27/Oct/2025
Segundo o Rabobank, a produção de grãos no Brasil é cada vez mais resultado de eficiência e menos de expansão territorial. A produtividade cresceu 5,9% ao ano nas últimas três décadas, enquanto a área plantada avançou 3,6%. Há dez anos, uma colheita de 50 sacas de 60 Kg por hectare era excelente. Hoje, a média nacional chega a 66 sacas de 60 Kg, reflexo direto da tecnologia aplicada ao campo. O avanço tecnológico mudou o modo como o agricultor brasileiro lida com o risco. A tecnologia passou a ser uma ferramenta de mitigação econômica e agronômica. A combinação de correção de solo, biotecnologia e agricultura de precisão reduziu custos e perdas, acelerou o plantio e consolidou o modelo de duas safras no mesmo ano agrícola. Em Mato Grosso, 57% das áreas de soja são seguidas por milho 2ª safra. No Brasil, a média é de 37%.
A transformação tecnológica começou nos anos 1970, com o uso do calcário agrícola que corrigiu a acidez dos solos do Cerrado e permitiu o avanço da produção. A partir dos anos 2000, as sementes geneticamente modificadas elevaram a produtividade e reduziram o uso de defensivos. Essas inovações foram essenciais para que o produtor brasileiro passasse a enxergar o solo como um ativo estratégico. A agricultura nacional entrou agora em uma nova fase, marcada por digitalização, automação e inteligência artificial. Sensores, imagens de satélite, pulverizadores seletivos e máquinas autônomas estão ampliando o controle sobre a lavoura. Pulverizadores com visão computacional conseguem aplicar herbicidas apenas onde há infestação, reduzindo em até 50% o uso de químicos e o custo por hectare. A automação também avança rapidamente.
Tratores inteligentes e robôs agrícolas já realizam medições de altura das plantas e identificação de pragas em campo, mesmo sob condições adversas. Ferramentas de inteligência artificial vêm sendo usadas para prever surtos de pragas e doenças, otimizar irrigação e identificar as melhores janelas de plantio. A decisão deixa de ser reativa e passa a ser baseada em dados. Outro eixo da modernização é a rastreabilidade. O Rabobank destaca o uso crescente de blockchain para garantir transparência na cadeia de suprimentos e atender às exigências ambientais. A EUDR exige prova de que a soja não venha de áreas desmatadas após dezembro de 2020, e o blockchain pode ser uma ferramenta crucial para atender a essa regra. O ecossistema de inovação do agro brasileiro também se fortaleceu. Entre 2020 e 2025, o número de startups agrícolas passou de 1.574 para cerca de 2.000, o equivalente a mais de 80% das agtechs da América do Sul.
Nesse mesmo período, o Brasil concentrou mais da metade dos investimentos regionais em tecnologia agrícola, com pico de US$ 330 milhões em 2023. As soluções “dentro da fazenda” já são o maior segmento, com foco em gestão, automação e monitoramento ambiental. Apesar do avanço, o uso de tecnologia ainda é desigual. O acesso a crédito segue limitado, especialmente para pequenos e médios produtores. Além disso, as diferenças regionais em infraestrutura e conectividade dificultam a expansão digital, e a escassez de mão de obra especializada limita a adoção plena das novas ferramentas. A continuidade dos ganhos de produtividade dependerá de investimento em pesquisa aplicada e formação técnica. O Brasil tem clima, solo e escala. Mas, o que mantém sua competitividade é a capacidade de transformar inovação em produtividade e conformidade ambiental. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.