19/Aug/2025
Existem estimativas de que, em 1970, a indústria de alimentos no Brasil era responsável por absorver cerca de 35% do valor da produção agropecuária destinada à alimentação. No ano passado, esta porcentagem subiu para 62%. Considerando o enorme avanço da atividade produtiva rural, pode-se inferir a expansão deste moderno setor de transformação industrial. Tal crescimento em pouco mais de cinco décadas foi fruto de muita tecnologia industrial e organização de fornecedores, mas também de uma mudança estrutural importante. Nos anos 70 do século passado, predominava a base extensiva no campo. Ao longo do tempo, a indústria gerou inovação no campo, estimulando boas práticas agrícolas, tecnologia de conservação, padronização, rastreabilidade e controle sanitário, tudo visando à qualidade. Os resultados foram impressionantes.
Em preços constantes para 2024, os dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) mostram que o faturamento deste setor industrial saltou de R$ 250 bilhões em 1970 para R$ 1,277 trilhão em 2024, um crescimento de 409,9%, na taxa média de 3,1% ao ano. Hoje existem mais de 40 mil estabelecimentos industriais de alimentos integrando a agropecuária com a demanda urbana, interna e externa. Uma grande inovação: a indústria compra 68% da produção da agricultura familiar, mudança estrutural em relação às origens do segmento, incluindo 99% da produção de cacau, 90% do leite, 80% da uva e 50% da goiaba. O faturamento do setor no ano passado equivaleu a 10,8% do PIB nacional, gerando 72 mil novos empregos diretos, o que equivaleu a 25% de todos os postos de trabalho criados no ano para a indústria de transformação. O total de empregos diretos chegou a 2,075 milhões e mais 8,3 milhões de indiretos, o que equivale a 10% de toda a força de trabalho no País.
Pelo terceiro ano consecutivo, o Brasil foi o maior exportador mundial de alimentos industrializados em volume, no valor de US$ 66,3 bilhões, 6,6% a mais do que no ano anterior, 2023. O setor foi responsável em 2024 por US$ 57,4 bilhões de superávit comercial, ou 77% do saldo comercial total do Brasil. As exportações foram para 190 países e territórios, o que mostra a qualidade dos produtos. O destaque foi a Ásia, com US$ 25,7 bilhões, seguida pela Liga Árabe (US$ 12,6 bilhões), União Europeia (US$ 8,4 bilhões) e Estados Unidos (US$ 4,5 bilhões). Mas, o consumo doméstico também segue crescendo. Só 28% são destinados ao comércio internacional; cerca de 72% ficam no mercado interno. As vendas no varejo cresceram 8,8% de 2023 para o ano seguinte, e o food service teve alta de 10,4%. Todos esses números mostram o espetacular desempenho da indústria de alimentos no Brasil, e é impossível deixar de considerar a grande contribuição do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) nessa história.
O Ital, criado em Campinas (SP) nos anos 1960, graças à visão de André Tosello e de seus companheiros de trabalho, foi sem dúvida um momento central para o desenvolvimento do setor. Ainda naquela década surgiram as primeiras plantas-piloto para testes industriais, em parceria com a FAO; depois vieram novos temas como tecnologia de embalagem, controle pós-colheita, análise de contaminação, controle de qualidade, novos ingredientes e assim por diante. Há atualmente grande expectativa no setor quanto às tarifas colocadas pelo governo norte-americano aos exportadores brasileiros. As lideranças se movimentam com vigor para negociar os termos destas tarifas, ao mesmo tempo em que buscam com afinco novos mercados. Afinal, tem muita gente trabalhando na indústria de alimentos e muita gente dependendo da continuidade da atividade, no campo e na cidade. Fonte: Roberto Rodrigues. Broadcast Agro.