12/May/2025
A maior missão do agronegócio brasileiro começou a chegar à China na sexta-feira (09/05) com o objetivo de abrir novos mercados para produtos agropecuários nacionais e ampliar o comércio vigente. Um grupo de 150 empresários estará no país ao longo das próximas duas semanas em comitiva coordenada pelo Ministério da Agricultura. Representantes dos setores de frutas, suco de laranja, carne bovina, aves, suínos, café, biotecnologia, reciclagem animal, etanol de milho e derivados estão entre os participantes da missão. A delegação do setor integra ainda a agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estará no país asiático em 12 e 13 de maio para o Fórum Ministerial entre a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e a China.
O foco central da missão é estreitar o relacionamento de cooperação com a China, passando por comércio a investimentos. Naturalmente, aberturas e ampliações de mercado fazem parte da pauta, tendo em vista que a China é o principal destino das exportações do agro brasileiro. A China é o principal parceiro comercial do Brasil e a ida ao país busca reforçar ainda mais os laços e colocar o Brasil à disposição para qualquer necessidade adicional por parte dos chineses. A relação com a China tem atingido um nível de maturidade, de transparência e clareza entre as áreas que negociam nunca visto. O setor produtivo espera que a missão ajude a destravar aberturas de mercado e amplie o acesso de produtos brasileiros ao mercado chinês.
Há expectativa de autorização da China para importação de DDGs (grãos secos de destilaria, subproduto do etanol de milho). O assunto é considerado em estágio de "negociação técnica avançada". Outros produtos que são considerados avançados e que podem ter a conclusão anunciada são as aberturas para entrada de miúdos de aves (em especial coração e fígado), carne de pato e peru. O setor de suco de laranja espera redução tarifária em relação à alíquota cobrada hoje sobre o suco de laranja brasileiro exportado. O Brasil espera, ainda, avanço na negociação quanto à revisão do protocolo de exportação de carnes, assinado em 2015, que prevê, em casos de encefalopatia espongiforme bovina (EEB, doença popularmente conhecida como "mal da vaca louca"), suspensão imediata e total das vendas externas.
O governo brasileiro pleiteia a chamada regionalização dos embargos, ou seja, em casos do mal da vaca louca a suspensão das exportações de carnes da região seria restrita ao raio do local em que o caso foi constatado até a confirmação se um caso atípico ou não, enquanto a China estuda a flexibilização conforme a idade do bovino. Outro tema prioritário da agenda brasileira é a sincronia na aprovação de transgênicos (biotecnologia). Há reuniões previstas entre autoridades brasileiras e chinesas para tratar do assunto, com a participação do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. A demanda é estratégica para o setor, porque o País é referência mundial na área, com decisões baseadas na ciência, afirmou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
O tema desperta atenção tanto da indústria de biotecnologia e insumos, que estará representada pela CropLife Brasil, quanto do setor produtivo de soja e milho porque a demora na aprovação chinesa de cultivares brasileiras afeta o uso desses produtos pelos agricultores brasileiros, já que os grãos não podem ser exportados se a transgenia não for aprovada nos dois mercados. A proposta do Brasil é um memorando de entendimento que permitiria a aprovação simultânea de biotecnologia e a entrada dos eventos de transgenia no mercado chinês. O tema deve ser debatido pelo comitê de biotecnologia da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban) durante a missão brasileira ao país, mas ainda sem sinais sobre o reconhecimento imediato.
O Itamaraty anunciou que Brasil e China já têm 16 documentos fechados e que 32 estão em negociação, incluindo atos relacionados à agricultura. A pauta bilateral entre Brasil e China inclui mais de 50 itens em negociação no âmbito do setor agropecuário. A lista de pedidos brasileiros aos chineses inclui a abertura de mercado para carne bovina com osso, miúdos de aves, suínos e bovinos, farelo de amendoim, lima ácida, arroz, etanol e grãos secos de destilaria (DDGs, subproduto do etanol de milho). A sincronia na aprovação de transgênicos (biotecnologia) também integra a agenda. A revisão do protocolo de encefalopatia espongiforme bovina (EEB, doença popularmente conhecida como "mal da vaca louca") e da regionalização da influenza aviária também estão em fase de discussão técnica.
Para a indústria de carnes, dois temas são prioritários na missão atual: a revisão do protocolo de exportação de carne bovina e a liberação chinesa para entrada da pedra de fel (um cálculo biliar que se forma na vesícula biliar de bovinos, subproduto bovino utilizado para fins terapêuticos). Ambos os assuntos compõem a pauta bilateral entre os países, destaca a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). É um produto com grande valor medicinal na China, chegando a US$ 200 mil por quilo, e, por isso, o setor pleiteia a abertura deste mercado. Há expectativa de avanço nestes dois assuntos. Ainda no setor de proteína animal, há expectativa pela abertura da China para a entrada de miúdos de suínos do Brasil.
O interesse brasileiro deve-se ao potencial do mercado chinês, considerado como remunerador e importante consumidor destes itens, e ao fato de que são produtos com baixo valor agregado no mercado doméstico. O tema está avançado, mas sem confirmação ainda sobre o anúncio. A expectativa é pelo aceite para exportar miúdos suínos internos e pelo reconhecimento do País como livre de febre aftosa, o que permitiria que todos os frigoríficos habilitados possam exportar para China. Atualmente, o Brasil está apto a exportar apenas miúdos suínos externos para a China, como patas. A liberação é válida somente para produtos provenientes de Santa Catarina, o que confere ao Brasil uma participação limitada pelo baixo número de plantas habilitadas. No ano passado, o Brasil exportou apenas 20 mil toneladas de miúdos de suínos externos para o país asiático. Hoje, a China importa cerca de US$ 2,6 bilhões de miúdos de suínos por ano, aproximadamente 30% do total embarcado de carne suína pelo país.
A importação chinesa de miúdos soma cerca de 100 mil toneladas por mês, chegando a 1,2 milhão de toneladas por ano, sobretudo do Canadá, dos Estados Unidos e da União Europeia. A China busca diversificar seu fornecimento de carne suína e miúdos em meio à uma investigação de antidumping sobre a carne suína europeia e a sobretaxas aplicadas sobre os produtos canadenses (25%) e norte-americanos (125%). A China é hoje o principal destino das exportações de produtos agropecuários do Brasil, perfazendo cerca de um terço dos embarques anuais do agronegócio brasileiro. As vendas de produtos agropecuários ao mercado chinês somaram US$ 49,7 bilhões em 2024. Em novembro do ano passado, a China abriu seu mercado para quatro produtos da agropecuária brasileira: sorgo, gergelim, uva fresca e farinha de peixe, utilizada para ração. No último mês, a China abriu seu mercado para pescado extrativo do Brasil. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.