28/May/2025
Segundo levantamento da Serasa Experian, o crédito rural e agroindustrial somou R$ 219,7 bilhões no Brasil ao longo de 2024. O valor representa um acréscimo de R$ 271,6 milhões em relação a 2023, de acordo com o comparativo feito pela empresa. Apesar da estabilidade no volume total, o tíquete médio por operação caiu, passando de R$ 193 mil para R$ 183 mil. O total de novos contratos formalizados alcançou cerca de 1,4 milhão no ano passado. O recuo no valor médio por operação reflete o encarecimento do crédito e a mudança de postura dos produtores diante do cenário de juros elevados e da maior exigência de garantias. Em um ambiente de crédito mais restrito, o credor leva mais tempo para aprovar, exige mais garantias e o dinheiro fica mais caro. O produtor passa a tomar menos. O agronegócio brasileiro tem uma necessidade de crédito que ultrapassa R$ 1 trilhão por ano, mas boa parte da demanda não é atendida. A necessidade gira entre R$ 1,2 trilhão e R$ 1,3 trilhão por ano.
O produtor acessa primeiro o recurso próprio, depois o crédito do Plano Safra, em seguida o barter e, por último, o crédito privado. Se o juro fosse mais baixo e a transparência maior, o volume de concessões cresceria muito. O levantamento aponta que a Região Sul concentrou o maior volume de crédito rural e agroindustrial em 2024, com R$ 67 bilhões liberados. Em seguida vieram as Regiões Centro-Oeste (R$ 61 bilhões), Sudeste (R$ 45 bilhões), Nordeste (R$ 26 bilhões) e Norte (R$ 16 bilhões). O Rio Grande do Sul liderou entre os Estados, com destaque para as linhas emergenciais liberadas após perdas climáticas. O volume teve relação direta com os episódios climáticos e o uso das linhas de auxílio. A análise por perfil de tomador revelou um crescimento de 17% no número de contratos realizados por produtores sem registro rural formal, categoria que engloba arrendatários e membros de grupos econômicos.
A prática é legal e comum no setor. Muitas vezes, em uma mesma propriedade, vários membros da família tomam crédito para áreas distintas. Também é comum o produtor arrendar uma fazenda, produzir nela e tomar financiamento sobre essa área. Os pequenos produtores foram os únicos a registrar aumento no tíquete médio por contrato, com alta de 1,6%, para R$ 104,7 mil. O movimento está associado ao uso de linhas emergenciais em áreas atingidas por eventos climáticos. No Rio Grande do Sul, houve muitos contratos de curto prazo com valores maiores para pequenos produtores afetados por perdas climáticas. Foi identificada uma piora na capacidade de pagamento dos produtores rurais. A pontuação média do Agro Score caiu de 619 para 611 pontos entre o quarto trimestre de 2023 e igual período de 2024. A capacidade de pagamento está diminuindo. Ou porque o produtor está mais alavancado, ou porque os custos para produzir aumentaram e a renda não acompanhou.
Se antes ele tinha capacidade para tomar R$ 100 mil, agora é R$ 90 mil, mas ele ainda precisa dos mesmos R$ 100 mil. Isso aumenta o risco de inadimplência. O Agro Score é a ferramenta da Serasa para avaliação de risco no campo e combina dados financeiros com imagens de satélite para estimar a geração de caixa de cada talhão produtivo. A tecnologia permite identificar com mais precisão o risco de crédito. Se uma área sempre produziu 60 sacas de 60 Kg por hectare e agora projeta 30 sacas de 60 Kg por hectare, a receita vai cair e o risco aumenta. Também é possível ver se, em crises anteriores, o produtor manteve os pagamentos. O cenário de recuperação judicial no setor também entrou na análise. Os pedidos de RJ ainda representam parcela pequena em termos absolutos, mas geram insegurança entre credores. Em 2024, foram 1,4 milhão de concessões de crédito e 500 pedidos de RJ.
É ínfimo, mas a percepção de risco sozinha já contamina o ambiente. A política de crédito fica mais rígida e o juro sobe. A preocupação maior da Serasa está no risco crescente nas carteiras das revendas de insumos. Quando se olha os papéis nas mãos das revendas, o risco mais que dobrou em um ano. O produtor muitas vezes consegue se reorganizar porque a terra continua produzindo. Já a revenda depende do recebimento para girar. Os volumes de crédito rural tendem a ser maiores no terceiro trimestre de cada ano, por causa da sazonalidade do setor. Em 2024, essa variação foi menos acentuada, com movimentação mais estável ao longo dos trimestres. Os dados da pesquisa consideram 9,9 milhões de produtores rurais com acesso autorizado ao Cadastro Positivo e/ou registro de atividade como pessoa física. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.