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11/Jun/2025

Brasil: custo para converter pastagens degradadas

Segundo o Itaú BBA, a conversão de todas as pastagens degradadas existentes no Brasil com aptidão para a agricultura demandará um investimento de R$ 482,6 bilhões caso sejam todas transformadas em lavouras de soja. O montante equivale a um Plano Safra inteiro, que financia toda a produção agropecuária do Brasil em um ano. Embora a perspectiva não seja de empenhar esses recursos em apenas um ano, o cálculo dá a dimensão do desafio para aumentar a produção agrícola sem derrubar vegetação nativa. Seria uma enorme oportunidade para o agro capitalizar em cima de uma demanda por grãos que vai crescer, produzindo com sustentabilidade e evitando uma emissão colossal de carbono, usando o próprio território. O cálculo considerou levantamento da Embrapa segundo o qual há 28 milhões de hectares de pastos com degradação intermediária a severa no país, mas com potencial para serem transformados em cultivos agrícolas.

A conclusão baseou-se na experiência do Itaú BBA no Programa Reverte, de financiamento para conversão de pastagens no Cerrado, que o banco opera em conjunto com a Syngenta e a organização The Nature Conservancy (TNC). Para a conversão de pastos com degradação intermediária, o custo médio tem sido de R$ 16.904,00 por hectare, enquanto para a conversão de pastos com degradação severa, o custo fica em R$ 17.784,00 por hectare. A diferença deve-se à necessidade de aplicação de cal e adubação em pastos mais degradados, além de essas áreas exigirem mais manejo do solo. Se todos os produtores já tivessem as máquinas e os equipamentos, como pá, motoniveladora, subsolador, escarificador e grade, o custo cairia a R$ 188,7 bilhões. Os custos bilionários conseguem se pagar com o tempo, mas não no curto prazo. O motivo é que, nas primeiras safras, a fertilidade do solo ainda é prejudicada, e os índices de produtividade no início tendem a ser menores. A produtividade agrícola da soja e do milho tendem a alcançar seu potencial após cinco safras.

A taxa interna de retorno (TIR) média estimada de projetos de conversão de pastos é de 8% em dez anos. O estudo parte da premissa de que todo produtor implantaria a lavoura de grãos logo ao fazer o primeiro manejo de solo, mas nem sempre este é o caso. Muitas vezes o produtor prefere começar a converter um ano antes, plantar braquiária nesse período para fazer palhada e só no ano seguinte planta soja. Geralmente, o produtor que produz em terra própria prefere trabalhar desta forma, enquanto quem arrenda terra de outros preferem converter o pasto em maio para, em setembro, já plantar soja, ainda que no começo ela tenha uma produtividade menor, para garantir fluxo de caixa. Ainda que os retornos demorem, o produtor pode ter um ganho patrimonial que não aparece imediatamente: a valorização da terra. Se todos os 28 milhões de hectares de pastos degradados no Brasil fossem convertidos para soja, as fazendas teriam uma valorização quase trilionária, de R$ 904 bilhões. Na média nacional, terras com lavoura valem 2,4 vezes o preço de terras de pastagem.

O avanço dos grãos sobre esses 28 milhões de hectares evitaria a devastação dessa área de mata nativa, o que pouparia a emissão de 3,5 bilhões de toneladas de carbono. A conversão dessas áreas também teria também um impacto relevante na oferta de grãos. O Brasil pode ganhar 104,7 milhões de toneladas a mais de produção de soja, o que equivale a duas produções de Mato Grosso. No caso do milho, que seria plantado na 2ª safra, a produção adicional chegaria a 52,8 milhões de toneladas. A premissa trabalhada é de que todas as pastagens degradadas seriam transformadas em lavouras de grãos, mas a conversão de pastos pode se dar também para outros tipos de cultivos. Segundo a TNC, é importante que haja diversificação na produção implantada sobre os pastos degradados, como em pecuária intensiva, sistemas de integração, recuperação de vegetação nativa e outros cultivos. A diversificação melhora a infiltração de água nos solos e aumenta a resiliência às mudanças climáticas. Para isso, os instrumentos financeiros precisam estar adaptados a outros perfis financeiros.

Os produtores hoje já convertem pastos para agricultura, a uma taxa média de 1,5 milhão de hectares transformados todo ano, segundo a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). Sem incentivos, esse ritmo levaria o Brasil a converter todos os seus pastos degradados daqui 18 anos. Para acelerar essa transformação, o governo vem implementando um programa de conversão de pastagens, rebatizado de Caminho Verde Brasil, que está em fase de estruturação de financiamento. O maior desafio para efetivar a conversão dos pastos hoje é o custo financeiro, dado o alto nível da Selic. No leilão do Ecoinvest que está em andamento para apoiar o programa Caminho Verde Brasil, o governo estima que as taxas ficarão na casa de um dígito. Outro desafio é a necessidade de monitoramento das áreas, para garantir que não voltem a se degradar. Além disso, é preciso garantir assistência aos produtores, já que muitas vezes os pastos degradados estão na mão de pecuaristas, que não têm o mesmo conhecimento dos agricultores sobre lavouras. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.