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08/Oct/2025

Brasil-EUA: entrevista Sergio Vale - MB Associados

Economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale avalia que a aproximação entre Donald Trump e Lula, os presidentes dos Estados Unidos e do Brasil se falaram por telefone na segunda-feira (06/10) mostra que a "química" entre os dois deve “ter aumentado ainda mais”. Isso pode se acelerar num eventual encontro. O presidente dos Estados Unidos deixou de lado a questão política, que, segundo Vale, foi “muito mal colocada”, e passou a focar no debate econômico. “Trump entendeu que não tinha nenhuma crise política, não tinha nenhuma situação concreta”, afirma. Mesmo com o avanço nas relações comerciais entre Estados Unidos e Brasil, Vale ainda vê um Trump errático e destaca que a conversa será liderada pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, o que pode trazer uma carga mais ideológica e menos pragmática na negociação entre os dois países. “O Trump, como tem uma visão muito pró-negócios, no geral, voltou à realidade de negociar do ponto de vista comercial, que é o que interessa a ele. Isso não significa que a gente não tenha estresse ainda por conta disso”, acrescenta. Segue a entrevista:

Qual o impacto das tarifas até agora e como avalia essa aproximação entre Lula e Trump?

Sergio Vale: Vemos alguns setores sendo mais impactados por razões óbvias, mas, no geral, a gente sabia e tinha ideia de que o impacto agregado de PIB e de comércio como um todo iria ser relativamente pequeno, por desvio de comércio e pelas exceções que foram sendo colocadas ao longo do tempo. De certa forma, tem ficado claro que toda a discussão colocada em julho era muito por informações que chegavam ao Trump e que davam a impressão de que o Brasil estava num processo de guerra civil, de que o presidente já iria cair e o Bolsonaro estava pronto para tomar posse, o que está muito longe de ser verdade. Aí, vem a realidade de que o Bolsonaro foi condenado por um colegiado. A gente vai para uma realidade que tem de deixar de lado essa questão política, que foi muito mal colocada, e focar nas questões econômicas, que sempre foram de interesse do Trump. Esse encontro mais positivo que a gente teve hoje é muito fruto dessa percepção do Trump de que, em termos de negócios, faz mais sentido ir por esse caminho do que aquele caminho que estava vindo em julho, da questão política, que não iria entregar resultados efetivos para os norte-americanos. O Trump percebeu isso. Finalmente.

E qual tem sido o impacto econômico para os EUA com a tarifa sobre o Brasil? O impacto tem sido aumento de preços?

Sergio Vale: A gente vê, em alguns casos específicos, especialmente de carne e café. Mas tem um trabalho muito grande sendo feito pelas empresas brasileiras e pelas empresas norte-americanas de mostrar os efeitos negativos. Há uma percepção, especialmente por parte do empresariado norte-americano, que não é explícita, obviamente, de que há um descontentamento com tudo que está sendo feito do ponto de vista econômico em relação às tarifas. E há um esforço das empresas para tentar minimizar esses impactos. De certa forma, no caso brasileiro, pela sólida e longa relação entre as empresas brasileiras e norte-americanas, fazia sentido ir por esse caminho (de negociação), e o Trump entendeu que não tinha nenhuma crise política, não tinha nenhuma situação concreta. Agora, isso não exime o fato de que o Trump, a qualquer momento, pode ter um chilique tarifário de novo acontecendo. Muito provavelmente, ao longo do governo, ele vai ficar voltando nessa questão tarifária, porque ela não vai fazer o que ele quer. Não vai mudar a balança comercial, não vai trazer emprego, não vai trazer indústria para os Estados Unidos. Toda hora ele vai sacar as ideias tarifárias. Isso vai continuar acontecendo. Não significa que no nosso caso vai ser mais agressivo, mais intenso. Não parece ser mais o caso.

É um Trump errático…

Sergio Vale: Esse Trump errático, que vai e volta o tempo inteiro, e que vai continuar acontecendo. Mas é um Trump que, talvez, tenha percebido que tem uma questão institucional aqui maior e que não era uma coisa específica do Alexandre de Moraes. Talvez tenha chegado a ele que o Brasil estava em convulsão e estava a postos de o Bolsonaro virar presidente de novo. De repente, descobriu que não era nada disso. Então, o Trump, como tem uma visão muito pró-negócios, no geral, voltou à realidade de negociar do ponto de vista comercial, que é o que interessa a ele. Isso não significa que a gente não tenha estresse ainda por conta disso. Cada dia é uma novidade. Mas, pelo menos, eu acho que tira um pouco essa pressão política muito intensa que apareceu de partida, que assustou todo mundo e que não fazia sentido ali em julho.

Deve caminhar para um cenário mais positivo para o Brasil, então?

Sergio Vale: Na verdade, a gente já viu isso acontecer no encontro da ONU, com aquela ideia da química positiva nesses dois lados. Eu acho que a gente está caminhando para essa química ter aumentado ainda mais, e isso pode se acelerar num eventual encontro. O que a gente precisa olhar com atenção, e que fica um pouco de preocupação, é que o Trump delegou isso para o Rubio (Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA). Fica um pouco de preocupação porque a esfera de atuação da Secretaria de Estado pode, talvez, ser um pouco mais difícil. Talvez, aí tem um pouco mais de uma carga ideológica e menos pragmática. Isso pode colocar um pouco de dificuldade na negociação. Agora, lembrando, como sempre de novo: o Trump muda de ideia a cada dia. Pode ser que, daqui a pouco, ele simplesmente ache o Lula terrível. Mas, por ora, o que a gente tem visto acontecer nas últimas semanas é uma evolução positiva. Começou muito mal essa história em julho, mas, com o desenrolar das negociações por trás aparecendo, a gente viu um cenário muito melhor do que o que estava aparecendo em julho.

Fonte: Broadcast Agro.