30/Oct/2025
Na região central do Rio Grande do Sul, produtores de arroz, trigo, soja, milho e gado investem em ferramentas para tentar amenizar os efeitos das mudanças no clima, ora chuvas em excesso, ora seca. Os produtores fazem o cultivo do arroz por inundação para não depender das chuvas. O produtor Arno Lausch afirmou ter investido em um sistema de bombas (com licenciamento ambiental) para retirar 5 mil litros por segundo do Rio Ibicuí. Tem muita tecnologia instalada na fazenda, pois há 40 anos a família trabalha nessas terras. A família planta 1,2 mil hectares em Santiago (RS). Para reduzir em 40% o custo do preparo do solo e dos tratos culturais, usa um veículo aéreo não tripulado para captar 12 milhões de imagens das lavouras. Com uma precisão de 12 centímetros quadrados, os dados são inseridos no trator com piloto automático, que produz os contornos das taipas (espécies de canteiros ou terraços) para irrigar e aplicar insumos exatamente como o solo precisa.
Assim como os descendentes de alemães Lausch, os vizinhos não escapam das adversidades climáticas, mesmo com inovações e capricho no manejo. Depois de quatro anos de secas seguidas e de duas grandes enchentes, muitos acumulam dívidas com juros que não conseguem pagar. No início de setembro, o governo federal liberou R$ 12 bilhões para produtores e cooperativas com perdas de duas ou mais safras entre julho de 2020 e junho de 2025. Mas, segundo os produtores, o crédito é insuficiente e o prazo de pagamento, de três a quatro anos, é muito curto. Eles defendem uma securitização com juros subsidiados e prazos de pelo menos 10 anos. O agropecuarista Alexandre Foster, da Associação dos Produtores de Soja e Milho no Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), está entre os que sofreram grandes perdas e lutam para manter suas propriedades produzindo de forma sustentável.
“Não existe improviso, é tudo analisado e calculado, mas o que resiste a 600 milímetros de chuva de uma vez?”, questiona. Com produção diversificada e conhecimento acumulado pela família em seis décadas no campo, Foster faz a integração lavoura-pecuária (IPL) com a criação de gado da raça angus em 800 hectares na Fazenda Redenção, em Itaqui. Com a colheita da soja, ele semeia aveia e azevém para recuperar o solo, e fornece a salada-mista (mistura de plantas para alimentação animal) para o gado durante o inverno. Todos os piquetes têm água à vontade e a sombra de eucaliptos para os animais, incluindo um plantel de 300 ovelhas. Os ciclos de produção agrícola e pecuária são planejados, inclusive o cio das vacas, que são inseminadas com o sistema IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo). A técnica sincroniza a ovulação das fêmeas, padronizando a produção de bezerros.
Além disso, o gado não pisoteia o solo, protegido por uma espécie de almofada verde de plantas alimentares. E o esterco contribui para enriquecer o chão. Só que o clima dos últimos quatro anos não respeitou o planejamento do produtor. “A seca foi tão severa que secou centenas de eucaliptos. Nem o solo bem tratado conseguiu minimizar os efeitos. Depois vieram as chuvas intensas como nunca se viu. O pasto virou um lodo. A erosão levou embora as melhores camadas do solo. Até a cabeceira de um açude rodou e o produtor perdeu centenas de eucaliptos. “Vamos levar 10 anos para voltar ao que era, a um custo imenso”, desabafa. Depois de três safras ruins na fronteira com a Argentina, o produtor Valtair Domingos Coró mudou o plantio de grãos para a Fazenda Limoeiro, em Itaqui, em parceria com o empresário Celso Rigo, da Pirahy Alimentos, detentora da marca de arroz Prato Fino.
Ali, as áreas têm cobertura verde, com nabo forrageiro, que areja o solo e fixa nitrogênio, em consórcio com o trigo e o arroz. Mas, o manejo cuidadoso não evitou as perdas. Em junho deste ano, vieram as chuvas, alagaram as lavouras de trigo e liquidaram as terras. Foi preciso replantar quase tudo. O produtor diz que o seguro não cobriu os alagamentos, mas não é o momento de desistir. “Temos 45 funcionários, eles não têm culpa do nosso problema. A questão maior é o custo: quando preparamos o plantio, a soja estava a R$ 200,00 por saca de 60 Kg. Hoje, está a R$ 123,00 por saca de 60 Kg. Uma máquina comprada por R$ 1,3 milhão, terá que ser adquirida agora pagando R$ 4 milhões. Na Fazenda Santa Rosa, propriedade vizinha, Charles Leslie Wright Junior, 73 anos, e o filho Charles Ferrugem Wright, de 35, descendentes de ingleses que vêm produzindo na região há mais de 50 anos, também contabilizam perdas.
Eles produzem soja, milho, trigo e criam gado braford. Para enfrentar as estiagens, instalaram um conjunto de quatro pivôs centrais, bombas e rede elétrica no campo. Mas, a seca de 2024 foi tão intensa, que o lago secou e, mesmo tendo irrigação em 400 hectares, a safra foi perdida. Na enchente, os trigais estavam bem formados, em áreas que tinham recebido 200 Kg de adubo por hectare e duas aplicações de ureia. Muitas áreas tiveram de ser replantadas e, em outras, parte do solo foi embora. Charles, o pai, reflete sobre o futuro da produção. “Se a gente não planta para ter retorno, por que plantar? Do trigo, muitas vezes a gente só ganha a palhada para o solo. Esta lavoura foi toda replantada a um custo que não estava previsto. Isso desmotiva as gerações novas, e os mais velhos também.” Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.