margens e repasses de preço. No caso da celulose, os importadores chineses se anteciparam à mudança no cenário e passaram a reforçar seus estoques ainda no primeiro trimestre. Houve um aumento significativo das exportações brasileiras em março, com alta de aproximadamente 30% sobre fevereiro. A demanda da China reagiu rápido ao risco de restrições. Com os Estados Unidos “fora do jogo” (o país exporta cerca de US$ 2 bilhões em celulose por ano para a China), o Brasil ganha competitividade como alternativa de fornecimento. O mercado de suco de laranja, apesar de o Brasil ser o principal fornecedor mundial, pode enfrentar efeitos indiretos.
As indústrias estão postergando os reajustes negativos nos preços no varejo norte-americano, aguardando para ver se os 10% de tarifa vão ser mesmo repassados ou absorvidos. É um impacto mais limitado, mas que existe. No setor de café, a análise é de que o Brasil pode sair fortalecido. Os Estados Unidos são os maiores consumidores de café do mundo, com importações entre 23 milhões e 24 milhões de sacas de 60 Kg ao ano. Brasil e Colômbia respondem por mais da metade desse volume. Com a taxação sobre países como Vietnã e Indonésia (46% e 32% de tarifa, respectivamente), o arábica brasileiro se torna mais competitivo. Chama atenção o comportamento dos preços nas últimas semanas. O anúncio das tarifas derrubou as cotações do arábica em 12%, mas com a pausa de 90 dias anunciada depois, o mercado recuperou 9%. Os estoques continuam baixos e os preços estão em níveis elevados. A dúvida agora é como o consumidor norte-americano vai reagir. Essa resiliência é o que o mercado tenta medir.
No mercado de açúcar, o Brasil tem acesso a uma cota preferencial de 155 mil toneladas para exportação aos Estados Unidos, destinada apenas às usinas da Região Nordeste. Fora disso, o açúcar brasileiro entra com tarifa cheia. O impacto direto da nova tarifa é marginal. A maior parte do açúcar brasileiro não vai para os Estados Unidos. Mas pode haver pressão no preço doméstico norte-americano, que já vinha sendo puxado pelo petróleo e pelo câmbio. Sobre o etanol, metade das exportações brasileiras, algo em torno de 1 bilhão de litros, têm como destino os Estados Unidos, sobretudo a Califórnia, que premia produtos com menor pegada de carbono. Esse fluxo não deve ser interrompido agora, mas o etanol brasileiro vai sofrer um pouco com esse aumento de custo. Provavelmente, o impacto será absorvido pelos compradores no curto prazo. Embora o efeito direto das tarifas varie bastante entre os setores, o pano de fundo comum é a volatilidade. O que mais balançou o mercado de açúcar nas últimas semanas não foi a tarifa em si, mas a queda do petróleo e a mudança de humor dos fundos, que estão saindo das commodities. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.