29/Oct/2025
Segundo o boletim trimestral Crédito Rural em Jornada de Sustentabilidade, divulgado pela consultoria Agroicone, o crédito rural com potencial de promover ganhos de sustentabilidade na agropecuária totalizou R$ 19 bilhões no primeiro trimestre do Plano Safra 2025/2026, cerca de R$ 5 bilhões a menos que o registrado no mesmo período da safra anterior. Pela primeira vez desde o lançamento do estudo, a proporção desse tipo de financiamento recuou, passando de 22,8% no primeiro trimestre da safra 2024/2025 para 22,6% no mesmo período deste ciclo. O impacto mais severo atingiu os recursos para investimento destinados a médios e grandes produtores, que caíram pela metade, de R$ 7,2 bilhões para R$ 3,6 bilhões. No Pronaf, em contrapartida, houve leve crescimento de 1,8%, de R$ 1,58 bilhão para R$ 1,61 bilhão.
A diferença reflete a manutenção das taxas de juros para a agricultura familiar, enquanto médios e grandes enfrentaram aumento nos custos de financiamento. Este movimento sinaliza que as intervenções com objetivos sustentáveis tiveram menos espaço no crédito rural, acendendo um alerta quanto à trajetória do financiamento climático da agropecuária. A queda geral no crédito vem sendo atribuída ao cenário de alta taxa de juros, ao endividamento dos tomadores e ao aumento dos custos de transação, com mais exigências de garantia real por parte do setor financeiro. Dados do Sicor/BCB demonstram que a retração se deu de forma diferenciada entre os produtores. Considerando apenas custeio e investimento, no Pronaf a queda foi de 3,2% no primeiro trimestre entre as duas safras, enquanto no restante do crédito o decréscimo chegou a 25,6%. Os recursos para investimento foram os mais afetados, com queda de 39,7% entre os trimestres, passando de R$ 8,8 bilhões para R$ 5,3 bilhões.
O custeio enquadrado recuou 14,2%. O levantamento identificou ainda queda de 80% no valor contratado do produto Correção Intensiva de Solos, que passou de R$ 7,5 bilhões no primeiro trimestre de 2024/2025 para R$ 1,5 bilhão no mesmo período deste ano. O RenovAgro Plantio Direto assumiu a liderança entre os subprogramas mais contratados, com R$ 426,2 milhões, substituindo o RenovAgro Manejo de Solos, que liderou nos dois últimos trimestres. Os resultados sugerem a redução na incorporação de práticas conservacionistas de uso, manejo e proteção dos recursos naturais, bem como correção da acidez e da fertilidade do solo. Em termos de atividade, a maior queda relativa do recurso enquadrado se deu na pecuária, com recuo de 27,2%, enquanto na agricultura a redução foi de 24,2%. O RenovAgro consolidou o período com R$ 1,3 bilhão em contratação, cerca de 62% do recurso entre os programas com finalidade sustentável. O RenovAgro Recuperação/Conversão ficou em segundo lugar, com R$ 350,5 milhões.
Desta forma, menos recursos foram direcionados no início da atual safra para a adaptação dos sistemas produtivos, sugerindo um ritmo mais lento na transição para uma agropecuária resiliente e de baixa emissão de carbono. O panorama da sustentabilidade no crédito rural no início da safra 2025/2026 se mostra preocupante e o aumento do custo do capital decorrente de uma taxa básica de juros elevada se mostra prejudicial para a transição dos sistemas produtivos. O primeiro trimestre do Plano Safra 2025/2026 encerrou com cerca de R$ 85 bilhões contratados nas finalidades custeio e investimento, excluindo as Cédulas de Produto Rural. O valor representa queda de R$ 24,6 bilhões, ou 22,5%, em relação ao primeiro trimestre da safra anterior. Do total do recurso alinhado à sustentabilidade, R$ 13,8 bilhões referem-se ao custeio e R$ 5,3 bilhões ao investimento, enquanto R$ 17,4 bilhões se destinaram à atividade agrícola e R$ 1,6 bilhão à pecuária.
Considerando os produtos para os quais os recursos foram contratados com alinhamento à sustentabilidade, a maior parte do crédito foi alocada em Produtos Associados, que totalizaram R$ 15,3 bilhões, ou 80,5%, seguidos dos produtos na categoria Melhoramento de Solos, com R$ 2,4 bilhões, ou 12,6%. Na finalidade investimento, os produtos mais contratados foram Correção Intensiva do Solo, com R$ 1,5 bilhão, Máquinas e Implementos, com R$ 662,1 milhões, e Pastagem, com R$ 596,4 milhões. No custeio, foram soja, com R$ 5,4 bilhões, café, com R$ 2,2 bilhões, e milho, com R$ 2,2 bilhões. Entre os Estados, o Rio Grande do Sul liderou com R$ 5,1 bilhões, seguido por Minas Gerais (R$ 2,5 bilhões), Paraná (R$ 2,2 bilhões), Espírito Santo (R$ 1,3 bilhões) e São Paulo (R$ 1,3 bilhões). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.