09/Jun/2025
Pessoas nascidas a partir de 2020 devem enfrentar problemas de aprendizagem, mais doenças infecciosas e até maior mortalidade por causa das mudanças climáticas. Isso pode levar a adultos e idosos com a saúde mais comprometida nas próximas décadas. Segundo o Departamento de Saúde Global e População da Universidade de Harvard (EUA), os efeitos das mudanças climáticas são devastadores para essa vida que está começando. E ainda o adulto e o idoso vão ter problemas para a vida toda por causa da exposição que sofreram na primeira infância. O estudo “A primeira infância no centro do enfrentamento da crise climática”, focado em crianças de 0 a 6 anos, foi realizado pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), grupo que reúne o David Rockefeller Center for Latin America Studies da Universidade de Harvard, a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, a Fundação Van Leer e o Insper. Hoje, cerca de 18 milhões de brasileiros estão na faixa etária, o que corresponde a 8,9% da população. Os nascidos em 2020 enfrentarão seis vezes mais ondas de calor e quase três vezes mais inundações e secas do que a geração dos anos 1960.
E esses fenômenos são especialmente prejudiciais para bebês e crianças pequenas. São quatro os principais pontos de atenção do relatório: estresse térmico, exposição à poluição, prejuízos à aprendizagem e migrações e insegurança alimentar. O calor intenso e prolongado, que pode levar a exaustão, insolação e até falência de órgãos, preocupa sobretudo entre bebês e crianças pequenas. As crianças na primeira infância não suam como os adultos e não conseguem resfriar o corpo, o que pode levar a processos inflamatórios. Esse aquecimento pode também atrapalhar o sono, o que causa problemas de desenvolvimento e até a ruptura de músculos. Crianças que moram em áreas de precariedade habitacional, alta densidade e menos árvores são ainda mais suscetíveis. Os pesquisadores recomendam também que as escolas e creches em geral tenham as chamadas zonas de resfriamento, com área verde e de sombra, mais ventilação ou ar-condicionado. O relatório explica que a poluição também é mais prejudicial para os pequenos.
As partículas no ar ficam mais na parte de baixo da atmosfera. Como eles são menores, são expostos a um volume maior. Além disso, eles respiram mais rápido que os adultos, também inspirando mais partículas. A exposição aos poluentes pode causar aumento de processos inflamatórios, problemas respiratórios, mais internações e piora na saúde das grávidas, o que pode levar a partos prematuros e a outras consequências no desenvolvimento dos bebês. Na vida adulta, haverá mais risco de doenças cardiovasculares, diabete e obesidade. A destruição da própria escola é um dos impactos na educação da crise climática. Eventos extremos, como os alagamentos no Rio Grande do Sul em 2024, inviabilizaram prédios escolares ou fizeram com que eles fossem transformados em abrigos, o que paralisa as aulas e pode levar a mais abandono de estudantes. O relatório destaca que, só no ano passado, 1,1 milhão de crianças e adolescentes tiveram as aulas suspensas no Brasil por causa de eventos climáticos.
As migrações das famílias por causa dos eventos extremos também são prejudiciais para a continuidade e o acompanhamento dos estudos das crianças. O deslocamento forçado resulta na ruptura dos vínculos escolares, especialmente entre as crianças mais novas, para as quais a escola representa também um espaço de proteção e socialização. Além disso, as estruturas escolares já existentes são inadequadas e aumentam os riscos para os alunos. As pesquisas mostram que o calor extremo prejudica a capacidade de concentração e aprendizagem. Faltam áreas verdes em 43% das escolas de educação infantil das capitais, segundo pesquisa do Instituto Alana. Entre as recomendações do relatório estão justamente a criação de zonas de resfriamento nas escolas, com mais vegetação, espaços com sombra, ventilação e ar-condicionado. Principalmente porque muitas vezes as escolas são o único espaço nas grandes cidades em que as crianças podem ter contato com a natureza. A exposição regular a espaços verdes estimula a atividade física, reduz o estresse, diminui o risco de alergias, fortalece as habilidades cognitivas e promove o vínculo com o meio ambiente.
O estudo deixa claro ainda que as escolas e governos precisam estabelecer protocolos para continuar o atendimento logo após os desastres climáticos. A crise climática também tem levado a perdas agrícolas, prejudicando a produção de alimentos básicos, como arroz e milho. Isso só piora o quadro atual, já grave, de insegurança alimentar. De acordo com dados do Unicef e da Organização Mundial de Saúde, 1 em cada 3 crianças de zero a 4 anos está nessa condição no Brasil (5% com desnutrição crônica e 18% com risco de sobrepeso). Uma das recomendações do relatório é o incentivo a programas de alimentação saudável nas escolas. As migrações das famílias por causa dos eventos extremos, como inundações e secas, também aumentam o risco de desnutrição e dificultam o acesso à alimentação adequada. Mais de 43 milhões de crianças foram forçadas a saírem de casa por causa de desastres climáticos entre 2016 e 2021 no mundo. E há projeções feitas pelo Banco Mundial que indicam que, até 2050, cerca de 216 milhões de pessoas poderão ser forçadas a migrar por causa de condições ambientais insustentáveis; 40% delas, crianças. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.