24/Apr/2025
O embaixador Roberto Azêvedo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), afirmou que as relações comerciais entre países mudaram, o que traz grande incerteza aos mercados. Não se sabe qual é a “regra do jogo” no comércio global. A instabilidade é estrutural. O que se sabia sobre as regras que valiam até hoje já não valem mais, pelo menos em boa parte do comércio mundial. Diante desse cenário, a possibilidade de aumento dos acordos bilaterais entre grandes mercados traz riscos. Esses acordos podem trazer oportunidades, podem abrir mercados para os negócios brasileiros.
Mas também há o risco contrário: acordos que priorizem as aquisições de outros mercados em detrimento das exportações brasileiras. Tudo pode acontecer. Esse ambiente de transformação e incerteza coincide com um momento em que as pressões climáticas ganham força, e muitas vezes recaem, de maneira distorcida sobre o agronegócio. O foco saiu das causas óbvias de emissão e vem para o agronegócio, com distorções, como a contabilização dos reflorestamentos e a não contabilização da capacidade de prestação de contas.
A realização da COP30 em Belém será uma chance estratégica para o Brasil apresentar uma narrativa mais construtiva sobre o papel do agro na agenda climática. O agronegócio tem a possibilidade de ser parte da solução. O desafio é produzir mais com eficiência e sustentabilidade, reduzindo a pegada de carbono. No entanto, essa narrativa só terá força se estiver lastreada em dados concretos e em unidade institucional. Só vai se sustentar caso duas coisas acontecerem. Primeiro, se estiver sustentada em fatos. E, segundo, se no Brasil houver uma mensagem harmônica entre o governo e o setor privado.
Em meio à crescente instabilidade das relações comerciais internacionais, sobretudo entre Estados Unidos e China, Roberto Azêvedo alertou que o Brasil precisa agir com cautela, mas não pode se manter paralisado diante das mudanças em curso. É preciso ver o que os outros países estão fazendo, até para poder identificar melhor como responder a essa nova situação. O diálogo com outras nações, e não apenas com os Estados Unidos, será essencial para que o Brasil acompanhe o redesenho das estruturas de comércio global. Inevitavelmente, uma nova ordem, uma nova forma de colaborar, de coordenar e de desenvolver regras vai surgir.
E o importante é que, se o Brasil estiver falando com todos, começará a detectar onde essas coisas estão brotando e como pode participar delas de forma efetiva. Azêvedo também comentou os desdobramentos do acordo entre Mercosul e União Europeia, que ganhou fôlego no ano passado. Ele acredita que a incerteza atual das relações comerciais pode acelerar a assinatura de novos acordos, diante da necessidade de um ambiente mais previsível e estável para o comércio.
União Europeia, Japão, China, Austrália e a Ásia, de maneira geral, estão todos procurando alianças e mecanismos de conexão comercial que sejam previsíveis e estáveis. Um acordo como esse vai nesse sentido. No entanto, o foco europeu, neste momento, está voltado à redefinição da relação com os Estados Unidos. " prioridade é entender como se relacionar com os norte-americanos. E o que acontecer nessa conversa bilateral Europa-Estados Unidos pode, eventualmente, ter impacto na relação comercial do Brasil com a Europa. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.