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21/May/2025

Reaproximação entre Reino Unido e União Europeia

O acordo entre Reino Unido e União Europeia, com avanços nas áreas de defesa, comércio agroalimentar e cooperação regulatória, marca um ponto de inflexão político. Trata-se de uma correção de curso nas relações pós-Brexit, mas ainda não de um realinhamento estratégico à altura dos desafios gerados pelo divórcio. Para que essa reconexão gere frutos duradouros, será preciso mais ambição. Com o tempo, o erro do Brexit (político, econômico, estratégico) tornou-se evidência estatística. O crescimento do Reino Unido ficou abaixo do de países comparáveis, como França, Holanda ou Suíça. O comércio caiu como proporção do PIB, e a produtividade e os investimentos patinam há anos. O país exporta menos bens do que em 2016, feito único no G-7.

O suposto “poder de barganha” prometido por seus defensores revelou-se uma ficção. As barreiras à Europa não foram compensadas por nenhum ganho concreto com o resto do mundo. Do lado europeu, a perda foi menor, mas real. A separação fragilizou o bloco num momento em que a competição geoeconômica global exige coesão, escala e projeção estratégica. A exclusão britânica de iniciativas de defesa, pesquisa e comércio foi, por vezes, compreensível, mas custosa. O novo acordo repara parcialmente a fratura. A reaproximação no campo da defesa, com o possível acesso britânico ao fundo europeu de 150 bilhões de euros, é um passo importante ante a debilitação dos compromissos de segurança dos Estados Unidos. Mas, o acordo ainda está longe de expressar o potencial de um verdadeiro “novo capítulo”.

Os avanços no comércio agroalimentar, como o pacto sanitário, são positivos, mas limitados. A criação de um programa de mobilidade juvenil, a cooperação em energia e a extensão do acordo de pesca são gestos de boa vontade, mas ainda operam dentro das margens de um Brexit “duro”. A recusa do Reino Unido em discutir um retorno, mesmo parcial, à união aduaneira ou ao mercado único impõe um teto à cooperação. A União Europeia revela rigidez excessiva, que não demonstrou em acordos com a Suíça, a Ucrânia e a própria Irlanda do Norte, ao condicionar o acesso pleno à aceitação dos quatro pilares do mercado interno (bens, serviços, capitais e pessoas). Não há razão estratégica para negar ao Reino Unido um modelo viável de reintegração gradual.

A lição do Brexit é clara: romper laços comerciais profundos não fortalece uma nação. Ao contrário, enfraquece sua economia, prejudica sua produtividade e reduz sua influência internacional. O que foi vivido pelo Reino Unido não deve ser esquecido, tampouco repetido. Mas esse é precisamente o risco que os Estados Unidos enfrentam sob a política tarifária errática de Donald Trump. Ao apostar no isolacionismo, os Estados Unidos correm o risco de desperdiçar as vantagens do sistema que eles próprios criaram. Como no caso britânico, os custos não são imediatamente visíveis, mas se acumulam, em crescimento perdido, em confiança corroída, em liderança deteriorada. Ironicamente, ao provocar reações adversas em aliados e mercados, Donald Trump pode ter feito um favor involuntário à globalização. Pela primeira vez desde a crise de 2008, a abertura econômica voltou a ocupar um terreno moral e intelectual elevado.

Em vez de aceitarem passivamente o populismo protecionista, governos, empresários e eleitores estão redescobrindo os fundamentos do livre comércio: seus benefícios aos consumidores, seus estímulos à inovação, seu potencial para diluir rivalidades geopolíticas. O mesmo vale para o Reino Unido e a Europa. O momento é de reencontro. Não será possível reconstruir de imediato a confiança perdida, nem apagar os anos de fricção. Mas há espaço, e necessidade, para mais. Uma agenda verdadeiramente estratégica entre Reino Unido e União Europeia não pode se limitar a acordos técnicos. Ela deve ser orientada por uma visão comum de futuro: mais integração econômica, mais cooperação regulatória, mais ambição política. Num mundo em que o multilateralismo está sob ataque, a reconexão entre Reino Unido e União Europeia não é apenas um interesse mútuo. É uma contribuição essencial à estabilidade do Ocidente. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.