28/Oct/2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente americano Donald Trump mostraram otimismo sobre um avanço na negociação comercial entre os dois países. Lula afirmou que a busca de soluções para as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e a revisão de sanções a autoridades começam “imediatamente”. Trump não tomou uma decisão no encontro, mas disse que os Estados Unidos estão abertos a “avançar rápido na discussão”. O Brasil busca a suspensão do tarifaço durante o período de negociações. A pausa seria semelhante à concedida a outros países, como a China. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, disse que um acerto levará ainda algum tempo de negociação. “Acreditamos que, no longo prazo, é benéfico para o Brasil nos tornar seu parceiro comercial preferencial em vez da China, por causa da geografia, da cultura e alinhamento em muitos aspectos”, disse Rubio.
“Obviamente, temos alguns problemas com o Brasil, particularmente em relação a como alguns de seus juízes têm tratado o setor digital dos Estados Unidos, afetando pessoas localizadas em nosso país por meio de postagens em redes sociais. Teremos que lidar com isso também. Isso acabou se misturando a toda essa questão. Mas o presidente vai explorar se há maneiras de superar tudo isso, porque acreditamos que seria benéfico. Vai levar algum tempo”, afirmou o chefe da diplomacia dos Estados Unidos. Além da taxação, outros temas foram colocados na mesa pelo presidente brasileiro. Lula se ofereceu para intermediar as questões com a Venezuela, defendeu que a América do Sul é zona de paz, e fez comentários sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro para afirmar que não há motivo para sanções a autoridades brasileiras.
Trump chegou a dizer que poderia baixar o tarifaço de 50% sobre a pauta de exportações brasileira, sob certas condições. Lula disse que um acordo amplo talvez não fosse atingido agora. A declaração reflete uma preocupação de fundo com a influência chinesa na América Latina. Essa pressão já foi feita pelos Estados Unidos com a Argentina, para um socorro financeiro, e sobre o Panamá, com a ameaça de retomar o controle do canal. Mas, a diplomacia aposta que a não adesão brasileira à Nova Rota da Seda (programa chinês lançado em 2013 com o objetivo de investir em infraestrutura em outros países como forma de aumentar a influência da China em todo o mundo) pode ser um atenuante. Nesta segunda-feira (27/10), Donald Trump deixou em aberto a possibilidade de atender ao pedido do presidente brasileiro para rever o tarifaço. “Tivemos uma boa reunião. Vamos ver o que acontece. Não sei se algo vai acontecer, mas vamos ver. Eles gostariam de fechar um acordo. Vamos ver, agora eles estão pagando acho que 50% de tarifa. Mas tivemos uma ótima reunião”, disse Trump.
Trump também relatou ter ficado impressionado com Lula. Ele quis saber da trajetória de vida política do petista e até perguntou sobre os 580 dias que ele passou preso para depois voltar ao poder. “Quero desejar feliz aniversário ao presidente. Hoje é o aniversário dele. Ele é um cara muito vigoroso, na verdade, e foi muito impressionante”, afirmou Trump. O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, disse que o ponto mais importante na conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi a “reaproximação política” entre os dois. Isso, segundo Alckmin, viabilizará a discussão sobre questões técnicas a partir de agora. O presidente Lula afirmou que “não era possível, nem vocês acreditavam, que numa única conversa a gente pudesse ter (resolvido) os problemas”. Alckmin afirmou que o prioritário é tirar os 40% de sobretaxa imposta pelos Estados Unidos.
O presidente Lula afirmou que estabeleceu com Donald Trump uma “regra de negociação” em relação ao tarifaço, que envolve o contato direto entre os dois chefes de Estado, sem intermediários. “Toda vez que tiver uma dificuldade eu vou conversar pessoalmente com ele (Trump). É isso. Ele tem o meu telefone, eu tenho o telefone dele, nós vamos colocar as equipes para negociar. A minha equipe é de alto nível, a minha equipe é o Geraldo Alckmin, o Fernando Haddad e o Mauro Vieira”, disse o presidente. Lula repetiu que o governo brasileiro quer negociar. Citou especificamente o caso dos ministros do Supremo Tribunal Federal punidos com a perda de vistos e até com sanções mais severas, como é o caso do ministro Alexandre de Moraes e de sua família. Lula entregou a Trump um documento com os pontos que queria conversar. Segundo a ESPM, o encontro entre os presidentes Lula e Trump abriu uma etapa formal de negociação entre os dois países para tentar reduzir tarifas aplicadas aos produtos brasileiros.
O diálogo é o início de um “rito negociador” mais estruturado. A reunião realizada durante a 47ª Cúpula de Líderes da Asean marca uma definição na relação bilateral. A partir de agora, haverá uma troca mais efetiva de propostas. O Brasil já apresentou o que deseja, que é a redução tarifária. Os Estados Unidos devem apresentar suas contrapropostas, e daí se busca o consenso. O peso político por trás das tarifas perdeu espaço para o fator econômico. No Brasil, setores exportadores pressionam por alívio tarifário após perda de mercado e demissões. Nos Estados Unidos, há interesse em garantir oferta de produtos que tiveram alta de preços, como carne, café e frutas. Outro ponto é a agenda de terras raras, insumos estratégicos para a indústria de defesa e de alta tecnologia. Após restrições da China à exportação desses minerais, os Estados Unidos passaram a diversificar fornecedores, firmando acordo com outros países.
Nesse movimento, o Brasil passa a figurar no radar norte-americano como ator estratégico no segmento. A aproximação, porém, não deve afetar a relação com a China. A China adota postura pragmática e reconhece a relação histórica entre Brasil e Estados Unidos. A China sabe que o Brasil é um país soberano e que mantém relações políticas e comerciais com quem lhe convier. Há chance de redução das tarifas, mas não há definição sobre data. Como a negociação já está em curso, um desfecho pode ocorrer a qualquer momento, desde que os negociadores dos dois países alcancem consenso sobre cada lista do que é desejável e possível negociar. A possibilidade existe, mas vai exigir trabalho árduo e pragmatismo de ambos os lados. O encontro funciona como ponto de partida de uma rodada mais efetiva de propostas entre os dois países. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.