05/May/2025
Após aumentos recentes de preço no mercado de celulose de fibra curta, a Suzano, maior produtora dessa commodity, sinalizou que novas negociações para alta nos valores cobrados dos clientes ficariam mais difíceis no contexto de guerra comercial. A pressão de preço do setor, porém, tem uma razão que antecede a insegurança gerada pelas tarifas impostas por parte dos Estados Unidos. A oferta de celulose no mercado cresceu e ainda deve se avolumar, enquanto a demanda pode ser mais vagarosa. Depois de grandes aumentos de capacidade, a exemplo do Projeto Cerrado, da própria Suzano, com capacidade de produção anual de 2,55 milhões de toneladas de celulose de eucalipto, o mercado de celulose viu, no segundo semestre de 2024, um aperto de preços. A melhora vivida no primeiro trimestre de 2025 foi motivada pela parada da gigante chinesa Chenming, que aumentou pontualmente a demanda do setor, em um período de paradas de manutenção das companhias brasileiras.
Para frente, porém, além da guerra comercial e uma possível desaceleração global, os produtores de celulose ainda devem ver dois movimentos importantes de pressão no preço. A construção da nova fábrica da Arauco, prevista para entrar em operação em 2027, com capacidade para 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano; e o movimento de integração de produção de celulose com fábricas de papel na China. Ou seja, a expectativa é de mais crescimento de oferta, com uma possível redução de mercado. Apesar desse contexto, analistas veem fundamentos importantes para seguir apostando em companhias brasileiras do setor. A XP acredita que a competitividade de custos das empresas brasileiras é crucial para mitigar os impactos de eventuais quedas nos preços da commodity, assegurando assim sua posição competitiva no mercado.
Apesar de reconhecer os riscos de curto prazo, as ações da Suzano e da Klabin compõe bem um portfólio de ativos dado o papel natural como hedge cambial, além da exposição a uma commodity que implica crescimento de demanda, como a celulose. Apesar da performance relativamente mais fraca das ações de empresas de papel e celulose neste ano, tanto Suzano quanto Klabin estão sendo negociadas a múltiplos descontados em relação aos seus históricos. Há uma perspectiva estruturalmente positiva por fatores fundamentais de crescimento de demanda como o aumento e o envelhecimento da população e a melhoria nos hábitos de higiene. No entanto, caso a entrada de capacidade da Arauco ocorra em um momento em que a demanda de celulose desacelere, isso poderia implicar riscos para preços de celulose dada a possível situação de sobre capacidade.
A Timenow, empresa de gestão de projetos que participa da construção da nova fábrica da Arauco, afirma que, mesmo com o aumento de oferta, as fábricas brasileiras são desenhadas para um nível de eficiência raro no mundo. Há projetos recentes com potencial de custo de US$ 100,00 por tonelada. O impacto de um excesso de oferta no Brasil está no “fim da fila". Antes das empresas brasileiras passarem por dificuldades com baixos preços da commodity no mercado, outros produtores, menos eficientes, já teriam de pensar em retiradas de capacidade. Para o Itaú BBA, pode haver atraso na nova planta em questão, visto que esse tipo de construção demora de 24 a 30 meses quando não há imprevistos e que esse projeto tem alguns desafios logísticos de transporte de celulose. A integração de fábricas chinesas é um movimento, de fato, negativo para as brasileiras do setor. Reduz a demanda de celulose.
Esse é um movimento que está acontecendo, em parte, suportado pela maior disponibilidade de madeira na China, que está sobrando por conta da desaceleração do setor imobiliário. A competitividade das empresas brasileiras, no entanto, está calcada principalmente, na altíssima produtividade florestal do País. Floresta no Brasil cresce mais rápido do que em outros lugares do mundo, e isso faz com que os produtores brasileiros tenham um custo de produção competitivo. Eles conseguem ser competitivos em qualquer cenário. Essa competitividade não faz das ações dessas empresas um bom investimento a qualquer momento. Em alguns momentos, elas podem já estar precificando um cenário muito bom, o que não é o caso agora. Em outros momentos, há questões relacionadas a essa incerteza do lado da demanda. Essa baixa visibilidade, faz com que o risco desse investimento seja difícil de ser mensurado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.