29/Apr/2025
Em meio às crescentes tensões entre Estados Unidos e China, o ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) Roberto Azêvedo avalia que o Brasil pode se beneficiar no mercado global de commodities e alimentos, mas adverte que o cenário ainda é instável e imprevisível. Na comparação entre a atual conjuntura geopolítica e o contexto de 2018, ele considera que são cenários diferentes, mas há similaridades. A guerra comercial entre as duas potências impulsionou as exportações brasileiras no primeiro mandato de Donald Trump nos Estados Unidos, sobretudo de commodities agrícolas. A tensão atual pode levar a um afastamento das duas economias, fala-se até em desacoplamento. Nesse processo de possível distanciamento, os Estados Unidos tendem a perder parte do mercado chinês de commodities, abrindo espaço para outros fornecedores.
A China vai buscar alternativas, e uma dessas alternativas importantes é o Brasil. Isso é uma realidade inescapável. Apesar da oportunidade, o cenário pode mudar rapidamente. Estados Unidos e China podem fechar um acordo no qual a China se comprometa a comprar mais dos Estados Unidos, e isso pode afetar negativamente o Brasil. O mais importante é manter a capacidade de adaptação. Não se trata de dizer que esse é o cenário mais provável ou menos provável. Trata-se de estar preparado para todos os cenários, porque todos são possíveis. Questionado sobre a possibilidade de o Brasil se tornar o fiel da balança nas relações comerciais globais, o ex-diretor da OMC relativizou: “Acho que o Brasil não tem uma participação tão expressiva no comércio global a ponto de ser o fiel da balança de maneira geral”.
Porém, no segmento de alimentos o País tem um papel estratégico. Na área de commodities alimentares, em particular, o Brasil é um ator muito importante e pode ajudar a moldar uma nova configuração dos fluxos de comércio de alimentos. O Brasil precisa agir com cautela, mas não pode se manter paralisado diante das mudanças em curso. É importante ver o que os outros países estão fazendo, até para poder identificar melhor como responder a essa nova situação. O diálogo com outras nações, e não apenas com os Estados Unidos, será essencial para o Brasil acompanhar o redesenho das estruturas de comércio global. Inevitavelmente, uma nova ordem, uma nova forma de colaborar, de coordenar e de desenvolver regras vai surgir. E o importante é que, se o Brasil estiver falando com todos, vai começar a detectar onde essas oportunidades estão brotando e como pode participar delas de forma efetiva.
Sobre os possíveis desdobramentos das negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que ganhou fôlego no ano passado, o alto grau de incerteza atual sobre as relações comerciais pode acelerar a assinatura de novos acordos, diante da necessidade de um ambiente mais previsível e estável para o funcionamento do comércio. União Europeia, Japão, China, Austrália e a Ásia, de maneira geral, estão todos procurando alianças e mecanismos de conexão comercial que sejam previsíveis e estáveis. Um acordo como esse vai nesse sentido. No entanto, o foco europeu, neste momento, está voltado à redefinição da relação com os Estados Unidos. O que acontecer nessa conversa bilateral Europa-Estados Unidos pode, eventualmente, ter impacto na relação comercial do Brasil com a Europa. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.