31/Oct/2025
A guerra tarifária deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em conjunto com turbulências políticas e fiscais em locais como Reino Unido, França e Japão, virou o mercado global de moedas ao avesso em 2025. Contrariando a tendência histórica, divisas de países desenvolvidos, vistas como mais estáveis e seguras, apresentaram ao longo do ano oscilações maiores que as exibidas pelas moedas emergentes. Levantamento do Banco Pine mostra que a volatilidade implícita anualizada de um grupo de sete moedas de países desenvolvidos (iene, euro, libra, franco suíço, dólar australiano, dólar canadense e dólar neozelandês) supera, neste ano, à de uma cesta formada pelas divisas emergentes mais líquidas (Real, yuan, won sul-coreano, peso mexicano, rand sul-africano, lira turca, rupia indiana, dólar de Cingapura e florim húngaro). As medidas de volatilidade consideram sempre o dólar norte-americano como referência. Medida de risco relevante, a volatilidade implícita representa a estimativa de oscilação do preço de um ativo no futuro.
No caso do câmbio, é calculada com base nos contratos de opções. Historicamente, as moedas desenvolvidas apresentam volatilidade inferior à de emergentes. A inversão de papéis neste ano mostra uma maior percepção de risco associada aos países desenvolvidos. Em 2022, por exemplo, a volatilidade implícita anualizada das moedas do grupo G7 era de cerca de 8%, bem abaixo da exibida pela cesta de emergentes, de cerca de 12%. Em certas ocasiões, entre 2022 e 2024, as divisas emergentes até apresentaram em momentos pontuais volatilidade inferior. Mas, uma inversão consistente e prolongada aparece apenas em 2025. Essa inversão na volatilidade reflete dois movimentos complementares. De um lado, a incerteza crescente nos mercados desenvolvidos. De outro, os fundamentos mais sólidos e o melhor posicionamento macro dos emergentes. A política econômica do presidente Donald Trump, com destaque para a guerra comercial, promoveu ao mesmo tempo enfraquecimento da moeda norte-americana e aumento da volatilidade do mercado global.
Além disso, países europeus como Reino Unido, França e Japão se viram às voltas com turbulências políticas e aumento das preocupações com as contas públicas. Este mês, houve estresse no mercado global de dívida com a ascensão da ultraconservadora Sanae Takaichi ao cargo de primeira-ministra do Japão, com uma proposta de política fiscal expansionista para estimular a economia e aumento de gastos militares. Já havia problemas provocados pela gestão Trump e a preocupação com o gasto fiscal na Europa. Agora, tem a primeira-ministra no Japão com perfil mais alinhado à expansão fiscal, enquanto o Banco Central do país sinaliza aperto monetário. Na reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) neste mês prevaleceu a percepção de que a incerteza "emana hoje dos países desenvolvidos", ao passo que emergentes experimentam um ciclo e maior robustez macroeconômica, com contas externas mais equilibradas e inflação relativamente mais baixa do que em ciclos anteriores. O Real, o peso mexicano e a rupia indiana mostram uma notável estabilidade, sustentada por carry trade elevado e termos de trocas favoráveis.
Esse conjunto de fatores reduziu a volatilidade implícita e reforçou a atratividade das moedas emergentes. Analistas afirmam que o amplo diferencial de juros interno e externo elevado encarece o carregamento de posições em dólar e tende a amenizar eventuais pressões sobre o Real com o aumento sazonal de remessas ao exterior. O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) promoveu nesta semana redução da taxa básica norte-americana em 25 pontos-base, para a faixa de 3,75% e 4%. O Banco Central brasileiro acena com manutenção da taxa Selic em 15% pelo menos até janeiro. O Travelex Bank destaca que o Real "é o campeão mundial" entre as principais divisas quando se observa o carry ponderado pela volatilidade, ou seja, apresenta a melhor relação entre risco e retorno. O carry é muito elevado. A tendência é positiva para divisas emergentes, e o Real pode continuar se valorizando. Isso pode ser visto por um índice de atratividade da moeda. Quanto mais elevado ele for, melhor é o carrego ponderado pela volatilidade.
No fim do ano passado, a chamada relação "carry/vol" do Real estava em cerca de 0,40, similar à do peso colombiano, mas bem abaixo da exibida pelo peso mexicano, que superava 0,60. A partir daí, com as altas seguidas da taxa Selic, que atingiu 15% em julho, houve um descolamento da moeda brasileira, que passou a apresentar uma relação "carry/vol" bem superior à de seus pares latino-americanos e a de moedas emergentes do leste europeu, como o zloty polonês e o florim húngaro. O Real exibe hoje uma ponderação carry/vol de quase 0,90, enquanto a do peso mexicano gira em torno de 0,60 e a do peso colombiano está abaixo de 0,40. Além da guerra tarifária de Trump e de problemas políticos e fiscais específicos de alguns países, o aumento da volatilidade dessas moedas reflete em parte o maior uso de robôs e de estratégias quantitativas em operações, o que amplifica os movimentos tanto de alta quanto de baixa dos ativos globais. Essa tendência de volatilidade maior das moedas de países desenvolvidos deve continuar no ano que vem, mas com menos intensidade caso haja um acordo comercial entre Estados Unidos e China. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.