04/Jun/2025
As tensões entre México e Estados Unidos no novo governo de Donald Trump provocaram uma revisão nas políticas de segurança e controle migratório do governo da presidente Claudia Sheinbau. A avaliação, feita pela consultoria Control Risks, é de que as pressões dos Estados Unidos geraram maior rigor nessas duas áreas por parte do México, que com isso almeja proteger seus interesses comerciais. As circunstâncias e as mudanças na relação México-Estados Unidos nesse segundo governo de Trump acabaram pressionando o governo mexicano a adotar medidas de segurança mais fortes contra os cartéis, para conter o tráfico de fentanil, para aumentar a segurança nas fronteiras e impedir ou diminuir o fluxo de imigrantes indocumentados.
Com isso, o México fortalece a narrativa do país nas mesas de negociação e vai poder dizer que não quer essas tarifas e que quer respeitar o T-MEC. No entanto, os avanços conseguidos por Sheinbaum não são garantia de negociações comerciais a favor do México pois o governo norte-americano não definiu metas para a redução do tráfico de drogas ou imigração atreladas à retirada das tarifas. Vai depender muito da retórica de Donald Trump e da disposição dele em aceitar esses avanços no México. O fato é que as medidas do governo têm surtido efeitos. A presidente Claudia Sheinbaum mantém políticas de seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador, como o investimento em programas sociais para distanciar os jovens da criminalidade e a militarização, com a Guarda Nacional sob controle do Exército.
No entanto, tem apostado em novos caminhos como o fortalecimento das polícias civis, da inteligência e do uso de tecnologia. Essa estratégia marca uma diferença em relação ao governo anterior, mais centrado em ações militares de alto impacto. A estratégia do Obrador era muito baseada em militarização e em prender grandes líderes, porque é fácil demonstrar um resultado assim. A Sheinbaum tem esses dois eixos. Mas ela está indo além. Com foco na inteligência, na desarticulação de organizações criminosas e na captura de grandes lideranças dos cartéis, o governo Sheinbaum já realizou milhares de detenções e apreensões de drogas. Nos primeiros 100 dias à frente do Executivo, a presidente realizou 7.720 detenções por crimes de alto impacto, incluindo de grandes lideranças do narcotráfico.
Foram apreendidas 66 toneladas de drogas e desmantelados 115 laboratórios de metanfetamina, segundo a Secretaria de Segurança Pública do México. Está sendo uma estratégia muito mais produtiva do que foi a de Obrador. Sheinbaum afirmou que seu plano de resposta a Trump vai além da lógica de retaliações comerciais. O interesse é o fortalecimento da economia mexicana. O IBMEC explica que o cruzamento das pautas comercial e de segurança é uma característica recente da diplomacia estadunidense com o México. O governo mexicano, historicamente, sempre preferiu negociar tema por tema. O que Trump tem feito é misturar esses temas na agenda bilateral, colocando todos em pauta para que o México ceda em outras frentes.
Por sua vez, a aposta da diplomacia mexicana tem sido mostrar aos Estados Unidos que o aumento de tarifas pode sair caro para os dois países. A grande aposta do governo mexicano foi investir nos elementos de interdependência entre os dois países. Toda estrutura diplomática mexicana tem trabalhado para mostrar que um rompimento pode aumentar muito os custos nos Estados Unidos. O México tem se posicionado como um aliado estratégico dos Estados Unidos contra a China. O governo tenta mostrar que, se os Estados Unidos taxam a China, seria interessante reforçarem as relações com o México. Nesse sentido, o governo Sheinbaum tem adotado medidas como, por exemplo, conter a entrada de investimentos chineses em setores considerados sensíveis.
O governo mexicano interrompeu algumas aprovações para a entrada no país de fábricas chinesas no setor automotivo. Quer evitar mais um ponto de pressão com os Estados Unidos, em uma relação que já está muito tensa, avalia a Control Risks. Ao mesmo tempo, uma maior parceria comercial ou aumento da presença chinesa no México não interessa à presidente Sheinbaum. Isso porque as economias dos dois países competem em determinados segmentos, sobretudo no manufatureiro, a exemplo de eletrônicos de consumo (televisores, monitores e aparelhos domésticos) e autopeças (indústria automotiva). É um aspecto desse jogo, dessa negociação entre a Sheinbaum e Trump: tentar limitar na maior medida possível essa presença chinesa no México, para que o México continue sendo esse parceiro econômico tão importante para os Estados Unidos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.