09/Jul/2025
O produto na gôndola do supermercado é apenas a ponta do iceberg. Se não chover no campo, e se as cadeias produtivas não estiverem organizadas, inclusive com a presença dos pequenos produtores que tiram o sustento da terra, nada vai funcionar de forma orgânica, diz o presidente da Unilever Alimentos no Brasil, Rodrigo Visentini. Além disso, com as mudanças climáticas, uma espécie de tempestade perfeita pode estar se formando no horizonte. “O custo da inação já está acontecendo.” Por isso, a COP30, que será realizada em novembro em Belém (PA), deve ser tratada como um fórum essencial para a discussão de temas como fontes renováveis de energia e a agricultura regenerativa. Para o executivo, “se a gente não fizer nada agora, o risco é não ter alimento no futuro. A agricultura regenerativa não é moda, é uma necessidade”. Segue a entrevista:
O tema da alimentação saudável se relaciona diretamente com sustentabilidade. Existe uma discussão importante sobre os alimentos ultraprocessados e seus impactos na saúde. Como esse assunto é tratado na Unilever Alimentos?
Rodrigo Visentini: Esse é um tema que a gente discute muito, sem dúvida. Na Unilever, temos muitos cientistas, uma estrutura forte de pesquisa e desenvolvimento, e nossa postura é sempre dialogar com especialistas e estudiosos da área. Mas, como indústria, nós focamos mais na qualidade dos ingredientes do que no grau de processamento em si. Por exemplo, na nossa granola da Mãe Terra, trabalhamos com ingredientes orgânicos, veganos, de agricultura regenerativa, como aveia e açúcar demerara. Na maionese, usamos ovos caipiras e óleo de soja regenerativo, não transgênico. A nossa Maizena não contém glúten. Ou seja, estamos muito mais preocupados com o que usamos e como esses ingredientes são consumidos do que com a discussão sobre o processamento em si. É assim que a gente enxerga o papel da indústria de alimentos. A comida tem que ser saudável e gostosa também. É importante reforçar que não se deve vilanizar um alimento isoladamente. O mais relevante é o conjunto da alimentação no dia a dia.
Como a agricultura regenerativa está presente na cadeia de produção de vocês?
Rodrigo Visentini: A aveia usada na granola Mãe Terra vem de agricultura regenerativa, cultivada no Sul do Brasil, onde também se planta trigo. É uma escala menor do que a da maionese, claro, que está presente em oito, nove ou até dez lares brasileiros. Mas agora, com a maionese, estamos falando de um impacto em escala realmente grande. É importante lembrar que o conceito da agricultura regenerativa envolve o uso de menos pesticidas, menos água e a proteção da biodiversidade. A ideia principal é melhorar a saúde do solo e promover práticas sustentáveis, ao mesmo tempo em que se garante a produtividade do agricultor. O produtor tem um papel central e precisa continuar tendo rentabilidade. Sustentabilidade, nesse sentido, também tem uma dimensão econômica. A meta global da Unilever é alcançar um milhão de hectares com agricultura regenerativa até 2030. Esse projeto com o óleo de soja vai impactar 45 mil hectares. É um primeiro passo. Vamos ampliar para outras matérias-primas ao longo do tempo, mas nosso foco agora é fazer esse projeto funcionar bem.
No campo das emissões de carbono, há metas específicas para serem alcançadas pela Unilever Alimentos?
Rodrigo Visentini: Temos uma meta clara: até 2030, zerar as emissões líquidas de carbono. Isso envolve toda a cadeia, não apenas o que acontece dentro das nossas fábricas. Além disso, temos as metas da redução de plásticos e da agricultura regenerativa, como mencionei. Os frascos de ketchup e Helmann’s são 100% reciclados e recicláveis. No caso da maionese, 40% dos frascos já utilizam plástico reciclado. A meta é chegar a 50% até o fim do ano. Estamos avançando de forma consistente nessa frente.
O Brasil vai sediar a COP-30 pela primeira vez, em Belém. Como o evento se relaciona com os negócios da Unilever Alimentos?
Rodrigo Visentini: A COP30 é superestratégica não só para alimentos, mas também para toda a Unilever. A empresa, de maneira institucional, vai estar dialogando com outros atores durante a conferência. A gente não faz nada sozinho. É necessário ter os órgãos do governo, as indústrias, os parceiros, as ONGs envolvidas para discutir o impacto climático, o que já está acontecendo, aliás. Tem uma visão que a gente compartilha muito internamente, que é: isso não é custo, é investimento. Se você não fizer a transição para fontes renováveis, agricultura regenerativa, por exemplo, o custo virá de qualquer forma. Ou seja, o custo da inação já está acontecendo. Então, a COP-30 é um fórum essencial para discutir temas como fontes renováveis de energia e a agricultura regenerativa, tópicos muito relevantes para nós. A resiliência climática é fundamental, especialmente no setor de alimentos. Se a gente não fizer nada agora, o risco é não ter alimento no futuro. A agricultura regenerativa não é moda, é uma necessidade. O solo já foi degradado, então não basta mais não piorar, é preciso melhorar. E para isso, precisamos de todos os elos da cadeia.
O sr. vê o setor privado efetivamente engajado nesses temas? Há diálogo real entre os elos da cadeia?
Rodrigo Visentini: Existem muitas indústrias e fornecedores com quem trabalhamos que já entenderam o recado. A seleção de parceiros hoje passa por esse critério também. Seja quem fornece a resina plástica, seja os agricultores ou os fabricantes de embalagens, tem bastante gente que percebeu que sustentabilidade não é um custo adicional, é uma estratégia de sobrevivência. A preservação do meio ambiente é vital. Nós, como indústria, enxergamos assim.
Fonte: Broadcast Agro.