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04/Jun/2025

China vai jogar duro na guerra comercial com EUA

Em seu aprofundamento no confronto com o governo de Donald Trump nos Estados Unidos, o negociador comercial da China deu uma prévia do principal objetivo de Xi Jinping para esta guerra comercial: não será como da última vez. Em Genebra, em meados de maio, o vice-premiê He Lifeng obteve uma trégua comercial de 90 dias de uma equipe de Trump que até então se recusava a suspender uma ofensiva tarifária contra a China, como já havia feito com outros países. O acordo acalmou os nervos de investidores e mercados em todo o mundo. Agora, depois que ambos os lados reclamaram que o outro não estava cumprindo os termos do acordo, essa trégua comercial está cambaleando, mais uma vez abalando investidores e empresas globais. No centro da tempestade está He, o guardião econômico de Xi, que deixou claro que a estratégia da China nesta guerra comercial não se parece em nada com a abordagem adotada no primeiro mandato de Trump.

Durante as negociações em Genebra, He havia eliminado um último ponto de discórdia ao concordar com as exigências dos Estados Unidos para que a China retomasse as exportações de terras raras. No entanto, desde então, ele tem se mantido firme, adiando a aprovação de licenças para exportar os minerais essenciais para a fabricação de carros modernos e outros produtos. A China culpa os Estados Unidos pelo impasse, afirmando que um alerta contra o uso de certos chips de inteligência artificial da chinesa Huawei Technologies foi uma renovação da agressão norte-americana, e reclamou que os Estados Unidos minaram o acordo comercial. Também se ofendeu com o plano dos Estados Unidos de revogar agressivamente os vistos de estudantes chineses. Os Estados Unidos disseram que o alerta da Huawei foi uma reafirmação de uma política anterior. Trump expressou a esperança de conversar diretamente com Xi para romper o impasse. Uma ligação telefônica pode ocorrer ainda esta semana.

Durante a primeira presidência de Donald Trump, dois anos de negociações comerciais entre China e Estados Unidos resultaram em um acordo amplamente visto como favorável aos norte-americanos. Desta vez, Xi deu a He, um firme defensor do controle estatal, assim como seu chefe, um mandato claro de não atender aos interesses dos Estados Unidos. O acordo de Genebra do mês passado, que a China viu como uma vitória, mostrou a Xi o valor de se manter firme. Xi havia iniciado o segundo mandato de Trump com uma abordagem mais conciliatória. O governo chinês enviou delegações aos Estados Unidos para tentar apelar aos instintos transacionais de Trump, apenas para ter essa estratégia rejeitada por um governo que parecia determinado a confrontar a China. No início de abril, Trump havia aumentado as novas tarifas de importação sobre produtos chineses para um total de 145%. A equipe de Trump também iniciou negociações com outros países, em parte com o objetivo de formar uma frente unida para "isolar a China".

A China passou a jogar duro. Revidou com a mesma intensidade em tarifas e adicionou outras restrições comerciais; a mais letal de todas foram os controles de terras raras. Estrategicamente, Xi sente-se capacitado para endurecer sua posição desde o primeiro mandato de Trump. O arsenal de ferramentas comerciais que a China construiu sob a liderança de He, incluindo controles de exportação de materiais críticos usados na fabricação de chips, carros e jatos F-35, lhe dá a capacidade de causar danos reais aos Estados Unidos. A China também reduziu a lacuna tecnológica com o Ocidente, avançando em muitos setores estratégicos, como produtos de energia renovável, robótica e inteligência artificial. Esse progresso torna o país menos vulnerável às sanções norte-americanas do que no passado. No final de abril, empresas e investidores norte-americanos deixaram claro que não podiam se dar ao luxo de esperar o fim de uma guerra comercial, já que tarifas altíssimas de ambos os lados ameaçavam interromper as cadeias de suprimentos e esvaziar as prateleiras das lojas.

Após rejeitar a tentativa inicial de diálogo da China, Trump enviou o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o Representante Comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a Genebra em meados de maio para conversas com He, seu homólogo chinês. Em um sinal de que a abordagem da China estava funcionando a favor de Xi, He, que foi descrito como sério e reservado por executivos norte-americanos que interagiram com ele, sorriu positivamente ao falar do clima "construtivo" das negociações de Genebra em uma coletiva de imprensa na véspera do anúncio do acordo comercial provisório. A postura assertiva de Xi pode parecer contraintuitiva, até mesmo arriscada. A economia chinesa, pressionada pela crise imobiliária, pelo aumento da dívida e pela queda dos preços, não pode se dar ao luxo de uma queda nas exportações para os Estados Unidos, estimadas em 3% do Produto Interno Bruto da China. A enxurrada de tarifas de Trump em abril desencadeou uma queda acentuada nas encomendas da China, levando a paralisações na produção em todo o país, o que ameaçou a estabilidade do emprego de milhões de chineses.

Gerenciar o relacionamento com os Estados Unidos é fundamental. Mas, politicamente, Xi não pode ser visto como fraco em relação a um arquirrival geopolítico. Na opinião de Xi, as pessoas que consultam as autoridades chinesas disseram que a China, em geral, está mais preparada e autossuficiente do que durante a guerra comercial travada pelos dois países em 2018 e 2019. E o líder chinês preparou uma equipe para assumir uma posição mais dura desta vez. He, seu principal negociador, não tem o tipo de experiência norte-americana que seu antecessor teve. Mas, o que conta mais para Xi é que He, pronuncia-se "Huh", pensa exatamente como seu chefe. Os dois se uniram durante um período como autoridades do Partido Comunista na cidade portuária de Xiamen, no sudeste do país, em meados da década de 1980, e compartilham a crença no planejamento e controle estatal. Desde que He se tornou vice-primeiro-ministro no início de 2023, Xi essencialmente o encarregou de fortalecer a economia chinesa contra os efeitos das tarifas e controles de exportação ocidentais liderados pelos Estados Unidos.

Sob a orientação de He, a China, no início de abril, mirou nos setores de tecnologia e manufatura de ponta dos Estados Unidos, exigindo licenças de exportação para certos ímãs de terras raras usados em produtos como semicondutores e carros elétricos. Não foi uma proibição total, mas rapidamente fez com que o fluxo desses ímãs para os Estados Unidos se esgotasse, já que os fornecedores chineses tiveram que buscar aprovação governamental para cada remessa internacional. Esses controles de exportação se tornaram uma alavanca poderosa para China, e a medida estava entre os aspectos mais preocupantes do conflito comercial para as montadoras ocidentais. Do lado dos Estados Unidos, o governo Trump está conduzindo uma série de investigações que podem levar a tarifas mais altas sobre a China, potencialmente compensando uma decisão judicial recente dos Estados Unidos que busca bloquear a maior parte das taxas de importação de Trump.

A China vê essas ações e o plano de revogar os vistos de estudante chineses como parte do esforço de Donald Trump para aumentar a pressão sobre a China em futuras negociações comerciais. Desde as negociações em Genebra, o Secretário do Tesouro, Bessent, tem indicado que o acordo comercial de "Fase Um" do primeiro mandato de Trump com a China seria um modelo para as próximas negociações. Na China, a Fase Um é vista como a versão moderna dos tratados desiguais que o país assinou em meados do século XIX, parte do que a China chama de "Século da Humilhação" nas mãos de potências estrangeiras. O principal negociador chinês que assinou a Fase Um, o vice-premiê Liu He, falante de inglês e treinado nos Estados Unidos, caiu no esquecimento desde sua aposentadoria em 2023. A China nunca cumpriu os compromissos de compra que ele negociou. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.